THE NEW YORK TIMES - A Organização das Nações Unidas ofereceu detalhes devastadores dos efeitos globais da guerra na Ucrânia, uma “crise tridimensional” derrubando o fluxo de alimentos, energia e dinheiro em todo o mundo.
“Estamos agora diante de uma tempestade perfeita que ameaça devastar as economias de muitos países em desenvolvimento”, disse António Guterres, secretário-geral da organização.
Em seu primeiro relatório oficial sobre o impacto da guerra, a ONU disse que o conflito na Ucrânia está tendo “efeitos em cascata alarmantes” em uma economia global já “atingida” pela pandemia e pelas mudanças climáticas.
O relatório disse que até 1,7 bilhão de pessoas – um terço das quais já vivem na pobreza – agora enfrentam interrupções em alimentos, energia e finanças. Com os preços da energia subindo até 50% para o gás natural nos últimos meses, e com a inflação crescendo e o desenvolvimento estagnado, muitos países correm o risco de deixar de pagar suas dívidas, de acordo com o relatório.
“Estes são países onde as pessoas lutam para pagar dietas saudáveis, onde as importações são essenciais para satisfazer as necessidades alimentares e energéticas de suas populações, onde o fardo da dívida e a escassez de recursos limitam a capacidade do governo de lidar com os caprichos das condições financeiras globais”, disse o relatório.
Segundo o documento, 107 países tiveram exposição severa a pelo menos uma das três dimensões da crise, e que dessas nações, 69 tiveram exposição severa a todas as três dimensões.
A Ucrânia e a Rússia fornecem cerca de 30% do trigo e da cevada do mundo, de acordo com o relatório.
A guerra elevou os preços das commodities a números recordes - com os preços dos alimentos 34% mais altos do que no ano passado, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, e os preços do petróleo subiram cerca de 60%.
“Populações vulneráveis em países em desenvolvimento estão particularmente expostas a essas oscilações de preços”, disse o relatório, acrescentando que “o aumento dos preços dos alimentos ameaça os efeitos indiretos da agitação social”.
Mas o relatório pontua que uma ação rápida, aliada à vontade política e aos recursos existentes, poderia suavizar o impacto – recomendando que os países não estoquem alimentos e ofereçam ajuda aos pequenos agricultores, mantenham os custos de frete estáveis e derrubem as restrições às exportações, entre outras sugestões.
O relatório pediu aos governos que disponibilizem reservas estratégicas de combustíveis para o mercado global e reduzam o uso de trigo como combustível.
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