Negociação entre Rússia e Ucrânia trava; Moscou fala em ocupar cidades

As negociações tiveram uma ‘pausa técnica’ e serão retomadas na terça; enquanto isso, disparos russos atingiram várias cidades ucranianas

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Por Redação
Atualização:

KIEV - A quarta rodada de negociações entre Rússia e da Ucrânia terminaram novamente sem avanço nesta segunda-feira, 14, com um negociador ucraniano dizendo ter ocorrido uma “pausa técnica” prevista para durar até terça. Ao mesmo tempo, várias pessoas morreram em novos bombardeios russos a cidades ucranianas. No 19º dia de conflito, a Rússia avança rumo a Kiev e fala em “controle total” de cidades.

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Mikhailo Podoliak, um dos conselheiros do presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, que integra a delegação de negociadores, afirmou na tarde desta segunda (manhã em Brasília) que as negociações tiveram uma “pausa técnica para trabalho adicional nos subgrupos de trabalho e esclarecimento de definições individuais. As negociações continuam”, disse.

Antes da rodada de negociações realizada por videoconferência, autoridades ucranianas comentaram sobre sinais de progresso, com um membro da delegação de Kiev dizendo no fim de semana que a Rússia era “muito mais sensível à posição da Ucrânia” e que “alguns resultados concretos” poderiam ser alcançados em poucos dias.

Autoridades ucranianas querem uma trégua imediata e a retirada das tropas russas. Rodadas anteriores de negociações tiveram objetivos semelhantes, mas acabaram se concentrando principalmente em questões humanitárias e acordos de cessar-fogo para abastecer vilas e cidades sitiadas pelas forças russas falharam com frequência.

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Em um sinal de que a posição da Rússia não estava abrandando, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, insistiu nesta segunda que o esforço de guerra estava sendo bem-sucedido e que “todos os planos estabelecidos pela liderança russa serão realizados integralmente, dentro do prazo aprovado”.

Antes das negociações, alertas de ataques aéreos soaram em cidades e vilarejos de todo o país durante a noite, de perto da fronteira russa, no leste, até os Cárpatos, no oeste, e os combates continuaram nos arredores de Kiev. Autoridades ucranianas disseram que as forças do presidente russo, Vladimir Putin, bombardearam vários subúrbios da capital.

Novos bombardeios a Kiev

Nos últimos dias a Rússia intensificou seus ataques, lançando uma enxurrada de ataques em Kiev, um dia depois de atingir uma base militar no oeste da Ucrânia, a 18 quilômetros da Polônia, um país onde as tropas da Otan estão posicionadas na fronteira.

De acordo com as autoridades ucranianas, duas pessoas morreram em disparos que tiveram como alvos a fábrica de aviões Antonov -- a maior da Ucrânia, conhecida principalmente por produzir muitos dos maiores aviões cargueiros do país -- e um edifício residencial ao norte da capital.

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Prédio residencial foi destruído em ataque russo na capita ucraniana, Kiev Foto: State Emergency Service of Ukraine/Reuters

Inicialmente, o governo local de Kiev informou que duas pessoas morreram no bombardeio à fábrica da Antonov, que foi seguido de um grande incêndio. Posteriormente, a informação foi retificada e apenas uma morte foi contabilizada. No ataque ao edifício residencial, pelo menos uma pessoa morreu e outras 12 ficaram feridas, segundo equipes de resgate.

As equipes de resgate acrescentaram que o prédio fica no distrito de Obolon, no norte da capital ucraniana, e que o fogo foi controlado pelos bombeiros depois de ter sido alvo de “um tiro de artilharia” durante a madrugada.

Segundo o conselheiro do Ministério de Assuntos Internos, Anton Gerashchenko, três feridos foram hospitalizados e nove foram tratados no local.

“Fragmentos de mísseis caíram na rodovia no distrito de Kurenivka, o que provocou uma morte e deixou seis feridos”, afirmou a prefeitura sobre o ataque à fábrica. Em 27 de fevereiro, o exército russo destruiu o único exemplar do avião An-225 “Mriya”, o maior do mundo fabricado pela Antonov, durante os combates na base de Gostomel, perto de Kiev.

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A Rússia nega atacar civis, descrevendo suas ações como uma “operação especial” para desmilitarizar e “desnazificar” a Ucrânia. A Ucrânia e os aliados ocidentais chamam isso de pretexto infundado para uma guerra escolhida.

Rússia fala em ‘controle total’

Apesar do otimismo dos negociadores ucranianos com a nova rodada de conversas, a Rússia disse não ter descartado a tomada de controle total das principais cidades da Ucrânia, cujas forças já cercam vários centros urbanos, advertiu o Kremlin. Mas o país nega que a intenção seja ocupar todo a Ucrânia.

“O ministério da Defesa, para garantir a máxima segurança da população civil, não descarta a possibilidade de tomar o controle total das principais cidades que já estão cercadas”, disse o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov, antes de afirmar que até o momento o presidente Vladimir Putin não ordenou um ataque deste tipo. Segundo ele, neste caso, seriam preservados os corredores humanitários.

Idosa é resgatada de prédio residencial bombardeado em Kiev Foto: Ukrainian State Emergency Service via AP

As forças armadas da Rússia são maiores e mais bem equipadas que as da Ucrânia, mas suas tropas enfrentaram uma resistência mais dura do que o esperado, reforçadas por armas fornecidas pelo Ocidente. Os EUA disseram que a Rússia pediu à China equipamento militar para usar na Ucrânia – uma alegação que o Kremlin negou.

Enquanto isso, ataques aéreos foram relatados em todo o país, incluindo na cidade de Mikolaiv, no sul, e a cidade de Chernihiv, no norte, onde o calor foi sentido na maior parte da cidade. Explosões também reverberaram durante a noite em torno do porto de Kherson, no Mar Negro, ocupado pelos russos.

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Na cidade oriental de Kharkiv, os bombeiros apagaram os restos fumegantes de um prédio residencial de quatro andares. Não ficou claro se houve vítimas.

Na cidade de Mariupol, no sul, onde a guerra produziu alguns dos maiores sofrimentos, o conselho da cidade não disse quantas pessoas estavam no comboio de carros que se dirigia para o oeste em direção à cidade de Zaporizhzhia. Mas disse que um cessar-fogo ao longo da rota parecia estar se mantendo.

Tentativas anteriores de evacuar civis e entregar ajuda humanitária à cidade de 430.000 habitantes foram frustradas pela continuação dos combates.

Uma mulher grávida que se tornou um símbolo do sofrimento da Ucrânia quando foi fotografada sendo carregada de uma maternidade bombardeada em Mariupol na semana passada morreu junto com seu bebê, apurou nesta segunda a agência Associated Press.

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Por outro lado, militares russos disseram que 20 civis na cidade de Donetsk, controlada pelos separatistas, no leste da Ucrânia, foram mortos por um míssil balístico lançado por forças ucranianas. A alegação não pôde ser verificada de forma independente.

A ONU registrou a morte de pelo menos 636 civis ucranianos, incluindo 46 crianças, embora acredite que o número real seja muito maior. Milhões de outros fugiram de suas casas, com mais de 2,8 milhões cruzando para a Polônia e outros países vizinhos no que a ONU chamou de maior crise de refugiados da Europa desde a Segunda Guerra Mundial./ NYT, AFP, AP e REUTERS.