Guerra na Ucrânia: um ano depois, veja os principais momentos dos 365 dias do conflito

Invasão russa iniciada em 24 de fevereiro deflagrou o maior conflito da Europa desde a 2ª Guerra e causou consequências em todo o mundo

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Por Luiz Henrique Gomes
Atualização:

Há 365 dias, tropas russas invadiam a Ucrânia e iniciavam o maior conflito da Europa desde a 2ª Guerra. Dezenas de milhares de pessoas foram mortas, milhões de ucranianos fugiram e o país sofreu dezenas de bilhões de dólares em danos. O que inicialmente parecia ser um conflito rápido – e, antes de ser iniciado, um conflito improvável – se tornou uma guerra longa, sangrenta e com consequências para todo o mundo.

Em toda a Ucrânia, maternidades, estações de trem, prédios residenciais e diversas infraestruturas civis do país foram destruídas. Corpos de civis foram encontrados em valas comuns, a Rússia e a Ucrânia se acusaram de crimes de guerra, o Ocidente foi arrastado para o conflito. O mundo passou a conviver com uma ameaça nuclear sem precedentes desde a Guerra Fria.

Mulher reage em frente a uma casa em chamas depois de ser bombardeada na cidade de Irpin, nos arredores de Kiev Foto: Aris Messinis/AFP

Neste período, a guerra teve consequências econômicas, migratórias, territoriais e pôs milhares de vidas em ameaça. Seus acontecimentos foram registrados em imagens, gráficos, mapas e em textos. Alguns deles definiram o seu rumo, ora em favor da Ucrânia, ora em favor da Rússia. Abaixo, veja alguns destes momentos e a saiba como eles ajudaram a determinar que a guerra tenha chegado aos 365 dias:

24 de fevereiro: Rússia ataca Ucrânia por terra, ar e mar para tomar a Ucrânia

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No dia 24 de fevereiro, Moscou enviou as tropas militares à Kiev, Mariupol e Odessa em uma invasão-relâmpago e iniciou o maior conflito na Europa desde a 2ª Guerra. Havia dias que soldados russos estavam nas regiões ucranianas separatistas de Donetsk e Luhansk, no leste, onde rebeldes pró-russos estão em conflito com tropas ucranianas desde 2014, quando a Crimeia foi anexada à Rússia, mas a ofensiva em três frentes definiu o início da guerra.

Acreditava-se inicialmente que o ataque russo venceria as tropas ucranianas em pouco tempo. A Rússia interrompeu rotas de escoamento de trigo e cevada, atacou a antiga usina nuclear de Chernobyl e a zona portuária de Odessa, no Sul. Em resposta, no dia 26 de fevereiro, os Estados Unidos e outras nações da Otan disseram ao presidente Volodmir Zelenski para deixar o país. Zelenski recusou e decidiu resistir, pressionando o Ocidente a apoiá-lo e encorajando as tropas ucranianas.

Milhares de ucranianos começaram a sair do país depois do ataque. 300 dias depois, o Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) estima que 7,8 milhões de ucranianos estão refugiados em algum país da Europa devido à guerra. O preço do gás e do petróleo aumentou e com o bloqueio do escoamento de grãos ucranianos os alimentos também tiveram aumentaram de preço, causando um impacto mundial.

10 de março: Negociações entre Ucrânia e Rússia fracassam e prenunciam uma guerra longa

O início da guerra foi marcado por tentativas de diálogo entre autoridades ucranianas e russas, com intermédio do Ocidente, para se chegar a um acordo e interromper o conflito. Entretanto, os diversos diálogos fracassaram. Em 10 de março, a Rússia tinha o controle de Kherson, cidade-chave no sul da Ucrânia, e bombardeava diversas outras regiões; a Otan havia recusado criar uma zona de exclusão aérea no território ucraniano, que poderia ampliar a guerra; a Ucrânia se dizia disposta a abandonar os planos de entrar para a aliança militar ocidental (motivo alegado pela Rússia para invadir o país). O contexto da guerra era mais favorável à Rússia, mas a Ucrânia não aceitou as condições do Kremlim e o fracasso das negociações prenunciou que a guerra – ao contrário do que se esperava – seria longa.

Esta fase também foi marcada pelo aumento da censura da Rússia contra dissidentes e opositores da guerra. As redes sociais do Ocidente foram proibidas no país; jornais foram fechados e jornalistas foram presos. A estratégia de Moscou passou a ser, internamente, afastar os russos dos acontecimentos da guerra para torná-los indiferentes.

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Imagem de 29 de março de 2022 mostra presidente turco Recep Tayyip Erdogan abrindo os diálogos entre Ucrânia e Rússia em Istambul Foto: Murat Cetin Muhurdar/AFP

25 de março: Rússia muda o foco da guerra e passa a priorizar ataques no leste ucraniano

A resistência de Kiev após um mês de guerra e o apoio conquistado no Ocidente, que passou a enviar armas para as forças ucranianas e a aplicar sanções contra a Rússia, forçou o Kremlin a mudar a estratégia. O foco deixou de ser a capital ucraniana e passou a ser o leste da Ucrânia, onde os conflitos entre forças pró-russas e o exército ucraniano já estavam em curso desde a anexação da Crimeia. Isso tornou a guerra mais lenta e deu mais tempo ao Ocidente para enviar armas sofisticadas à Ucrânia, cruciais para resistirem às ofensivas russas.

Com a saída dos russos dos arredores de Kiev, diversos vilarejos ucranianos foram libertados e reocupados pelas autoridades do país. No dia 3 de abril, o governo de Volodmir Zelenski revelou que 410 corpos de civis haviam sido encontrados na cidade de Bucha, após o recuo da Rússia. Foi a primeira vez que a Ucrânia falou em crimes de guerra cometidos pela Rússia no conflito. Esse fato aumentou ainda mais a pressão da Ucrânia sobre o Ocidente para receber ajuda militar e punir Moscou.

Veículos blindados com a letra "Z" pintada, perto da vila de Bugas, controlada pelos separatistas pró-Rússia, durante o conflito Ucrânia-Rússia na região de Donetsk Foto: Alexander Ermochenko/Reuters

Com o apoio crescente do Ocidente e a revelação de crimes contra civis, a Finlândia e a Suécia, vizinhas da Rússia, anunciaram nos dias 12 e 13 de maio a intenção de fazer parte da Otan. O anúncio foi motivado pelo temor das tropas russas avançarem sobre os dois países no futuro e contrariou um dos planos de Moscou ao atacar a Ucrânia, de afastar o Leste Europeu da Otan. Dias depois, no dia 21 de maio, a Rússia respondeu interrompendo o fornecimento de gás para os dois países. Antes, o Kremlin havia interrompido o fornecimento para a Bulgária e a Polônia. Com a Europa dependente do gás russo, o combustível se transformou em uma arma de guerra.

13 de julho: Rússia diz a Europa que não garante fornecimento de gás

Após interromper o fornecimento de gás para os países mais próximos de sua fronteira, a Rússia diz à União Europeia que não pode garantir o funcionamento do maior gasoduto da região, o Nord Stream, responsável por abastecer países como a Alemanha, a maior economia da Europa. A declaração elevou as preocupações dos europeus em garantir gás para o inverno do Hemisfério Norte e a pensar soluções para os preços altos do combustível. No dia 31 de agosto, a Rússia fechou o gasoduto Nord Stream alegando manutenção.

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29 de agosto e 21 de setembro: Ucrânia inicia contraofensiva e Rússia convoca soldados

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A medida em que os avanços russos aconteceram no leste ucraniano, a Ucrânia continuou a receber armas ocidentais e sofisticadas e a treinar seus soldados para utilizá-las, superando uma dificuldade inicial da guerra. A Ucrânia passou a se preparar para uma contraofensiva para recuperar território antes do inverno no Hemisfério Norte ao perceber o avanço lento dos russos.

Após um mês, a contraofensiva resultou em recuperação de parte dos territórios do leste e do sul da Ucrânia. Em resposta, o presidente Vladimir Putin convocou 300 mil soldados reservistas em 21 de setembro e iniciou uma crise interna. Milhares de russos protestaram e fugiram do país para não irem à guerra. Filas quilométricas de carros foram registradas nas estradas por imagens de satélite. Foi a primeira vez em meses de guerra que alguma decisão de Putin afetou o cotidiano da Rússia. Até então, a estratégia do Kremlin era afastar os russos da guerra.

Presidente russo Vladimir Putin durante o anúncio de anexação das regiões da Ucrânia na Praça Vermelha, em Moscou Foto: Alexander Nemenov/AFP

Neste mesmo período, no dia 20 de agosto, a filha de Alexander Dugin, um dos maiores ideólogos de Vladimir Putin, Daria Dugina, foi assassinada na Rússia em um atentado. O carro que ela estava explodiu na saída de um evento. A Rússia acusou a Ucrânia de ter promovido o assassinato e disse que o alvo correto seria Dugin. A morte de Daria Dugina levou Alexander Dugin e outros nomes aliados de Putin a pedir vingança. Cinco dias depois do assassinato, no dia 25 de agosto, Vladimir Putin assinou o decreto que aumentou as forças armadas russas.

30 de setembro: Putin anexa quatro regiões da Ucrânia e ameaça nuclear cresce

A Rússia oficializou a anexação de quatro regiões da Ucrânia, equivalente a 15% do território, em meio aos sucessos da contraofensiva ucraniana. As regiões de Luhansk, Donetsk, Zaporizhzhia e Kherson, todas sob domínio russo, passaram a ser consideradas russas após a realização de referendos não-reconhecidos internacionalmente. Em paralelo, autoridades russas foram enviadas aos locais e uma série de medidas – como trocas de sinais de telefonia – foram implementadas para os locais serem incluídos na Rússia.

A decisão foi vista pelas autoridades ucranianas e pelo Ocidente como uma maneira da Rússia aumentar as ameaças nucleares, com a justificativa de que poderia utilizar o arsenal no próprio território, em um momento em que a Ucrânia conseguia reconquistar áreas. Em um discurso no dia 21 de setembro, data em que convocou soldados, Putin disse que responderia os ataques que ameaçassem “a integridade do território” com “todos os meios disponíveis”.

Vladimir Putin e os líderes separatistas das regiões anexadas por Moscou, Denis Pushilin, Leonid Pasechnik, Vladimir Saldo, Ieugeni Balitski. Foto: Dmitry Astakhov/ Sputnik via Reuters - 30/09/2022

As decisões aumentaram as tensões de uma guerra nuclear, a medida que um conflito entre russos e ucranianos em torno da usina de Zaporizhzhia, a maior usina nuclear da Europa, passou a preocupar ainda mais as autoridades. Os russos foram acusados de usar a estrutura da usina, sob domínio deles, como um escudo para atacar os ucranianos, já que um revide seria arriscado para a região.

No dia 6 de outubro, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, declarou que o mundo nunca esteve tão próximo de um “armageddon nuclear” desde a crise dos mísseis entre EUA e Cuba na Guerra Fria.

12 de novembro: Ucrânia reconquista Kherson, no sul do país, após meses de reveses na guerra

A contraofensiva da Ucrânia iniciada no fim de agosto resultou na recuperação de diversas áreas do país. A mais significativa aconteceu em Kherson, no Sul. Sob domínio russo desde o dia 3 de março, a província possibilitava uma ligação terrestre entre a Rússia e a península da Crimeia, facilitando a logística de guerra. Mas, no dia 12 de novembro, as tropas russas abandonaram a região devido à chegada das tropas ucranianas. O Kremlin esperava que os ucranianos que permaneciam no local ficassem do lado deles e resistissem aos militares de Kiev, mas os ucranianos foram as ruas para comemorar. A reconquista foi descrita por Volodmir Zelenski como “um dia histórico”.

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As perdas foram – e são – respondidas pela Rússia com o aumento de ataques a infraestrutura civil da Ucrânia, afetando o fornecimento de energia no momento em que o inverno do Hemisfério Norte teve início. Os russos apostam no frio para pressionar a Ucrânia a aceitar as anexações territoriais e outras condições. A Ucrânia afirma que vai continuar com as contraofensivas até recuperar todo o seu território, incluindo a Crimeia, e continua a receber armas ocidentais.

O ritmo de guerra se tornou mais lento, com perdas substanciais de ambos lados e ataques violentos que põem em xeque a vida de civis. Um levantamento das autoridades americanas feito em novembro estima que pelo menos 240 mil soldados, entre russos e ucranianos, já morreram.