Guerra total entre Israel e Hezbollah: entenda o que seria e quais os riscos

Autoridades internacionais tentam acalmar as tensões, e o presidente dos EUA, Joe Biden, disse que ‘uma guerra total não interessa a ninguém’

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Por Associated Press

Autoridades internacionais estão tentando evitar que os confrontos entre Israel e o Hezbollah evoluam para uma guerra total. Joe Biden disse estar trabalhando para isso e que ainda é possível uma solução diplomática ao aumento das tensões. Houve uma rápida escalada nas agressões entre israelenses e o grupo libanês após as explosões de pagers e de walkie-talkies de membros do grupo extremista no Líbano na semana passada.

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Ainda na semana passada, Israel anunciou uma “nova fase da guerra” ao norte do país focada no Hezbollah. No final de semana, o grupo extremista declarou estar em “guerra indefinida” contra os israelenses.

Até o momento, os grupos trocam bombardeios entre o norte de Israel e o sul do Líbano --mas alguns dos ataques atingiram a capital Beirute.

Veja abaixo algumas perguntas e respostas sobre as tensões entre Israel e o Hezbollah:

Funcionário do serviço de emergência israelense observa os escombros de uma casa atingida por um bombardeio do Hezbollah, em Safed, no norte de Israel  Foto: Jalaa Marey/AFP

O que é uma guerra total?

Uma guerra total, ou guerra generalizada, é um conflito armado em que dois adversários, que declaram guerra um contra o outro, mobilizam todos os seus recursos militares e civis em prol de uma vitória completa sobre o outro, o que pode afetar amplamente a sociedade e a economia das partes envolvidas

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Esse tipo de guerra geralmente envolve múltiplos fronts e pode incluir o uso de forças terrestres, aéreas e navais, além de operações cibernéticas e de inteligência.

Por que Israel está atacando o Hezbollah?

Israel diz que está atacando o Hezbollah porque o grupo libanês não permite que os cidadãos israelenses que moram ao norte do país, que faz fronteira com o Líbano, retornem às suas casas. Eles foram deslocados por bombardeios do Hezbollah em território israelense, que duram desde o ano passado.

Com isso, a “nova fase da guerra” anunciada pelo Exército israelense, e nomeada de “Operação Flechas do Norte”, busca fazer com que os combatentes do Hezbollah deixem as regiões ao sul do Líbano.

O Hezbollah prometeu continuar com os ataques contra Israel até que a guerra em Gaza termine.

Serviços de emergência procuram por corpos e sobreviventes após um bombardeio israelense atingir um prédio no subúrbio de Beirute, Líbano  Foto: Hassan Ammar/AP

Israel e Hezbollah estiveram em guerra antes? Quando e quantas vezes?

Sim, uma vez. O conflito mais notável entre eles ocorreu em 2006, no episódio conhecido como Guerra do Líbano. A guerra durou cerca de cinco semanas e resultou em significativas perdas humanas e materiais de ambos os lados.

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O conflito foi desencadeado pelo sequestro de dois soldados israelenses por membros do Hezbollah. Para Israel, o episódio foi uma gota d’água das tensões que se desenrolavam desde 2000 e decidiu lançar um ataque em território libanês, deixando quase 1.200 mortos, majoritariamente civis, e cerca de um milhão de deslocados só dentro do país vizinho.

Para além da Guerra do Líbano, confrontos e escaladas de violência de menor proporção ocorreram em diversos outros momentos.

O bombardeio israelense desta segunda, 23, marcou o dia mais sangrento no Líbano desde a guerra de 2006.

Qual seria o impacto de uma nova guerra total?

O medo é que uma nova guerra possa ser ainda pior do que a de 2006, que foi traumática o suficiente para ambos os lados servirem como dissuasão desde então.

Os combates naquela época mataram centenas de combatentes do Hezbollah e cerca de 1.100 civis libaneses, deixando grandes áreas do sul e até partes de Beirute em ruínas. Mais de 120 soldados israelenses foram mortos e centenas ficaram feridos. O fogo de mísseis do Hezbollah sobre cidades israelenses matou dezenas de civis.

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Carros são danificados após bombardeio israelense em Beirute, Líbano  Foto: Bilal Hussein/AP

Muitos temem que uma guerra total entre Israel e o Hezbollah desestabilize ainda mais o Oriente Médio, já abalado pelos combates em Gaza. Um novo conflito teria o potencial de arrastar outros países na região --grupos armados de outros países poderiam reforçar o Hezbollah-- e até potências mundiais, como os Estados Unidos, aliado de Israel, e o Irã, aliado do Hezbollah.

Israel estima que o Hezbollah agora possua cerca de 150 mil foguetes e mísseis, alguns dos quais são guiados com precisão, colocando todo o país dentro de seu alcance. Israel reforçou suas defesas aéreas, mas não está claro se pode se defender contra as intensas barragens de uma nova guerra.

Israel prometeu que poderia transformar todo o sul do Líbano em uma zona de batalha, afirmando que o Hezbollah tem embutido foguetes, armas e forças ao longo da fronteira. E, na retórica elevada dos últimos meses, políticos israelenses falaram em infligir o mesmo dano no Líbano que o exército causou em Gaza.

As Forças de Defesa de Israel (FDI) intensificaram os bombardeios contra posições do Hezbollah no sul do Líbano  Foto: Hussein Malla/AP

Como e quando começou a atual troca de agressões entre Israel e Hezbollah?

O Hezbollah faz parte do “Eixo da Resistência”, uma aliança de grupos apoiados pelo Irã em todo o Oriente Médio, que também inclui o grupo terrorista palestino Hamas, que desencadeou a guerra contra Israel na Faixa de Gaza ao realizar um ataque terrorista no sul de Israel há quase um ano, em 7 de outubro. O ataque do Hamas deixou cerca de 1.200 israelenses mortos e cerca de 250 foram levados para Gaza como reféns.

Declarando solidariedade ao Hamas, o Hezbollah começou a disparar contra posições israelenses na região fronteiriça em 8 de outubro.

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Israel e Hezbollah têm trocado agressões quase diárias desde então, com o Hezbollah lançando foguetes e drones, e Israel realizando ataques aéreos e de artilharia. Dezenas de milhares de pessoas fugiram de suas casas em ambos os lados da fronteira.

O conflito se intensificou drasticamente na semana passada, quando milhares de dispositivos de comunicação sem fio usados pelo Hezbollah explodiram —em um ataque mortal amplamente atribuído a Israel— e um importante comandante do Hezbollah foi morto em um ataque aéreo israelense em Beirute.

Nesse meio tempo, Israel também matou o chefe do Hezbollah, Fuad Shukr, em um bombardeio em Beirute no final de julho, o que ajudou a elevar as tensões. O grupo extremista libanês havia prometido uma resposta, o que deixou israelenses sob alerta.

Integrantes do Hezbollah participam de um funeral de um membro da milícia xiita libanesa que morreu após as explosões de pagers e walkie-talkies na semana passada  Foto: Bilal Hussein/AP

Quais foram os ataques mais recentes?

Os bombardeios entre Israel e o Hezbollah se intensificaram desde o final da semana passada, após as explosões dos pagers e walkie talkies.

Segundo Israel, o grupo libanês dispara centenas de mísseis por dia contra o território israelense. Em contrapartida, o Exército de Israel bombardeia alvos militares do Hezbollah.

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Os bombardeios israelenses de segunda-feira, 23, mataram mais de 560 pessoas e milhares fugiram do sul do Líbano. Israel afirmou que realiza ataques a locais de armas do Hezbollah e que já atingiu milhares de alvos desse tipo. O ministro da Saúde do Líbano disse que hospitais, centros médicos e ambulâncias foram atingidos.

Antes dos bombardeios, o exército israelense alertou os moradores para deixarem imediatamente áreas onde o Hezbollah estaria armazenando armas. A mídia libanesa afirmou que o alerta de evacuação foi repetido em mensagens de texto.

Libaneses assistem o discurso do chefe do Hezbollah, Hassan Nasrallah, em um café nos subúrbios de Beirute, Líbano  Foto: Hassan Ammar/AP

O Hezbollah disse que havia disparado dezenas de foguetes em direção a Israel, incluindo contra bases militares, e autoridades disseram que uma série de sirenes de ataque aéreo soou no norte de Israel, alertando sobre ataques de foguetes.

Na sexta-feira, um ataque aéreo israelense derrubou um prédio de grande altura nos subúrbios ao sul de Beirute, matando Ibrahim Akil, o comandante da unidade de elite Radwan do Hezbollah, e outros líderes importantes da unidade. Israel afirmou que Akil liderava a campanha do grupo de foguetes, drones e outros ataques ao norte de Israel. Pelo menos 45 pessoas morreram nesse ataque e mais de 60 ficaram feridas.

Esse ataque ocorreu após o choque das explosões de dispositivos eletrônicos, nas quais milhares de pagers e walkie-talkies usados pelo Hezbollah explodiram na terça e quarta-feira. Pelo menos 37 pessoas morreram, incluindo duas crianças, e cerca de 3.000 ficaram feridas. Israel não confirmou nem negou seu envolvimento.

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Analistas afirmam que esse ataque teve pouco efeito na força de trabalho do Hezbollah, mas poderia interromper suas comunicações e forçá-lo a adotar medidas de segurança mais rigorosas.

Sistema de defesa Domo de Ferro intercepta foguetes lançados pelo Hezbollah, em Haifa, no norte de Israel  Foto: Baz Ratner/AP

O que Israel está planejando?

Autoridades israelenses dizem que ainda não tomaram uma decisão oficial de expandir as operações militares contra o Hezbollah — e não declararam publicamente quais poderiam ser essas operações. No entanto, na semana passada, o chefe do Comando Norte de Israel foi citado na mídia local defendendo uma invasão terrestre do Líbano.

Enquanto isso, à medida que os combates em Gaza diminuíram, Israel aumentou suas forças ao longo da fronteira libanesa, incluindo a chegada de uma poderosa divisão do exército que se acredita incluir milhares de tropas.

O Ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, declarou na semana passada o início de uma “nova fase” da guerra, à medida que Israel direciona seu foco para o Hezbollah. “O centro de gravidade está mudando para o norte”, disse ele.

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, participa de uma coletiva de imprensa ao lado do ministro da Defesa, Yoav Gallant, em Tel-Aviv, Israel  Foto: Abir Sultan/AP

Uma trégua mediada pela ONU na guerra de 2006 exigia que o Hezbollah recuasse 29 quilômetros da fronteira, mas o grupo se recusou, acusando Israel de também não cumprir algumas disposições. Israel agora exige que o Hezbollah se retire de oito a 10 quilômetros (cinco a seis milhas) da fronteira — o alcance dos mísseis guiados antitanque do Hezbollah.

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A guerra de 2006, desencadeada quando combatentes do Hezbollah sequestraram dois soldados israelenses, incluiu bombardeios pesados de Israel no sul do Líbano e em Beirute e uma invasão terrestre no sul. A estratégia, disseram os comandantes israelenses mais tarde, era infligir o máximo de danos nas áreas onde o Hezbollah operava para dissuadi-los de lançar ataques.

No entanto, Israel pode ter um objetivo mais ambicioso desta vez: criar uma zona tampão no sul do Líbano para afastar os combatentes do Hezbollah da fronteira. Uma luta para manter o território ameaça uma guerra ainda mais longa, destrutiva e desestabilizadora — lembrando a ocupação de Israel no sul do Líbano de 1982 a 2000.

Qual é a situação na fronteira?

A fronteira entre Israel e Líbano tem visto trocas de ataques quase diárias desde o início da guerra entre Israel e Hamas em 7 de outubro. Antes de segunda-feira, os confrontos haviam matado cerca de 600 pessoas no Líbano — principalmente combatentes, mas também cerca de 100 civis — e cerca de 50 soldados e civis em Israel. Também forçou centenas de milhares de pessoas a evacuarem suas casas perto da fronteira, tanto em Israel quanto no Líbano.

O líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, prometeu retaliar pelas explosões de dispositivos eletrônicos. No entanto, o Hezbollah tem mostrado cautela em intensificar a crise. O grupo enfrenta o desafio de esticar as regras de engajamento ao atingir áreas mais profundas de Israel em resposta aos ataques ousados, enquanto tenta evitar ataques de grande escala a áreas civis que poderiam desencadear uma guerra total pela qual poderia ser responsabilizado.

O Hezbollah afirma que seus ataques contra Israel são em apoio ao Hamas. Na semana passada, Nasrallah disse que os bombardeios não cessarão — e que os israelenses não poderão voltar para suas casas no norte — até que a campanha de Israel em Gaza termine.

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