Uma série de ataques de drone no sábado, 14, que atingiram a maior instalação de processamento de petróleo do mundo, na Arábia Saudita, resultou em explosões e acabou com metade das produções diárias do reino dos próximos dias. Agora, perguntas estão sendo feitas sobre a dimensão dos danos e a maneira como o ataque foi encaminhado.
Entretanto, a pergunta-chave gira em torno do responsável pelos ataques. Os rebeldes Houthi do Iêmen, responsáveis por uma guerra civil contra forças apoiadas pelos sauditas, reivindicaram; na segunda-feira, chegaram a ameaçar ataques adicionais.
Mas oficiais da Arábia Saudita e de países ocidentais têm duvidado da afirmação, defendendo que o ataque não é originário do Iêmen, mas sim do principal apoiador dos Houthis: o Irã.
Nesta segunda, oficiais sauditas acusaram o país rival pelos ataques, afirmando que os armamentos eram iranianos e que não teriam sido lançados do Iêmen, porém sem maiores detalhes.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, escreveu em sua conta no Twitter no fim de semana que o país está “armado e carregado” e aguarda uma confirmação do reino saudita sobre o responsável para decidir como deve proceder com o assunto.
Já o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, escreveu no Twitter que o Irã está por trás do que ele chamou de "um ataque sem precedentes ao suprimento de energia do mundo" e afirmou que "não há evidências de que os ataques vieram do Iêmen".
A relação entre Irã e os Houthis não é simples, e há muito tempo tem sido camuflada por acusações e negações, ampliando os rumores e a propaganda pessoal de todos os lados.
Quem são os Houthis?
Instalados no noroeste do Iêmen, os Houthis ganharam dimensão internacional em 2015, quando participaram da derrubada do presidente do Iêmen e aliado dos EUA, Abed Rabbo Mansour Hadi.
A história do grupo, porém, é datada do início da década de 1990, quando um grupo chamado Shabab al-Muminin (A Juventude que Acredita) começou a trabalhar na conscientização do braço Zaydi do islamismo xiita, que havia dominado o Iêmen durante séculos, mas foi marginalizado após a guerra civil da década de 1960.
Hussein al-Houthi, um dos líderes da Juventude que Acredita, começou a protagonizar protestos anti-americanos depois da invasão liderada pelos EUA no Iraque, em 2003. Quando Houthi foi morto por forças governamentais, também em 2003, seus apoiadores renomearam o grupo com o seu sobrenome e continuaram a transição de protesto religioso para insurgência armada.
Desde 2015, os Houthis participam da guerra civil que tomou conta do Iêmen, em um primeiro momento contra apoiadores de Hadi, que também é apoiado pela coalizão internacional liderada pela Arábia Saudita.
Quais são os vínculos com o Irã?
O apoio iraniano aos Houthis parece ter aumentado ao longo dos anos. Mas, especialistas na rede de aliados do Irã dizem que os Houthis estão entre os menos dependentes do Irã de apoio financeiro e militar, além de tomada de decisões.
Apesar de os Houthis terem começado como um movimento local, e da teologia do braço Zaydi dos xiitas ser significativamente diferente daquela praticada pela República Islâmica do Irã, o grupo faz parte de uma rede extensa de facções armadas do Oriente Médio apoiadas por Teerã.
Um enviado diplomático da Embaixada dos EUA ao Iêmen, em 2009, disse que ao contrário dos argumentos do governo do Iêmen de que o grupo estava sendo armado pelo Irã, “a maioria dos analistas relatam que os Houthis obtêm suas armas do mercado negro do Iêmen”, além do exército do país.
Em 2017, um oficial iraniano disse à agência Reuters que a Guarda Revolucionária Islâmica havia discutido em uma reunião maneiras de “empoderar” os Houthis. “Nesta reunião, eles concordaram em aumentar a ajuda, por meio de treinamentos, armas e apoio financeiro”, disse.
O Irã emitiu comunicados em que negou as acusações de que armou os Houthis, mas cargas de armamentos foram interceptadas no Mar Arábico com rifles, lançadores de foguetes, mísseis guiados antitanque e munições. Há indícios de que os cargamentos estariam em rota do Irã para o Iêmen.
Os Houthis atacaram a Arábia Saudita no passado?
Sim. Desde o início do conflito no Iêmen, os Houthis têm a intenção de punir a Arábia Saudita pelo seu papel proeminente na guerra civil. Assim, atacaram diversas vezes o solo saudita.
No ano passado, oficiais sauditas disseram que interceptaram mais de 100 mísseis balísticos disparados de território Houthi.
Drones armados atacaram estações de petróleo ao oeste de Riyadh em maio e causaram danos, enquanto um ataque no aeroporto de Abha no sul da Arábia Saudita deixou 26 feridos em junho.
Porém, os ataques de sábado, ao acertarem o centro de operações da produção de petróleo saudita, provaram ser muito mais sofisticados do que as ofensivas feitas no passado pelos Houthis.
A precisão dos ataques em Khurais e Abqaiq, a mais de 800 km de distância das zonas controladas pelos Houthis, causaram estrago máximo e provaram o nível de alcance dos armamentos do grupo.
E se os Houthis não fizeram nada?
A natureza elaborada do ataque levou a afirmações de que não seja originário do Iêmen, mas que tenha sido encaminhado por grupos apoiados pelo Irã no Iraque ou no próprio Irã.
Não é claro o motivo dos Houthis terem revindicado a autoria dos ataques. Pode fazer parte de uma estratégia regional do Irã e de seus aliados para confundir, apesar de muitos analistas terem argumentado no passado que os Houthis, movidos por assuntos locais, agem independentes do Irã. / W. POST
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