O prêmio Nobel da Paz é concedido, desde 1901, a homens, mulheres e organizações que trabalharam para o progresso da humanidade, conforme o desejo de se criador, o inventor sueco Alfred Nobel. Ele é lembrado como o patrono das artes, das ciências e da paz que, antes de morrer, no limiar do século 20, transformou a nitroglicerina em ouro.
O Prêmio Nobel da Paz de 2021 foi concedido nesta sexta-feira, 8, para os jornalistas Maria Ressa, das Filipinas, e Dmitri Muratov, da Rússia, pela "contribuição essencial de ambos para a liberdade de expressão e pelo jornalismo em seus países".
A academia afirmou que Ressa e Muratov receberam o Nobel da Paz "por sua corajosa luta pela liberdade de expressão nas Filipinas e na Rússia" e que a liberdade de expressão "é uma condição prévia para a democracia e para uma paz duradoura".
Em 2020, o Prêmio Nobel da Paz foi concedido para o Programa Mundial de Alimentos (PMA), braço humanitário da ONU contra a fome. Analistas e membros da organização ouvidos pelo Estadão afirmaram que o reconhecimento dá mais visibilidade ao tema e deve trazer mais recursos para o combate à insegurança alimentar no mundo.
O laureado em 2019 foi o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, "por seus esforços para alcançar a paz e a cooperação internacional, principalmente por sua iniciativa decisiva destinada a resolver o conflito na fronteira com a Eritreia".
Em 2018, a jovem yazidi Nadia Murad e o ginecologista congolês Denis Mukwege ganharam o Nobel da Paz por seus esforços contra o uso da violência sexual como arma de guerra. No ano anterior, ganhou a Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares, por chamar a atenção para as consequências do uso do armamento e chegar a um acordo pelo fim das armas nucleares. Em 2017, em razão de seus esforços para obter um acordo de paz com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), o ex-presidente colombiano Juan Manuel Santos levou o prêmio.
Surgimento do prêmio
Os prêmios Nobel nasceram da vontade do sábio e industrial sueco Alfred Nobel (1833-1896), inventor da dinamite, de conceder grande parte de sua fortuna aos que trabalham por "um mundo melhor".
O prestígio internacional destas recompensas se deve muito às somas generosas concedidas aos ganhadores - atualmente nove milhões de coroas suecas (US$ 910 mil) -, que são divididos entres os premiados, caso haja mais de um.
Alfred Nobel registrou sua vontade em um testamento assinado em Paris em 1895, um ano antes de sua morte em San Remo, Itália. Segundo o documento, deixava um capital de 31,5 milhões de coroas suecas, que equivaleria, levando em conta a inflação, a cerca de 2,2 bilhões de coroas suecas atuais (US$ 222 milhões).
Os rendimentos deveriam ser distribuídos a cada ano entre as pessoas que, no decorrer dos 10 meses anteriores, tivessem realizado "o maior benefício à humanidade".
As categorias do prêmio
O testamento estipulava a distribuição desse crédito em cinco partes iguais: "A primeira parte a quem tiver feito a descoberta ou a invenção mais importante no campo da Física; a segunda a quem tiver realizado a descoberta ou progresso mais importante em Química; a terceira a quem tiver conseguido a descoberta mais importante no âmbito da Fisiologia ou da Medicina; a quarta a quem tiver produzido a obra mais destacada de tendência idealista no campo da Literatura; a quinta a quem tiver trabalhado mais ou melhor em favor da fraternidade entre os povos, da abolição ou da redução dos exércitos permanentes e da realização ou difusão de congressos pela paz".
Legalmente, o testamento não designava um beneficiário específico da fortuna. Por isso, após sua leitura em janeiro de 1897, membros da família Nobel o criticaram veementemente.
A Fundação Nobel
Além disso, Alfred Nobel designou em seu testamento os diferentes comitês que atribuem os prêmios a cada ano: a Academia Sueca para o de Literatura, o Karolinska Institutet para o de Medicina, a Real Academia Sueca de Ciências para o de Física e o de Química, e um comitê de cinco membros especialmente eleitos pelo Parlamento norueguês para o da Paz.
No entanto, não explicou as modalidades que cada comitê deveria seguir para atribuir os prêmios em sua disciplina. Foram necessários mais de três anos para resolver esta questão, com a criação da Fundação Nobel, encarregada de administrar o capital dos prêmios, enquanto os diferentes comitês se ocupam da atribuição.
E o Nobel de Economia?
Em 1968, coincidindo com seu tricentenário, o Banco Central da Suécia (Riksbank), o mais antigo do mundo, criou um prêmio de Economia em memória a Alfred Nobel, colocando à disposição da Fundação Nobel uma soma anual equivalente ao montante dos outros prêmios.
Retorno
O ano de 2019 marca o começo da ressurreição para a Academia Sueca, que entrega o Nobel de Literatura e que ficou exposta em 2018 ao tráfico de influência e às denúncias de agressão sexual.
A academia teve que adiar o anúncio do Nobel 2018 - algo inédito em 70 anos de história - ante a ausência do quórum requerido, em razão das renúncias em massa. Por isso, na quinta-feira haverá duas medalhas de ouro, uma para 2018 e a outra para 2019, cada uma acompanhada de um cheque de 9 milhões de coroas suecas (US$ 910 mil).
Isso depende, claro, de que os laureados aceitem o prêmio, desvalorizado a seus olhos, adverte Madelaine Levy, crítica do jornal Svenska Dagbladet.
Após o escândalo sexual, havia poucas dúvidas de que a academia outorgaria ao menos um prêmio a uma mulher, segundo os oráculos.
"Os prêmios Nobel, sobretudo os de Literatura e Paz, sempre são controversos", afirma Olivier Truc, autor de L'affaire Nobel (O caso Nobel). A consagração de Bob Dylan em 2016 havia indignado os ortodoxos. Em 2017, o prêmio ao escritor britânico de origem japonesa Kazuo Ishiguro, que reunia mais consenso, foi visto como uma reparação.
Polêmica
A origem do escândalo foi a publicação, em novembro de 2017, de testemunhos anônimos nos quais uma personalidade do mundo da cultura, próxima à Academia Sueca, era acusada de agressões sexuais, assédio e estupro.
As revelações, que surgiram semanas depois da acusação contra o produtor de cinema americano Harvey Weinstein e o lançamento do movimento #MeToo, apontavam para o francês Jean-Claude Arnault, casado com a poetisa Katarina Frostenson, membro da Academia. Arnault foi condenado a dois anos e meio de prisão por estupro. Katarina teve de abandonar sua cadeira.
A onda expansiva provocou uma avalanche de renúncias na Academia Sueca, corrompida pelos clãs e pelas vaidades. A tal ponto que o rei Carl XVI Gustaf, protetor da instituição, precisou intervir, algo incomum nesta democracia na qual a monarquia tem um papel de etiqueta. Desde então, a academia se renovou quase completamente, modificou seu estatuto e prometeu mais transparência em seu funcionamento. / AFP
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