MOSCOU - Alexander Dugin, considerado o ideólogo do presidente russo, Vladimir Putin, pediu “mais do que apenas vingança ou retribuição” depois que sua filha Daria Dugina foi morta em uma explosão de carro no sábado, 20. O Serviço Federal de Segurança da Rússia, o FSB, culpou a Ucrânia nesta segunda-feira pela morte de Dugina.
O nacionalista russo e fervoroso aliado de Putin emitiu uma declaração pedindo a “vitória militar” como vingança – uma exortação que poderia levar a uma escalada na guerra na Ucrânia.
“Nossos corações anseiam por mais do que apenas vingança ou retribuição”, disse Dugin no comunicado. “É muito pequeno, não é o estilo russo. Só precisamos da nossa Vitória. Minha filha colocou sua própria vida em seu altar. Então vença, por favor!”
Na declaração, que retratou os russos como vítimas e não como agressores e invasores perpetrando uma guerra na Ucrânia, Dugin chamou o atentado contra sua filha de “um ataque terrorista realizado pelo regime nazista ucraniano”.
A Ucrânia negou envolvimento no assassinato de Dugina, editora-chefe de um site de desinformação russo que estava sob sanções dos EUA. Kiev também alertou sobre um aumento nos ataques russos a cidades ucranianas antes do Dia da Independência do país, na quarta-feira, que coincide com o aniversário de seis meses dos combates.
Logo após a declaração do FSB, Dugin repetiu suas alegações em seus primeiros comentários desde a explosão. “Os inimigos da Rússia a mataram furtivamente”, disse Dugin, no comunicado, que também elogiou sua filha como patriota e filósofa. “Mas nós, nosso povo, não podemos ser quebrados nem por golpes tão insuportáveis. Eles queriam esmagar nossa vontade com terror sangrento contra os melhores e mais vulneráveis de nós. Mas eles não vão.”
A declaração de Dugin foi divulgada na forma de uma carta compartilhada por Konstantin Malofeev, proprietário de um canal de TV nacionalista e cristão ortodoxo, Tsargrad, no qual Dugin é editor-chefe. O ideólogo disse que a morte de Dugina deveria “inspirar” soldados russos a continuar o ataque na Ucrânia.
Putin enviou a Dugin uma carta de condolências dizendo que a morte de sua filha foi resultado de “um crime vil e cruel”, segundo o Kremlin, que publicou o texto.
“Jornalista, cientista, filósofa, correspondente de guerra, ela serviu honestamente ao povo, à Pátria, e por meio de suas ações provou o que significa ser patriota da Rússia”, disse Putin em sua mensagem de condolências.
Dugina, de 29 anos, estava dirigindo o carro de seu pai após deixar um festival nos arredores de Moscou que ambos participaram quando a explosão ocorreu, envolvendo o carro. Alguns analistas externos e amigos da família suspeitam que Dugin, um ideólogo que ajudou a moldar a narrativa do Kremlin sobre a Ucrânia, era o verdadeiro alvo. Dugina também apoiou fortemente a guerra de Putin contra a Ucrânia.
O FSB afirmou que a explosão foi orquestrada por “serviços especiais ucranianos” e realizada por uma mulher ucraniana que supostamente realizou semanas de vigilância antes do atentado e depois fugiu para a Estônia com sua filha.
Tensões
Segundo o FSB, a ucraniana e sua filha participaram do mesmo festival e estavam alugando um apartamento em Moscou perto de onde Dugina morava. Mais tarde, as autoridades russas divulgaram um vídeo supostamente mostrando a mulher que acusam de assassinato e uma criança entrando na Rússia de carro, em um Mini Cooper, em 23 de julho, e dirigindo por vários locais em Moscou.
A alegação de que a mulher escapou para a Estônia ocorre em meio a tensões entre Moscou e Talín sobre o recente anúncio do governo estoniano de que removeria centenas de monumentos soviéticos, além de negar a entrada de russos com vistos Schengen emitidos pela Estônia.
Uma porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Estônia, Liisa Toots, disse que não era apropriado discutir se a mulher ucraniana e sua filha identificadas pelo FSB entraram no país após deixar a Rússia.
“Podemos compartilhar informações sobre os indivíduos que entram ou saem da Estônia apenas nos casos previstos por lei”, disse Toots em resposta a perguntas enviadas por e-mail. “A acusação do FSB russo, que chegou até nós pelo canal de propaganda do Kremlin, não é uma delas.”
O Comitê de Investigação da Rússia está investigando a explosão e tratando o caso como assassinato./WPOST
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