Homens com um marca escura na testa chamam atenção no Cairo, mesmo para quem conhece outros países da região. O sinal é meio roxo. Algumas vezes, ainda está cicatrizando. Perguntados, os egípcio logo explicam. "É de tanto rezar e bater com a cabeça no chão", afirmam.
A resposta não esclarece. Insisto para Mohammad Abbas, um vendedor do mercado islâmico de Khan al Khalili, que também tem a testa marcada, o por que de em outros países árabes, como o Líbano e a Síria, ser raro ver as pessoas com este sinal. "No Egito, nós somos mais religiosos", diz. Ao redor, quase todos os seus amigos com a testa marcada concordam.
A teoria dele não se justifica ao se observar fotos de muçulmanos ilustres pelo seu radicalismo, como o líder da Al Qaeda, Osama Bin Laden, o secretário-geral do Hezbollah, xeque Hassan Nasrallah, e o presidente do Irã, Mahmoud Ahmedinejad. Nenhum deles tem o roxo na testa.
A marca é tão comum que se a pessoa não tiver, há uma boa possibilidade de ela ser cristã copta. Foi justamente o que aconteceu quando dois homens sem o sinal foram perguntados se eram muçulmanos. Disseram que não e exibiram uma cruz tatuada no braço. Assim como os muçulmanos mais religiosos possuem o sinal na testa, os cristãos do Egito optam por tatuar uma cruz para, segundo um deles, ter certeza de que não serão enterrados como um muçulmano. Dos 83 milhões de habitantes do Egito, 10% são coptas. O restante é quase todo muçulmano sunita. Praticamente não há xiitas no Egito. A minoria judaica, que passou a ser perseguida depois que Gamal Abdel Nasser assumiu o poder, acabou deixando o país.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.