O grupo xiita Hezbollah e seus aliados das principais facções cristãs, incluindo a Frente Patriótica Livre, de Michel Aoun, o mais popular líder político cristão do Líbano, defendem uma intervenção do Exército. Os principais grupos sunitas libaneses e alguns de seus aliados cristãos na 14 de Março, no entanto, são cautelosos. Na avaliação deles, esta intervenção pode trazer a guerra para dentro do Líbano.
Caso as Forças Armadas do Líbano não intervenham, o Hezbollah, com o apoio de algumas milícias cristãs, deve entrar em Arsal, uma cidade majoritariamente sunita, para combater o ISIS e a Al Qaeda, que são seus maiores inimigos (não, Israel não é o maior inimigo do Hezbollah). Certamente, esta ação acirraria as tensões sectárias libanesas.
Os cristãos temem que o ISIS e a Frente Nusrah ataquem vilas cristãs nesta região do Líbano. Se as Forças Armadas, que ironicamente são controladas por um cristão, não agirem, sobrará apenas o apoio do Hezbollah, que também tem defendido os cristãos na Síria.
Muito se critica corretamente o Hezbollah por ter uma facção armada que age como Exército em muitas partes do Líbano - embora, claro, as outras facções sectárias libanesas também possuam seus braços armados em uma nação praticamente libertária. Neste momento, cabe às Forças Armadas do Líbano combater o ISIS e a Frente Nusrah. Se não o fizer, o grupo xiita terá o argumento, junto com seus aliados cristãos, de ser o único a garantir a segurança libanesa diante da ameaça da Al Qaeda e do ISIS.
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires
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