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Haiti enfrenta ‘emergência de fome’ e aumento de imigração causa crise com a República Dominicana

Fome atinge 4,9 milhões de pessoas do Haiti, afetado pela violência de gangues e alta inflação; país vizinho decide construir muro na fronteira para lidar com crise

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Por Redação

A violência de gangues que tomam conta das ruas e comércios de Porto Príncipe, a alta inflação e as crises humanitárias deixam quase metade da população do Haiti passando fome regularmente. Com isso, o número de haitianos que tentam fugir do país para a vizinha República Dominicana tem aumentado nos últimos meses. Em resposta, o governo do país vizinho decidiu construir um muro na fronteira.

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De acordo com um relatório do Programa Mundial de Alimentos da ONU, a fome aguda atinge 4,9 milhões de pessoas e os haitianos têm encontrado cada vez mais dificuldade para comprar comida suficiente desde que o presidente Jovenel Moïse foi assassinado em sua casa em julho de 2021.

“Estas são as piores condições já registradas”, afirmou ao jornal britânico The Guardian Jean-Martin Bauer, diretor do WFP no Haiti. “A insegurança alimentar no Haiti está piorando e o Haiti está entrando em uma emergência de fome.”

Família deixa residência em uma vila em Porto Príncipe, no Haiti, em imagem da quinta-feira, 23. Crise de violência e pobreza se agravou nos últimos anos Foto: Richard Pierrin/AFP

Com a economia em colapso após gangues tomarem o controle de boa parte das estruturas do Haiti, a inflação subiu para 49,3% e os líderes dos grupos armados passaram a restringir o acesso a comida e água. Os alimentos disponíveis estão mais caros.

Violência

Mais 530 pessoas foram mortas, muitas por franco-atiradores, e quase 280 sequestradas por gangues no Haiti entre janeiro e 15 de março, informou o Escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos nesta terça-feira (21). A capital Porto Príncipe é a cidade mais afetada pela criminalidade. Somente nas duas primeiras semanas de março, confrontos entre gangues resultaram em pelo menos 208 mortos, 164 feridos e 101 sequestros.

Entre as vítimas das balas perdidas estão estudantes e professores. A ONU também denunciou o aumento de sequestros de pais e alunos nas proximidades dos centros de estudos, o que levou ao fechamento de escolas. Sem o ambiente escolar protegido, muitas crianças estão sendo recrutadas à força pelas gangues.

“Mais de 3 milhões de pessoas no Haiti enfrentam enormes necessidades humanitárias em meio à grave insegurança. Em grande parte de Porto Príncipe, as necessidades são críticas. O acesso ao mais básico – como alimentos, assistência médica e água – é escasso ou inexistente. A vida cotidiana das pessoas é afetada direta ou indiretamente pelos altos níveis de violência armada. Milhares de haitianos foram forçados a abandonar a própria casa”, afirmou o diretor de operações do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Martin Schüepp, após uma visita ao Haiti, em fevereiro deste ano.

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Os hospitais da capital também estão fechando as portas em razão da violência. Analistas e moradores afirmam que quase nenhum bairro é seguro na capital.

“Hoje, a segurança no Haiti não é uma questão de meios”, afirmou ao jornal The New York Times Youri Mevs, sócia-gerente de um parque industrial. “É uma questão de evitar o lugar errado na hora errada. E o lugar errado está em quase todo lugar, assim como a hora errada é literalmente o tempo todo.”

Youri Mevs disse que alguns de seus parentes foram para fora do país por questões de segurança.

Deslocados

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O Haiti é o país mais pobre das Américas e está há anos imerso em uma crise humanitária, econômica e política, agravada desde o assassinato de Moïse.

Para fugir da situação precária, milhares de haitianos deixam suas cidades e até seu país. Pelo menos 160 mil pessoas foram deslocadas e vivem em condições precárias, sendo que um quarto delas sobrevive em acampamentos, com acesso limitado a serviços básicos de saneamento. “A violência sexual também é usada por gangues contra mulheres e meninas para aterrorizá-las, subjugá-las e punir a população”, afirmou a porta-voz do Comissariado de Direitos Humanos da ONU Marta Hurtado.

Lidna Dorfinis, proprietária de uma será demolida para a construção do muro fronteiriço que está sendo construído para dividir a República Dominicana do Haiti, posa para uma foto em sua casa em Dajabon, República Dominicana, no dia 20 deste mês Foto: Erika Santelices / AFP

Muitos haitianos passaram a cruzar a fronteira para a vizinha República Dominicana, que começou a tomar medidas drásticas contra a imigração. O presidente Luis Abinade endureceu a política em relação ao Haiti e multiplicou as deportações (171 mil em 2022 contra 85 mil um ano antes) e iniciou a construção de um muro na fronteira em 2022.

O muro deverá percorrer 160 dos 380 quilômetros de fronteira entre os dois países e os dominicanos que vivem na região fronteiriça estão tendo suas casas desapropriadas para as obras. /AFP e NYT

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