BANGKOK - A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, se reuniu, neste sábado, 19, com o presidente da China, Xi Jinping, antes do início da reunião de líderes do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), que termina hoje em Bangkok, capital da Tailândia. O encontro acontece cerca de uma semana depois que Xi encontrou-se frente a frente com o presidente dos EUA, Joe Biden, antes da cúpula do G-20.
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Harris, que representa o país em substituição a Biden, pediu ao presidente chinês que se mantenha uma comunicação aberta entre as duas potências. Jinping respondeu que espera um maior entendimento entre a China e os Estados Unidos para que “erros de julgamento e cálculo diminuam”. A aproximação entre os dois países ocorre em meio às tensões no estreito de Taiwan e o apoio tácito dado por Pequim à Rússia na invasão da Ucrânia, bem como a crescente disputa comercial entre ambos.
A vice-presidente enfatizou que ambos os países “devem manter as linhas de comunicação abertas para administrar a concorrência com responsabilidade”, diz um comunicado da Casa Branca. A mensagem reitera a posição que Joe Biden manifestou a Xi durante a reunião bilateral que tiveram na segunda-feira passada, em Bali, na Indonésia, antes da cúpula dos líderes do G-20. Aquele foi o primeiro encontro frente a frente entre os dois líderes enquanto chefes de Estado.
“É de se esperar que a China e os Estados Unidos avancem em direção a um maior entendimento mútuo e que os mal-entendidos e erros de cálculo diminuam. Espera-se que trabalhemos juntos para levar as relações bilaterais a um caminho saudável e estável”, disse Xi durante sua breve reunião com a vice-presidente dos Estados Unidos.
O encontro entre os dois reforça os compromissos assumidos na reunião de Biden e Xi em Bali, que serviu para reduzir as tensões entre as duas principais potências mundiais e encenou uma aproximação com o objetivo de evitar que sua rivalidade levasse a um conflito aberto, embora ambas tenham permanecido firmes em suas linhas vermelhas.
As relações entre Washington e Pequim se chocam em várias questões, entre as quais se destaca a ilha de Taiwan, descrita pela China como uma província rebelde e parte de seu território, mas que os Estados Unidos garantem que defendem em caso de agressão.
Dissuadir a Coreia do Norte
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, viajará à China no início de 2023, no que seria a primeira visita de um alto funcionário da diplomacia americana ao país desde 2018. Blinken declarou à imprensa em Bangkok que os contatos com Pequim pretendem garantir que a concorrência entre os países não vire um conflito, e encontrar áreas de cooperação em questões globais, como a mudança climática.
Xi Jinping, que não visita os Estados Unidos desde 2017, pode viajar ao país em 2023 para a próxima reunião de cúpula da Apec, que acontecerá em San Francisco.
Na ilha indonésia de Bali, Biden se reuniu com Xi durante três horas e pediu ajuda para conter a Coreia do Norte, país que gera receio nos Estados Unidos e na Coreia do Sul após a recente série sem precedentes de lançamentos de mísseis balísticos.
A China deve utilizar sua influência sobre o regime de Kim Jong-un, do qual é a principal aliada diplomática e econômica, para incentivar a Coreia do Norte “a não seguir na direção da provocação, que desestabiliza a região e o mundo”, afirmou na sexta-feira uma fonte do governo americano.
Harris teve uma reunião de emergência na véspera com os governantes do Japão, Coreia do Sul, Austrália, Canadá e Nova Zelândia sobre o lançamento dos mísseis norte-coreanos.
A guerra na Ucrânia
A guerra na Ucrânia é outro ponto de divergência entre Washington e Pequim, que adota uma postura neutra a respeito da invasão russa, apesar dos apelos para que condene publicamente as ações de Moscou. O comunicado final da Apec recordou a divergência.
“A maioria dos membros condenou a guerra na Ucrânia e enfatizou que causa imenso sofrimento humano e exacerba as fragilidades existentes na economia global”, afirma a nota.
Depois da Tailândia, Harris é aguardada na terça-feira na província filipina de Palawan, perto da fronteira com o Mar da China Meridional, que tem grande parte reivindicado por Pequim. Ela será a principal autoridade do governo americano a visitar a localidade.
A reunião de cúpula da Apec encerrou uma intensa sequência diplomática na região, após o encontro da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) em Phnom Penh e a cúpula do G-20 em Bali./EFE e AFP
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