O Palácio de Buckingham confirmou que o príncipe Harry e o príncipe Andrew participarão da coroação do rei Charles III e da rainha Camilla, mas não desempenharão nenhum papel real na cerimônia. Os enteados de Charles terão mais deveres a cumprir do que seu filho afastado e seu irmão envolvido em escândalos.
Harry e Andrew estarão na Abadia de Westminster, local de todas as coroações desde 1066, como membros da família real britânica. Eles não irão dar pronunciamentos oficiais e devem aparecer apenas brevemente nas câmaras da BBC, mas a presença será sentida.
De maneiras diferentes e por motivos muito diferentes, Harry e Andrew são os rostos mais presentes da família real nos tabloides ingleses. Entre as muitas coisas que Charles herdou da mãe, uma delas é a responsabilidade de lidar com eles.
Quando Andrew, irmão de Charles, foi acusado por uma mulher de a ter assediado, a rainha Elizabeth II retirou os títulos reais e suas finanças, ao mesmo tempo que contribuía silenciosamente para um acordo na justiça. Quando o príncipe Harry e a esposa, Meghan, disseram que queriam se afastar dos deveres reais, a monarca rejeitou o acordo que propuseram, negou que ficassem com a marca Sussex Royal e desejou aos dois “uma vida nova feliz e pacífica”.
Agora, as decisões sobre Andrew e Harry relacionadas à fortuna da família, acesso a residências reais e seus títulos estão a cargo do rei.
Segundo um porta-voz da família, Harry e Meghan foram convidados em março a entregar a Frogmore Cottage, a residência do casal quando estão no Reino Unido. A mídia britânica também noticiou que o rei Charles pressiona Andrew a sair da Royal Lodge, uma residência maior e também em Windsor. O público está atento sobre as ações possíveis do monarca.
Coroação de Charles III
No sábado, o representante oficial dos parentes do rei na coroação será o popular e herdeiro príncipe William. Ele irá se ajoelhas aos pés do pai para jurar lealdade a ele, “como seu seguidor leal de corpo e alma”.
Uma tradicional homenagem dos duques reais – que incluiria Harry, duque de Sussex, e Andrew, duque de York – foi descartada. “Evitam que Harry e Andrew estejam neste lugar e encurta a cerimônia”, disse Craig Prescott, acadêmico e autor de um livro a ser lançado sobre a monarquia atual.
O príncipe George, de 9 anos, filho mais velho de William, carregará as vestes do rei e outros três netos – Gus, Louis Lopes e Freddy Parker Bowles, todos de 13 anos – ajudarão Camilla. A irmã do rei, princesa Anne, ocupará um lugar destacado durante a procissão da coroação, montada no seu cavalo logo atrás da carruagem onde estará o rei. Essa posição é chamada de “Gold-Stick-in-Waiting” e remete a uma pessoa de confiança que protege o monarca.
Harry e Andrew provavelmente não vestirão sequer a farda real, mesmo tendo participado de missões de guerra no Afeganistão e na Guerra das Malvinas, respectivamente. Eles também não devem participar da procissão, anunciada como a maior procissão desde 1953, e devem ir da Abadia de Westminster para o Palácio de Buckingham após a cerimônia de carro, discretamente.
Ainda não se sabe se Harry aparecerá ao lado dos parentes na varanda do palácio para saudar a multidão enquanto aviões militares desfilam. Ele e Meghan não foram convidados no ano passado para o Jubileu de Platina da rainha, por não serem mais considerados membros seniores da realeza. Desta vez, Meghan não estará em Londres.
A ausência mais evidente na coroação de Elizabeth II em 1953 foi do seu tio, Edward VIII, que abdicou do trono anos antes e não foi convidado.
Para o biógrafo real, Robert Lacey, a pequena participação de Harry e a ausência de Meghan não causam problemas. O foco permanecerá no rei, na rainha e na coroação, com menos “oportunidades de constrangimento”, disse.
Harry esteve recentemente em Londres como parte de um processo judicial contra os tabloides. Mas a coroação será a primeira vez que ele verá sua família desde o funeral da rainha Elizabeth II, em setembro. Essa ocasião solene foi seguida em breve pelo documentário autoproduzido por ele e a esposa na Netflix, lançado em dezembro do ano passado, e pelo livro de memórias escrito pelo príncipe, “Spare”, em janeiro. Ambos atacaram a realeza.
Com o documentário e o livro, Harry causou mais danos à própria reputação do que da família real, apesar dos lucros obtidos com as vendas. Na última pesquisa YouGov, 64% dos entrevistados no Reino Unido disseram ter uma visão negativa de Harry. Ele e Meghan estão logo acima de Andrew como os membros menos populares da realeza.
As pesquisas, no entanto, mostram claras divisões demográficas em relação a Harry e Meghan (que são mais populares nos Estados Unidos do que no Reino Unido). Os britânicos mais jovens apoiam mais o casal. O mesmo acontece com os britânicos negros, que veem as acusações de racismo na casa real como verossímeis.
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