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A falácia que cerca o debate sobre as armas de fogo

Depois de tragédias como a de Las Vegas, grupos de pressão exaltados exibem estatísticas prontas, sob medida para defender posições irredutíveis

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Por Helio Gurovitz
Atualização:

Suicídio, homicídio, assassinato em massa e acidentes com armas de fogo são problemas distintos, que exigem soluções específicas. Parece óbvio. Mas tudo se confunde quando está em jogo o controle das armas. Depois de tragédias como a de Las Vegas, grupos de pressão exaltados exibem estatísticas prontas, sob medida para defender posições irredutíveis. Os fatos sempre são mais complexos.

Memorial faz homenagem com fotos de vítimas do ataque que matou 58 pessoas em Las Vegas, nos Estados Unidos, na noite de domingo 1º de outubro Foto: Drew Angerer/AFP

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O americano é, de longe, o povo mais armado do mundo, com 101 armas de fogo para 100 habitantes – há 4 em Israel, 9 no Brasil, 11 na Venezuela, 32 na Alemanha e 35 na Arábia Saudita. Mas não existe relação estatística entre esse número e a taxa de mortes por tiros (para cada 100 mil habitantes: 0,3 ao ano na Arábia Saudita, 1 na Alemanha, 1,3 em Israel, 10,5 nos Estados Unidos, 21,9 no Brasil e 50,5 na Venezuela). Assassinatos em massa como em Las Vegas são um fenômeno quase exclusivo dos americanos. Mas o maior problema lá é outro: o suicídio, causa de dois terços das mortes por tiros. No Brasil é o homicídio, responsável por 86%. Controlar o acesso às armas pode reduzir acidentes e suicídios. Mas o impacto na violência criminal é menos evidente – o crime organizado raramente tem dificuldade de obtê-las. Tudo depende do tipo de controle e da qualidade da implementação. 

“Pesquisas de qualidade sobre a associação entre adoção ou revogação de legislação a respeito das armas de fogo (em vez de apenas avaliar as leis) levariam a uma compreensão melhor do tipo de intervenção que tem mais chance de funcionar”, diz o epidemiologista Julian Santaella-Tenorio, da Universidade Columbia, na maior revisão recente de estudos sobre o tema. Para a sociedade, o risco de condenar ou absolver as armas como um todo é o mesmo: ignorar o problema de fundo, aplicar uma solução parcial (ou errada) e até agravá-lo.

Estatísticas paradas por falta de verba

Outra dificuldade no estudo das armas é encontrar dados confiáveis. Os números acima são os últimos disponíveis no site Gun Policy, da Universidade de Sydney, maior fonte de estatísticas sobre o tema no mundo. Em dezembro, o gestor do projeto, Philip Alpers, encerrou a atualização. Motivo: falta de financiamento.

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Gatinhos vítimas do plebiscito catalão

No extenso contencioso entre Espanha e Catalunha está o domínio da internet .cat. Administrado pela fundação PuntCat, ele reúne 113 mil sites de conteúdo em catalão. Antes do plebiscito, a PuntCat foi alvo de ação policial para eliminar conteúdos separatistas. Mas, como “cat” é gato em inglês, a polícia teve de tomar cuidado para não mexer nos sites que usam a Catalunha como base para veicular bichanos fofos a todo o planeta.

Número

50% das vitórias espanholas na Liga dos Campeões, entre 2007 e 2017, vieram da Catalunha, em especial do Barcelona – mais que a proporção do PIB, da população ou do território.

Brasil resiste à regulação na internet

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O brasileiro está entre os povos mais resistentes à regulação da internet, segundo pesquisa da GlobeScan com 16,5 mil pessoas em 17 países. Apenas 26% aceitam algum tipo de regulamentação e 51% se opõem a qualquer intervenção do governo na rede.

Antissemita condenado a estudar o Holocausto

O ex-deputado belga Laurent Louis foi condenado por antissemitismo e negação do Holocausto há dois anos. Depois que sua prisão foi suspensa, saiu a sentença definitiva: Louis será obrigado a visitar os campos nazistas e a apresentar relatórios periódicos a respeito. Ele celebrou.

Palavras do Nobel

“Todos temos algo a perder. Você se encontrou em alguma posição no mundo, construiu uma carreira – todas essas coisas vão embora. Há todo um mundo que você talvez nem perceba que ama. Até perdê-lo”

Kazuo Ishiguro, Nobel de Literatura, à 'New Yorker'

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