Um tribunal holandês condenou, nesta quinta-feira, 17, três homens com ligações com serviços de segurança russos e os sentenciou à prisão perpétua pelo abate de um avião de passageiros no leste da Ucrânia em 2014, durante uma revolta separatista apoiada por Moscou que prenunciou a invasão em grande escala da Rússia no país. Um quarto suspeito foi absolvido.
O veredicto oferece uma medida mínima de justiça para as 298 pessoas mortas na queda do avião, um voo da Malaysia Airlines para Kuala Lumpur, Malásia, partindo de Amsterdã. Os homens - três russos e um ucraniano - nunca foram presos, acredita-se que estejam na Rússia ou em território controlado pela Rússia, e foram julgados à revelia.
No entanto, a guerra na Ucrânia deu maior importância ao caso. O apoio aos separatistas no leste da Ucrânia foi uma parte fundamental do pretexto do presidente Vladimir Putin quando ele deu a ordem de invasão em fevereiro deste ano, e muitos parentes enlutados estabeleceram uma conexão direta entre a queda do voo e a guerra. O veredicto também pode servir de exemplo para possíveis processos de crimes russos durante a guerra atual.
Dois russos - Igor Girkin, ex-coronel do Serviço Federal de Segurança da Rússia e Sergei Dubinski, ex-oficial da inteligência militar russa - foram considerados culpados por homicídio e pela derrubada do avião. Um cidadão ucraniano – Leonid Kharchenko, que liderou uma unidade militar apoiada pela Rússia – foi considerado culpado das mesmas acusações.
O quarto homem, Oleg Pulatov, também ex-oficial da inteligência militar russa, foi absolvido por ter sido considerado insuficientemente envolvido no episódio.
O julgamento começou há mais de dois anos como uma tentativa de atribuir responsabilidades no que há muito parecia um crime sem punição. Em 17 de julho de 2014, um míssil antiaéreo fornecido às forças separatistas pelos militares russos derrubou o voo 17 da Malaysia Airlines, comumente conhecido como MH17, em altitude de cruzeiro sobre o leste da Ucrânia. Todos a bordo foram mortos.
A queda do MH17 espalhou corpos e destroços pelos campos, causando indignação global e levando as nações ocidentais a buscarem responsabilizar a Rússia. A maioria das vítimas era holandesa, mas o voo também transportava passageiros de Austrália, Reino Unido, Malásia e vários outros países.
Tem havido muita especulação de que as pessoas que dispararam o míssil pensaram que estavam mirando em um avião militar ucraniano, não em um avião comercial. Os separatistas já haviam abatido aeronaves ucranianas antes.
A Rússia negou repetidamente qualquer responsabilidade na tragédia, apesar das evidências de que o avião foi abatido por um míssil terra-ar Buk, enviado para o leste da Ucrânia a partir de uma base militar russa do outro lado da fronteira, bem como ligações interceptadas e mensagens que apontam para o envolvimento de separatistas apoiados pela Rússia.
Em vez disso, Moscou gerou uma série de explicações implausíveis e teorias da conspiração que se concentraram principalmente em culpar a Ucrânia e atacar a legitimidade da investigação. Eles incluíram a possibilidade de que a CIA havia derrubado um avião carregado de corpos no leste da Ucrânia para incriminar Moscou.
Desde que a Rússia vetou um esforço para formar um tribunal das Nações Unidas para o caso, o julgamento foi realizado em um tribunal criminal local nos arredores de Amsterdã, perto do amplo aeroporto de Schiphol, de onde o MH17 partiu em 2014.
Rússia fala em julgamento político
Após a divulgação do veredicto, a Rússia criticou o processo na Justiça holandesa e acusou o tribunal de conduzir um julgamento político contra os cidadãos russos e o ucraniano pró-Rússia.
“O desenvolvimento e a conclusão do processo judicial mostram que (a sentença) se deu por questões políticas”, posicionou-se o Ministério das Relações Exteriores da Rússia em um comunicado. A autoridade russa acrescentou ainda que o julgamento “tem todas as possibilidades de se converter em um dos mais escandalosos da História dos processos judiciais”./ NYT e AFP
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