Um homem usando uma máscara de gás abriu fogo e feriu dezenas de pessoas dentro de um trem lotado do metrô no bairro do Brooklyn, em Nova York, durante a hora do rush na manhã desta terça-feira, 12, após detonar uma bomba de fumaça. O episódio violento aumentou o medo sobre a segurança pública da cidade.
Segundo informações da Reuters, a polícia de Nova York e o Corpo de Bombeiros confirmou que ao menos 23 pessoas ficaram feridas -- incluindo os 10 baleados -- e foram encaminhadas para hospitais da cidade. Outras agências internacionais estimam que o número de feridos já alcança 29, por causa da entrada de possíveis atingidos registrados em ambulatórios da região.
A polícia iniciou uma enorme operação de caça ao atirador. Na noite desta terça-feira, agentes encontraram uma van que teria sido usada no ataque. O veículo estava vazio, no entanto, e o suspeito permanece desaparecido. A polícia divulgou que procura Frank R James, de 62 anos, considerado pessoa de interesse no caso. Uma recompensa de US$ 50 mil (aproximadamente R$ 234 mil) está sendo ofertada por autoridades para quem tiver informações sobre o acusado.
Autoridades nova-iorquinas disseram que cinco pessoas baleadas estão em estado crítico, mas nenhuma delas corre o risco de morrer. Outras se feriram por estilhaços de balas e durante a correria em pânico para fora do metrô.
O incidente não é investigado como ato terrorista até o momento, disse a governadora de Nova York, a democrata Kathy Hochul, durante uma entrevista coletiva. Entretanto, nenhum motivo foi afastado pela polícia.
A comissária do Departamento de Polícia de Nova York, Keechant Sewell, descreveu o suspeito, que agiu sozinho, como um “homem negro de aproximadamente 1,65 de altura e corpulento”, vestindo um colete verde usado por operários de construção e um moletom cinza com capuz.
A busca pelo atirador estava sendo dificultada pelo fato de que uma câmera de segurança na estação onde ocorreu o incidente, que poderia ter capturado a cena, não estava funcionando, disse o prefeito Eric Adams. “Houve um mau funcionamento com o sistema de câmeras naquela estação em particular”, disse Adams para a rádio WCBS 880.
Agentes do FBI e membros da Força-Tarefa Conjunta de Terrorismo realizaram buscas em empreendimento próximos da estação, interrogando testemunhas e procurando imagens de vigilância. Helicópteros da polícia sobrevoaram a cidade por horas enquanto as autoridades procuravam o atirador, que não foi identificado.
Uma arma de fogo foi recuperada no local juntamente com vários dispositivos de fumaça e outros itens em análise, disseram dois policiais à agência de notícias Associated Press.
Segundo o porta-voz da polícia, os investigadores acreditam que o atirador disparou de dentro de um vagão de um trem do metrô depois de abrir uma bomba de fumaça. Vídeos postados nas redes sociais mostram passageiros em pânico saindo do vagão para uma plataforma na Rua 36 enquanto a fumaça subia pela estação.
Segundo a comissária, o homem entrou do vagão pouco antes das 8h24 (horário de Nova York) quando o trem parou na estação da Rua 36. Ele colocou uma máscara de gás antes de disparar contra as pessoas do trem e da plataforma próxima.
Sewell acrescentou que nenhum dispositivo explosivo ativo foi encontrado no local ou nos trens.
O presidente americano, Joe Biden, comentou o ataque na tarde desta terça-feira. “Não vamos desistir até encontrarmos o autor”, declarou durante uma palestra sobre os preços da energia em Iowa. Biden afirmou que está em contato com Eric Adams e agradeceu aos socorristas que atenderam a ocorrência. O democrata também elogiou os civis, que “não hesitaram em ajudar seus companheiros de viagem e tentaram protegê-los”.
“Continuaremos em contato próximo com as autoridades de Nova York enquanto aprendemos mais sobre a situação nas próximas horas e dias”, disse Biden, acrescentando que aguarda mais atualizações.
Os policiais foram chamados à estação de metrô da Rua 36, onde as linhas D, N e R passam pelo bairro Sunset Park, por volta das 8h30, horário de Nova York. O chamado para o Corpo de Bombeiros foi de relatos de fumaça dentro da estação.
Ao The New York Times, um estudante da Brooklyn Technical High School, John Butsikares, afirmou que a viagem estava tranquila até a estação da Rua 36, quando as portas se abriram e uma pessoa orientou os passageiros que esperavam na plataforma a entrarem correndo. “Eu não sabia o que estava acontecendo. Houve apenas pânico”, contou.
As cenas do ataque a tiros foram registradas em vídeos postados em redes sociais. Em um deles, gravado através do vidro de uma porta fechada entre os vagões do metrô, uma pessoa de moletom com capuz levanta o braço e aponta para algo - possivelmente a porta da cabine do condutor - enquanto cinco estrondos de tiro são ouvidos. Em outro vídeo, pessoas saem de um vagão cheio de fumaça. Alguns correm para uma saída; outros saem mancando e um cai na plataforma.
ATENÇÃO - IMAGEM FORTE
“A porta do metrô se abriu em um estado de calamidade. Havia fumaça, sangue e pessoas gritando’', disse uma testemunha identificada como Sam Carcamo à estação de rádio 1010 WINS. Ele estava na plataforma à espera do trem.
À Associated Press, o morador do Brooklyn, Danny Mastrogiorgio, relatou que havia acabado de deixar o filho na escola quando percebeu a multidão de passageiros saindo do metrô em pânico. Pelo menos dois deles tinham ferimentos na perna, disse. “Foi uma loucura. Ninguém sabia exatamente o que estava acontecendo”, declarou.
O proprietário de um café próximo da estação, Allan Lee, também relatou que viu quando meia dúzia de carros de polícia e de bombeiros chegaram ao quarteirão da Rua 36. Quando notou oficiais e cães do esquadrão antibomba, teve certeza de que não era um problema cotidiano do metrô. “Então eles começaram a conduzir as pessoas para o quarteirão ao lado e depois fecharam a entrada do metrô”, disse ele à AP.
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O incidente aconteceu em uma linha que atravessa o sul do Brooklyn em um bairro a cerca de 15 minutos de trem de Manhattan. Escolas locais, incluindo a Sunset Park High School, do outro lado da rua, foram fechadas. Os trens que atendem a essa estação estavam atrasados durante a hora do rush da manhã.
Resposta das autoridades
O prefeito de Nova York se pronunciou horas depois do ataque por meio de uma mensagem de vídeo, antes de falar com a imprensa. Ele se encontra isolado na residência oficial depois de ter testado positivo para a covid-19 no último domingo, 10. “Não permitiremos que os nova-iorquinos sejam aterrorizados, nem mesmo por um único indivíduo”, disse Adams, que é ex-policial. “O Departamento de Polícia de NY está procurando o suspeito, e vamos encontrá-lo.”
A governadora pediu que os nova-iorquinos permaneçam vigilantes enquanto a polícia procura o atirador. “Este indivíduo ainda está à solta. Essa pessoa é perigosa”, disse a democrata em entrevista coletiva. “Vivemos uma situação de um atirador a solta agora na cidade de Nova York.”
“Chega de ataque a tiros em massa. Chega de perturbar vidas. Chega de criar desgosto para as pessoas que tentam viver suas vidas como nova-iorquinos normais”, acrescentou Hochul. “Tem de acabar, acaba agora.”
O policiamento nos centros de transportes coletivos das principais cidades dos Estados Unidos aumentou após o ataque. Segundo a CNN, autoridades de Boston, São Francisco, Filadélfia, Atlanta e Washington estão atentos e pedem para que os cidadãos relatem qualquer movimento incomum.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, também foi informado sobre o ocorrido e se comunica com as autoridades de Nova York, segundo a Casa Branca.
Violência crescente em Nova York
O ataque ocorre no momento em que a cidade de Nova York enfrenta uma série de episódios envolvendo disparos de armas. Até 3 de abril, os incidentes com tiros aumentaram de 260 para 296 em comparação ao mesmo período do ano passado, de acordo com estatísticas do Departamento de Polícia.
O aumento ocorre depois que a violência armada atingiu mínimos históricos em 2018 e 2019, e a cidade ainda permanece mais segura do que nos anos anteriores. Mas quando os nova-iorquinos saíram das paralisações que marcaram o início da pandemia, muitos acharam a cidade mais perigosa do que antes da pandemia.
Outros incidentes graves também foram registrados nos últimos meses, incluindo nos metrôs da cidade. Uma das mais chocantes foi em janeiro, quando uma mulher morreu ao ser empurrada por um estranho para os trilhos na frente de um trem.
O prefeito da cidade, Adams, um democrata com pouco mais de 100 dias de mandato, fez da repressão ao crime – especialmente nos metrôs – um foco de sua administração inicial, prometendo enviar mais policiais a estações e plataformas para patrulhas regulares. Não ficou imediatamente claro se os policiais já estavam dentro da delegacia quando os tiros ocorreram.
Entre as ações recentes de Adams, está a mobilização de cerca de meia dúzia de novas unidades policiais anti-armas. O Departamento de Polícia também começou a se concentrar nas chamadas violações de qualidade de vida, numa estratégia que visa ter mais rigor com crimes de baixo nível em um esforço para prevenir crimes mais graves.
Uma abordagem de policiamento semelhante foi adotado no sistema de metrô. Antes do seu mandato, o esforço no policiamento era uma das principais demandas dos chefes das linhas metroviárias.
A Metropolitan Transportation Authority, que opera o sistema, disse que os temores sobre a segurança diminuíram a confiança e mantiveram os passageiros fora do metrô, que é considerado a força vital da cidade e a chave para sua recuperação econômica.
Leis brandas
Episódios violentos envolvendo atiradores acontecem com relativa frequência nos Estados Unidos, onde as armas de fogo têm relação com aproximadamente 40 mil mortes por ano, incluindo suicídio, de acordo com o site Gun Violence Archive.
O incidente acontece um dia depois de Biden ter anunciado novas medidas para o controle de armas, aumentando as restrições sobre as chamadas “armas fantasmas”, que são difíceis de rastrear e podem ser montadas em casa.
Leis brandas sobre armas e o direito constitucional de portar armamento têm frustrado repetidamente as tentativas de reduzir o número de armas em circulação no país, apesar de a maioria da população americana ser favorável a controles mais rígidos.
Três quartos de todos os homicídios nos EUA são cometidos com armas de fogo, e o número de pistolas, revólveres e outros armamentos comercializados não para de crescer./AP, REUTERS, NYT e AFP
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