Imagens de satélite mostram corpos em Bucha há semanas, apesar de Rússia negar mortes de civis

A Rússia alega que as imagens são falsas e quer convocar uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU

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Por Redação
Atualização:

BUCHA, UCRÂNIA - Uma análise de imagens de satélite feita pelo The New York Times refuta as alegações da Rússia de que o assassinato de civis em Bucha, um subúrbio de Kiev, ocorreu depois que seus soldados deixaram a cidade.

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Quando imagens surgiram no fim de semana dos corpos de civis mortos nas ruas de Bucha – alguns com as mãos amarradas, alguns com ferimentos de bala na cabeça – o Ministério da Defesa da Rússia negou a responsabilidade. Em um post no Telegram no domingo, o ministério sugeriu que os corpos foram recentemente colocados nas ruas depois que “todas as unidades russas se retiraram completamente de Bucha” por volta de 30 de março.

A Rússia alegou que as imagens eram “outra farsa” e convocou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU sobre o que chamou de “provocações de radicais ucranianos” em Bucha.

Mas uma análise de vídeos e imagens de satélite do jornal mostra que muitos dos civis foram mortos há mais de três semanas, quando os militares russos estavam no controle da cidade.

Imagens de satélite fornecidas pela Maxar Technologies mostram a rua Iablonska em Bucha, Ucrânia, em 28 de fevereiro de 2022, na parte superior, e repleta de corpos em 19 de março de 2022, na parte inferior Foto: Maxar Technologies via The New York Times

Um vídeo filmado por um membro do conselho local em 2 de abril mostra vários corpos espalhados pela rua Iablonska em Bucha. Imagens de satélite fornecidas ao The Times pela Maxar Technologies mostram que pelo menos 11 deles estavam na rua desde 11 de março, quando a Rússia, por conta própria, ocupou a cidade.

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Para confirmar quando os corpos apareceram e quando os civis provavelmente foram mortos, a equipe de Investigações Visuais do The Times realizou uma análise antes e depois das imagens de satélite. As imagens mostram objetos escuros de tamanho semelhante a um corpo humano aparecendo na rua Iablonska entre 9 e 11 de março.

Os objetos aparecem nas posições precisas em que os corpos foram encontrados depois que as forças ucranianas recuperaram Bucha, como mostra a filmagem de 2 de abril. Uma análise mais aprofundada mostra que os objetos permaneceram nessa posição por mais de três semanas.

As causas da morte não são claras. Alguns dos corpos estavam ao lado do que parece ser uma cratera. Outros estavam perto de carros abandonados. Três dos corpos jaziam ao lado de bicicletas. Alguns têm as mãos amarradas nas costas com pano branco. Os corpos estavam espalhados por mais de 800 metros da rua Iablonska.

Um segundo vídeo feito na rua Iablonska mostra mais três corpos. Um está ao lado de uma bicicleta, outro perto de um carro abandonado. Imagens de satélite mostram que os carros abandonados e o corpo próximo aparecem entre 20 e 21 de março.

Estes são apenas alguns dos corpos civis descobertos desde sábado. A agência Associated Press publicou imagens de pelo menos seis homens mortos deitados juntos nos fundos de um prédio de escritórios, alguns com as mãos amarradas nas costas. O prédio fica a 1,6 km a oeste das outras vítimas encontradas na rua Iablonska.

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Mais um quilômetro adiante, um fotógrafo do The Times descobriu o corpo de um homem com um tiro na cabeça ao lado de uma bicicleta.

O corpo de um civil perto de Bucha, Ucrânia, no domingo, 3 de abril de 2022 Foto: Daniel Berehulak/The New York Times

Acusações de crimes de guerra

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As imagens de cadáveres nas ruas ou sepulturas cavadas às pressas em Bucha desencadearam uma onda de indignação internacional. Líderes ocidentais pediram mais sanções contra a Rússia e acusaram o presidente russo Vladimir Putin de cometer crimes de guerra.

Autoridades ucranianas disseram ter encontrado os corpos de 410 civis em cidades ao redor da capital, Kiev, que foram recapturadas das forças russas nos últimos dias. Somente em Bucha, repórteres viram ao menos 21 corpos, incluindo um grupo de nove em trajes civis que pareciam ter sido baleados à queima-roupa. Pelo menos dois estavam com as mãos amarradas atrás das costas.

Em outra imagem de satélite registrada pela empresa Maxar Technologies, mostra o que parece ser uma vala comum na cidade. Bucha sofreu com bombardeios a partir do dia 27 de fevereiro, no 3º dia de invasão russa na Ucrânia, e moradores ficaram sem eletricidade e gás, segundo o Humans Right Watch.

Imagem de satélite mostra área próxima a igreja em Bucha, na Ucrânia, que se assemelha a valas comuns. Registro é do dia 31 de março 

O presidente Volodmir Zelenski voltou a acusar a Rússia de comer “crimes de guerra” e “genocídio” na Ucrânia, depois que ele próprio visitou Bucha. Líderes da Europa e também o presidente americano Joe Biden endossaram a acusação de crimes de guerra e falaram em julgamento. A União Europeia discute o aumento das sanções.

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“Você viu o que aconteceu em Bucha”, disse Biden a repórter nesta segunda. Ele acrescentou que Putin “é um criminoso de guerra”. O americano, no entanto, não chegou a chamar as ações de genocídio. “O que está acontecendo em Bucha é ultrajante e todo mundo vê isso”, acrescentou.

Líderes ocidentais e ucranianos já acusaram a Rússia de crimes de guerra antes, e o promotor do Tribunal Penal Internacional abriu uma investigação pelo conflito. Mas os últimos relatórios aumentaram ainda mais a condenação.

A Rússia tenta levar o tema para ser discutido no Conselho de Segurança, alegando que são provocações “anti-Rússia”, mas o Reino Unido, que atualmente preside o órgão, se recusou a convocá-la. Os Estados Unidos e o Reino Unido acusaram a Rússia nas últimas semanas de usar as reuniões do Conselho de Segurança para espalhar desinformação./AP e NYT

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