Fogo destrói coração da Notre-Dame, a catedral mais visitada do mundo

Teto de carvalho do templo, assim como sua torre gótica e parte das obras de arte, foram consumidos por incêndio que durou mais de 8 horas e foi contido por 400 bombeiros

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Por Redação

PARIS - A Catedral de Notre-Dame, joia arquitetônica medieval e um dos pontos turísticos mais conhecidos de Paris, foi gravemente desfigurada nesta segunda-feira, 15, por um incêndio. Maisde 400 bombeiros impediram o colapso total da igreja, que começou a ser construída no século 12 e sobreviveu a guerras, a revoluções, à ação do tempo e ao ingresso de 13 milhões de turistas por ano. Uma investigação preliminar indica que o fogo começou de maneira acidental na catedral mais visitada do mundo. 

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Diante das chamas, os parisienses se reuniram nas margens do Rio Sena e sobre pontes para assistir, incrédulos, às chamas consumirem a catedral. Parte deles entoou a Ave Maria. Muitos choravam, enquanto o fogo se espalhava pelo prédio, que começou a ser construído em 1163 e foi concluído em 1345. O presidente francês, Emmanuel Macron disse: “Parte de nós queimou com a catedral”. 

O fogo começou às 18h50 (13h50 horário de Brasília) pouco antes de um discurso que Macron planejava fazer sobre os protestos dos “coletes amarelos”, que há meses desafiam seu impopular governo com protestos semanais. Ele seguiu para a catedral para acompanhar os trabalhos dos bombeiros. Segundo a polícia, o incêndio foi contido depois das 2 horas da madrugada.

 “Notre-Dame de Paris, presa das chamas, dor de toda uma nação”, escreveu o chefe de Estado no Twitter. Mais tarde, ele prometeu reconstruir a catedral juntamente com os franceses. “É o nosso destino”, disse. Segundo o chefe do Corpo de Bombeiros de Paris, Jean-Claude Gallet, o fogo começou no sótão da catedral, perto do pináculo de 45 metros de altura, que rapidamente foi destruído pelas chamas. 

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Ao menos 400 bombeiros trabalharam no combate às chamas, cuja parte mais intensa levou mais de três horas. Segundo Gallet, as duas torres frontais da catedral foram salvas, mas dois terços do telhado foram destruídos. Obras de arte que ficavam no interior da igreja foram resgatadas pelos bombeiros. Algumas estátuas tinham sido retiradas há apenas algumas semanas para limpeza. 

O Ministério Público investiga as causas do incêndio. Uma investigação completa, no entanto, levará tempo. As primeiras questões levantadas sobre as causas do incêndio apontam para a falta de prevenção em uma edificação tão antiga e importante turisticamente, assim como para a falta de investimento em restauração. Notre-Dame recebia cerca de 30 mil turistas por dia e 13 milhões por ano. 

A busca por culpados deve também ser demorada, em uma França já dividida politicamente. Com a popularidade em baixa, Macron tem tido dificuldade para lidar com os “coletes amarelos”, que denunciam um suposto elitismo urbano que não atende as necessidades da população mais rural e conservadora. 

Reparos

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Encravada na Ile de la Cité – pequena ilha no Rio Sena onde surgiu Paris ainda na Antiguidade, a Catedral de Notre-Dame era uma metáfora da própria França. Símbolo da identidade católica do país desde a Idade Média, pertencia ao Estado. Há pelo menos dois anos, a Diocese de Paris alertava para a necessidade de manutenção do monumento. 

Por ter grandes partes da edificação construída em madeira, a água e a poluição infligiam danos profundos à catedral. Uma estimativa feita pela fundação Amigos De Notre-Dame calculou em US$ 40 milhões o custo dos reparos mais urgentes. As obras em curso estavam orçadas em apenas US$ 6,4 milhões.

Após a tragédia de hoje, o magnata François-Henri Pinault anunciou que doará € 100 milhões para a renovação da catedral. “Meu pai (François Pinault) e eu decidimos desbloquear uma soma para a reconstrução completa da Notre-Dame”, afirmou o magnata francês, cuja família é dona de um conglomerado de marcas de luxo. 

O fogo teria começado na base da torre, de onde podem ser vistas chamas e fumaça preta. Foto: Pierre Galey / AFP

Segundo o porta-voz da catedral, André Finot, era comum o vento e a umidade derrubarem pedaços de rocha da cobertura da igreja. Algumas das estátuas ao redor da catedral tiveram de ser removidas também para serem restauradas. O limo acumulado da chuva, além do vento, fazia o acabamento das paredes não resistir ao simples toque. 

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“Em todo lugar as rochas estão erodindo e quanto mais venta mais partes das paredes estão caindo”, disse ele em uma entrevista de 2017 ao jornal The New York Times. “Isso está fugindo de controle.”

Para o professor de ciências da Universidade John Jay de Nova York, Glenn Corbett, existe um risco em conduzir trabalhos de renovação em prédios tão antigos. 

“São muitos os casos de igrejas e sinagogas, bem como outros templos de oração, serem vítimas de incêndios”, lembrou. Segundo ele, um dos motivos para que esse tipo de ocorrência seja comum é a grande quantidade de material inflamável nesses locais. 

Incêndio atingiu a Catedral de Notre Dame, nesta segunda-feira, 15. Foto: Pierre Galey / AFP

A Unesco disse estar ao "lado da França para restaurar e salvaguardar este patrimônio inestimável". A catedral foi declarada Patrimônio da Humanidade desde 1991.

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​Repercussão do incêndio na Catedral de Notre-Dame

O Vaticano disse ter ficado "chocado e triste com a terrível notícia sobre o símbolo da cristandade na França e no mundo" e apresentou sua solidariedade ao povo francês e as orações aos bombeiros e a todos que estão fazendo o possível para lidar com a situação.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pediu que as autoridades francesas "ajam com rapidez" para conter o incêndio na Catedral de Notre-Dame.   "Que horrível assistir ao amplo incêndio na Catedral de Notre-Dame, em Paris. Talvez aviões com tanques de água podem ser usados para apagar o fogo. Deve-se agir rapidamente", escreveu o republicano no Twitter. A direção da Segurança Civil disse que a possibilidade de usar aviões para apagar o fogo estava descartada, pois o peso da água destruiria todo o monumento.

A chanceler alemã, Angela Merkel, disse que a Notre-Dame é um "símbolo da França" e de "nossa cultura europeia". "Essas imagens horríveis doem. Nossos pensamentos estão com os amigos franceses", disse no Twitter o porta-voz da chanceler, Steffen Seibert. / AP, AFP  e REUTERS

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