MOSCOU - Uma explosão atingiu neste sábado, 8, a única ponte entre a Península da Crimeia e a Rússia. Uma parte da estrutura colapsou e caiu no mar. A ponte era um importante ativo logístico do Kremlin, usada para levar suprimentos da Rússia para a Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, e de lá para o sul da Ucrânia, onde tropas ucranianas realizam uma ofensiva para retomar a província de Kherson,
Fontes do governo ucraniano dizem que o serviço secreto do país, conhecido como SBU, organizou o ataque com um caminhão bomba. A destruição parcial da ponte é a mais recente de uma série de operações executadas pela Ucrânia dentro da Crimeia. No mês passado, uma base militar russa foi alvo de um drone ucraniano. Desde o início da guerra, Kiev tem mantido uma política de ambiguidade em relação a ataques contra o território russo e alguns ataques a terras ocupadas.
Analistas militares acreditam que qualquer impedimento ao tráfego na ponte pode ter um efeito profundo na capacidade da Rússia de travar uma guerra no sul da Ucrânia. Sem a estrutura, os militares russos ficarão severamente limitados em sua capacidade de levar combustível, equipamentos e munições para suas unidades que travam uma batalha cada vez mais intensa pelo controle do sul da Ucrânia. A Rússia ainda controla estradas em rotas terrestres da Rússia para a região de Kherson, mas elas estão ao alcance da artilharia de foguetes ucraniana.
A Ponte do Estreito de Kerch tem 19 quilômetros de extensão e foi inaugurada pelo presidente russo, Vladimir Putin, em 2018, que na ocasião dirigiu pessoalmente um caminhão na cerimônia de abertura da obra. Vídeos publicados nas redes sociais russas nesta manhã mostraram a ferrovia em chamas e duas das quatro pistas da estrada desmoronando no Mar Negro. Segundo a empresa Russian Railways, todos os trens de e para a Crimeia foram temporariamente cancelados.
Apesar de não reconhecer oficialmente o envolvimento com a explosão, o governo ucraniano celebrou o colapso da ponte. “É apenas o começo. Toda infraestrutura ilegal será destruída”, disse no Twitter o assessor especial de Zelenski, Mikhailo Podoloiak.
O presidente russo, Vladimir Putin, ordenou a criação de uma comissão governamental e instruiu o primeiro-ministro a criar uma comissão “para descobrir as causas do incidente e eliminar as consequências o mais rápido possível”, conforme comunicou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. Putin também determinou que os chefes do Ministério de Situações de Emergência e do Ministério dos Transportes da Rússia, Alexander Kurenkov e Vitaly Savelyev, fossem ao local de emergência na ponte da Crimeia.
Apesar disso, representantes do governo russo na Crimeia acusaram imediatamente o governo ucraniano pelo ataque.
“Vândalos ucranianos conseguiram chegar à ponte da Crimeia com as mãos ensanguentadas”, disse Vladimir Konstantinov, chefe do Parlamento da Crimeia instalado pelo Kremlin.
Nas últimas semanas, o tráfego militar que atravessa a ponte para a Crimeia aumentou à medida que a Rússia levou tanques e equipamentos de artilharia para as linhas de frente na região de Kherson, que tem sido o foco da contraofensiva da Ucrânia contra o exército russo. As tropas russas estão em retirada, abandonando cidades e vilarejos e voltando para a capital regional, de mesmo nome.
Em Moscou, a explosão da ponte levou a pedidos de retaliações duras contra o ucraniano. O deputado Leonid Slutsky disse que a represália é “inevitável” se a responsabilidade ucraniana for confirmada. “A resposta deve ser dura, mas não necessariamente direta”, disse ele. “A Rússia tem uma vasta experiência no combate a terroristas, e aqueles que usam seus métodos também devem entender isso muito bem.”
“A reação do regime de Kyiv à destruição da infraestrutura civil demonstra sua natureza terrorista”, disse a porta-voz da chancelaria russa, Maria Zakharova. Ao longo da guerra, a Rússia bombardeou repetidamente a infraestrutura civil ucraniana, incluindo estações ferroviárias, conjuntos habitacionais, hospitais, escolas e teatros. /NYT e W.POST
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