“Um dia você está nadando na piscina e no dia seguinte tudo desapareceu”. Foi dessa maneira que o ator americano James Woods definiu em entrevista à emissora CNN a sensação causada pelos incêndios florestais em Los Angeles. Morador de uma das áreas mais ricas do condado da Califórnia, Woods chorou ao falar sobre a destruição vivida nos últimos dias e demonstrou a extensão do dano, que atingiu desde as estrelas mais ricas até classes mais pobres.
Os incêndios causaram cinco mortes e destruíram duas mil propriedades até o final desta quarta-feira, 5. Os danos são vistos desde o bairro oeste de Pacific Palisades, onde James Woods e outros atores e atrizes de Hollywood moram, até Pasadena, no leste. Apesar dos incêndios serem sazonais no sul da Califórnia, o que se vê esta semana é descrito pelos moradores como fora do comum. Mais de 80 mil pessoas estão sob ordem de retirada.
Mansões foram completamente destruídas em Pacific Palisades. Bairros inteiros queimaram em Altadena. Na zona rural, trabalhadores precisaram deixar as terras para fugir do fogo. Novos empreendimentos em comunidades menores, como Pomona, foram obrigados a se retirar da região, atingida por ventos de 94 quilômetros.
“A única coisa que consigo pensar que se compararia a isso seria um terremoto enorme”, disse ao jornal The New York Times Zev Yaroslavsky, de 76 anos, que serviu por décadas em Los Angeles como vereador e supervisor do condado. “Exceto que os terremotos têm um epicentro.”
O vento espalhou ainda mais as chamas nesta quinta-feira, 9, e o fogo alcançou o bairro de Hollywood Hills, onde fica o famoso letreiro de Hollywood, o centro da indústria cinematográfica dos Estados Unidos. Um dos focos de incêndio, que ganhou o nome de Sunset, chegou a atingir uma área próxima ao Teatro Dolby, onde acontece a cerimônia do Oscar. As autoridades locais estimam que cerca de 109 km², o equivalente a 20 mil campos de futebol, já queimaram.
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Mesmo as áreas que não foram atingidas pelo fogo são afetadas por causa da fumaça que toma conta da região. “Quando fui pegar o jornal esta manhã, uma grande nuvem negra de fumaça estava sobre a cidade por causa do incêndio de Eaton. Parecia algo bíblico”, descreveu Yarolavsky.
Autoridades acostumadas a lidar com os desastres também afirmam que os incêndios desta semana são diferentes. “Morei aqui a minha vida inteira e nunca vi nada parecido com isso”, declarou Antonio Villaraigosa, prefeito de Los Angeles entre 2005 e 2013, período no qual costumava sobrevoar a região todos os anos para observar o dano causado por desastres.
“A devastação em Palisades. Os primeiros socorristas. O chefe dos bombeiros em Pasadena acabou de estimar que o número de casas perdidas lá estaria na casa dos três dígitos”, continuou o ex-prefeito ao NYT.
Segundo os meteorologistas, os ventos, principal alimento do fogo, devem continuar moderados a fortes entre a noite desta quinta e esta sexta-feira. As condições críticas de incêndio devem persistiriam em toda a região, caracterizada pelo clima seco.
Desde maio do ano passado Los Angeles não registra chuvas, o que piorou a condição de seca. “Há um ditado que quando o vento sopra, Los Angeles queima”, disse o historiador DJ Waldie, de 76 anos. “É verdade, mas há uma sensação sinistra dessa vez.” /NEW YORK TIMES