A Suprema Corte da Índia ouviu, nesta segunda-feira, 31, uma série de petições relacionadas à violência que atravessa o Estado de Manipur há quase três meses e classificou como “horrível” a violência contra as mulheres que foram vistas desfilando nuas em um vídeo que gerou indignação recentemente. Os conflitos na região já deixaram 142 mortos, além inúmeras denúncias de abuso sexual.
Um vídeo das duas mulheres, forçadas a desfilar nuas na frente de uma multidão de homens em uma área rural do distrito de Thoubal, em Manipur, veio à tona na semana passada e gerou indignação na Índia, embora a filmagem tenha sido feita no dia 4 de maio.
As imagens mostram duas mulheres, nuas, cercadas por um grupo de homens, alguns armados com pedaços de madeira. Enquanto são arrastadas pela multidão violenta para um terreno descampado, elas choram e tentam se cobrir, mas nada adianta. As mulheres do vídeo eram Kukis, enquanto os homens que as cercavam eram do grupo Meitei.
À imprensa local as mulheres afirmaram que, até então, os policiais teriam sido complacentes com os criminosos e que os pedidos de ajuda ficaram sem resposta. A primeira prisão relacionada ao caso só ocorreu quando o vídeo se tornou viral. “As mulheres mostradas no vídeo de Manipur foram entregues à multidão pela polícia, isso é horrível”, disse o tribunal.
A bancada da Suprema Corte, também composta pelos juízes JB Pardiwala e Manoj Misra, questionou por que a polícia demorou 14 dias para registrar um Primeiro Relatório de Informações (FIR), uma espécie de queixa policial, quando o incidente veio à tona em 4 de maio, segundo o Indian Express. O tribunal superior também pediu ao governo que o informe sobre as prisões feitas até agora e que fornecesse detalhes sobre o número de FIRs registrados sobre agressão sexual contra mulheres no estado do nordeste durante o conflito étnico.
A Suprema Corte também disse que o vídeo de duas mulheres tribais sendo despidas e desfilando nuas pode não ser um incidente isolado, como indica o depoimento do secretário do Interior da União, relatou a imprensa local.
Os advogados das mulheres pediram uma investigação independente durante a audiência. “O que queremos é uma agência que seja independente”, disse o advogado Kapil Sibal, opondo-se ao plano do governo indiano de que seja a agência governamental Central de Investigaciones (CBI) que investigue o caso. “O que precisamos é de uma agência em que as vítimas tenham confiança”, acrescentou Sibal.
O Ministério de Assuntos Internos da Índia também instou o tribunal superior a transferir o julgamento do caso para fora de Manipur para sua conclusão dentro do prazo. Até o momento, sete pessoas foram presas no caso.
Os motins étnicos na Índia começaram no dia 3 de maio, quando eclodiram as hostilidades entre a minoria tribal Kuki e a maioria Meitei quando um tribunal solicitou a classificação desta última comunidade como “grupo tribal”, o que lhes permitiria acessar cargos públicos em condições vantajosas.
O conflito chegou ao Parlamento, onde os partidos da oposição acusam o Governo de Narendra Modi, cujo partido, o Bharatiya Janata Party (BJP), também detém o poder em Manipur, de silenciar o que ali se passa e exigem a comparência do primeiro-ministro perante a câmera para dar explicações./Com EFE.
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