Índia suspende vistos para canadenses e agrava crise diplomática causada por morte de religioso

Relação entre os dois países chegou ao pior nível da história após Canadá acusar Índia de assassinar líder de minoria religiosa

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Por Suhasini Raje e Yan Zhuang
Atualização:

NOVA DÉLHI E SYDNEY, THE NEW YORK TIMES – A Índia suspendeu nesta quinta-feira, 21, os pedidos de visto de cidadãos canadenses e escalou a crise diplomática entre os dois países que se iniciou esta semana, após o Canadá acusar agentes indianos de estarem por trás do assassinato de um líder de minoria religiosa indiana que estava em solo canadense.

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Arindam Bagchi, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Índia, disse que a medida é uma questão técnica e de segurança. De acordo com ele, o alto comissariado do país e os consulados no Canadá estavam “temporariamente incapazes” de processar vistos devido a ameaças à segurança. A medida vale para todas as categorias de vistos.

“Isso interrompeu o funcionamento normal”, disse Bagchi durante a entrevista coletiva regular do ministério. “Revisaremos a situação regularmente”, acrescentou.

Imagem mostra primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, em encontro com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, durante reunião do G-20, em 10 de setembro. Relação entre os dois países se deteriorou após assassinato de minoria religiosa Foto: Sean Kilpatrick/The Canadian Press/via AP

A suspensão ocorre justo no momento em que a relação entre a Índia e o Canadá se deteriorou devido à declaração do primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, ao Parlamento canadense de que os serviços de inteligência do Canadá tinham informações que ligavam o governo indiano ao assassinato de um líder sikh (adepto do siquismo, religião que se originou no século 15 no Himalaia), o canadense Hardeep Singh Nijjar, na província da Colúmbia Britânica em 18 de junho.

O governo da Índia repudiou a alegação na terça-feira e acusou o Canadá de abrigar terroristas que buscam separar o território indiano para criar uma “pátria sikh”. Em seguida, a Índia decidiu expulsar de Nova Délhi um diplomata do alto escalão canadense. No dia anterior, o Canadá expulsou um diplomata indiano, descrito como chefe da agência de inteligência indiana em solo canadense.

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Nesta quinta-feira, Bagchi sinalizou que mais diplomatas canadenses poderiam em breve deixar a Índia, no que ele chamou de um passo para garantir a “paridade” entre as presenças diplomáticas dos dois países.

“O número deles aqui é muito maior do que o nosso no Canadá”, disse ele. “Os detalhes disso estão sendo acertados, mas presumo que haverá uma redução do lado canadense.”

Os canadenses expressaram indignação com a possibilidade de o governo indiano ter desempenhado um papel no assassinato de um cidadão canadense em solo canadense. Em julho, manifestantes em frente ao Consulado Geral da Índia em Toronto promoveram a causa separatista Sikh com cartazes em que diplomatas indianos eram acusados de estarem por detrás da morte de Nijjar.

Na quarta-feira, 20, o Ministério das Relações Exteriores da Índia apontou o que chamou de ameaças à segurança de seus cidadãos e diplomatas. Aconselhou os cidadãos indianos que vivem ou viajam para o Canadá a “exercer a máxima cautela” por causa do que descreveu como um aumento nas “atividades anti-Índia e nos crimes de ódio e violência criminal politicamente tolerados no Canadá”.

“Recentemente, as ameaças visaram particularmente diplomatas indianos e setores da comunidade indiana que se opõem à agenda anti-Índia”, disse o comunicado, acrescentando que os cidadãos indianos devem evitar viajar para regiões e locais no Canadá que tenham visto tais incidentes.

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Dominic LeBlanc, ministro da segurança pública do Canadá, rejeitou o aviso de viagem da Índia durante uma fala aos repórteres em Ottawa. “O Canadá é um país seguro. O que estamos fazendo é garantir que haja uma investigação criminal apropriada nessas circunstâncias”, disse.

O Canadá disse na quarta-feira que os próprios diplomatas receberam ameaças nas redes sociais, anunciando que a retirada de alguns deles da Índia para garantia de segurança.

O governo canadense ainda não divulgou quaisquer detalhes sobre as descobertas de inteligência sobre a morte de Nijjar, com a alegação de que isso prejudicaria a investigação policial e revelaria os métodos de coleta de informações do país. O Canadá pediu a ajuda da Índia na investigação.

“Não pretendemos provocar ou escalar (tensões)”, disse Trudeau aos repórteres na terça-feira. “Estamos simplesmente expondo os fatos tal como os entendemos e queremos trabalhar com o governo da Índia.”

Primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, no Parlamento do Canadá no dia 19 de setembro. Trudeau acusou Índia de estar por traz de assassinato em solo canadense Foto: Sean Kilpatrick/The Canadian Press/via AP

Para autoridades e analistas, a relação entre a Índia e o Canadá chegou ao pior nível da história após a crise desta semana e anos de tensão latente.

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Há muito o governo da Índia acusa o Canadá e outras nações ocidentais de inércia com relação ao grupos Sikh da diáspora africana considerados extremistas, incluindo o liderado por Nijjar, que apoiam um movimento separatista que ameaça a soberania da Índia.

O Canadá afirmou que respeita o direito de todos os seus cidadãos à liberdade de expressão na defesa de causas políticas. As autoridades indianas dizem que os políticos canadenses estão relutantes em conter o extremismo Sikh devido à influência do lobby do grupo, a maior população de Sikhs fora da Índia.

Autoridades na Índia acusaram o Canadá, o Reino Unido, os Estados Unidos e a Austrália de não agirem após separatistas, que pressionam pelo que é conhecido como Khalistan, nação independente que os Sikh querem estabelecer na região de Punjab, na Índia, vandalizarem missões diplomáticas e ameaçarem diplomatas indianos.

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