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Investigação aponta envolvimento de Putin na derrubada do avião MH-17 da Malaysia Airlines em 2014

Presidente russo teria assinado decisão que forneceu sistemas de mísseis aos separatistas que derrubaram o avião; incidente matou 298 pessoas, entre passageiros e tripulantes

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Por Mary Ilyushina

Uma investigação holandesa apontou nesta quarta-feira, 8, que o presidente russo, Vladimir Putin, provavelmente assinou uma decisão para fornecer sistemas de mísseis antiaéreos a separatistas pró-russos condenados por derrubar o voo 17 da Malaysia Airlines em 2014, no qual 298 passageiros e tripulantes foram mortos. Segundo os promotores, a assinatura foi feita antes da derrubada e implica Putin no incidente.

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Entretanto, embora os promotores tenham dito que existem “fortes indicações” do envolvimento de Putin na decisão de enviar mísseis, eles afirmaram que as evidências “não são concretas o suficiente” para uma nova acusação.

Em novembro, dois ex-oficiais de segurança do Estado russo e um líder separatista ucraniano foram condenados em um tribunal holandês pelo crime de assassinato na derrubada do avião, mas não foram presos ou extraditados. A Holanda foi responsável pela investigação porque o voo teve origem em Amsterdã.

Bombeiros trabalham em região onde caiu avião malaio Foto: Dmitry LovetskyAP

A Equipe de Investigação Conjunta (JIT) liderada pelos holandeses havia determinado anteriormente que um míssil terra-ar Buk fornecido pela Rússia atingiu o Boeing 777 que voava para Kuala Lumpur em 17 de julho de 2014.

Em entrevista coletiva em Haia nesta quarta-feira, o JIT disse que as conclusões sobre o papel de Putin foram baseadas em conversas telefônicas gravadas, nas quais autoridades russas disseram que a decisão de fornecer apoio militar aos separatistas só poderia ser tomada pelo presidente russo. “Há informações concretas de que o pedido dos separatistas foi apresentado ao presidente, e que este pedido foi concedido”, disseram os investigadores. “Não se sabe se o pedido menciona explicitamente um sistema Buk”, acrescentaram.

Apesar dos indícios, os investigadores afirmam que as provas não alcançam o rigor de evidências conclusivas. A equipe disse que esgotaram as pistas e que não haverá mais processos criminais relacionados ao caso.

Em novembro, um tribunal holandês condenou três acusados por assassinato e absolveu um quarto. A decisão judicial também concluiu que o governo russo teve responsabilidade pela derrubada do avião, financiando e armando as forças separatistas das regiões de Donetsk e Luhansk.

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O Kremlin há muito tempo nega qualquer envolvimento na derrubada do avião e se recusou a extraditar os condenados ou cooperar com os investigadores. Também sustentou, falsamente, que a Rússia não estava envolvida no conflito que se desenrola na região do Donbas em 2014 – e que, em certa medida, antecipou a guerra atual na Ucrânia.

Segundo os investigadores, todos os dados disponíveis de telecomunicações, radar e satélite foram analisados para estabelecer o que aconteceu com o avião e verificar o papel dos três homens condenados pela entrega do sistema de mísseis ao local onde o míssil foi lançado, em Pervomaiski.

“O objetivo desta investigação era descobrir a verdade, e acho que chegamos mais longe do que jamais imaginamos em 2014″, disse a vice-procuradora-chefe Digna van Boetzelaer. “As descobertas que descobrimos sobre o envolvimento russo até o mais alto nível podem desempenhar um papel importante nos processos em que a responsabilidade deste Estado está em questão.”

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Mas, dadas as evidências limitadas, a investigação não foi capaz de identificar os soldados específicos responsáveis por disparar o míssil que derrubou o avião, que veio da 53ª brigada da Rússia em Kursk. Os investigadores também não determinaram quais informações os separatistas tinham sobre o avião quando dispararam.

“O JIT investigou tudo o que pode sem a cooperação das autoridades russas e sem comprometer a segurança das pessoas”, disse Andy Kraag, chefe do Departamento Nacional de Investigação Criminal da Holanda, de acordo com uma transcrição. “Qualquer outra evidência deve ser procurada na Federação Russa. E para isso o JIT depende da cooperação das autoridades russas ou de testemunhas [internas] russas. Nossa porta permanece aberta para eles.”

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