Investigação sobre ataque ao Capitólio faz busca em casa de ex-colaborador de Trump

O ex-funcionário do Departamento de Justiça Jeffrey Clark foi fundamental para o esforço malsucedido do então presidente Donald Trump para reverter as eleições de 2020

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Por Redação
Atualização:

WASHINGTON - Investigadores federais fizeram buscas na casa de Jeffrey Clark, um ex-funcionário do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, na última quarta-feira, 23, em conexão com a investigação sobre os esforços de Donald Trump para reverter a eleição de 2020. As buscas ocorreram um dia antes de o comitê do Congresso que investiga o papel de Trump no ataque ao Capitólio realizar audiência com foco na pressão que ele exerceu sobre funcionários do Departamento de Justiça.

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Ainda não está claro o que os investigadores estavam procurando, mas Clark foi fundamental para o esforço malsucedido do presidente Donald Trump no final de 2020 para forçar os principais promotores do país a apoiar suas alegações de fraude eleitoral.

“Donald Trump não queria apenas que o Departamento de Justiça investigasse. Ele queria que o Departamento de Justiça legitimasse suas mentiras”, disse o presidente do comitê, Bennie Thompson, no início da audiência desta quinta-feira, 23. “Hoje, vamos contar a história de como a campanha de pressão também teve como alvo a agência federal encarregada de fazer cumprir nossas leis: o Departamento de Justiça”.

Uma carta do ex-funcionário do Departamento de Justiça Jeffrey Clark é mostrada durante audiência sobre o ataque ao Capitólio Foto: Demetrius Freeman/Reuters

O foco da audiência de hoje era o papel de Clark em ajudar Trump a dobrar o departamento à sua vontade e, finalmente, auxiliar em uma tentativa de persuadir autoridades em vários estados-chave a mudar o resultado de suas eleições.

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Russ Vought, ex-diretor do Escritório de Administração e Orçamento dos EUA, que recentemente contratou Clark para trabalhar para seu grupo de defesa legal Center for Renewing America, confirmou as buscas policiais pelo Twitter. Segundo ele, mais de uma dúzia de policiais federais revistaram a casa em uma operação antes do amanhecer, “o colocaram nas ruas de pijama e levaram seus aparelhos eletrônicos”.

A Procuradoria dos EUA confirmou que houve atividade policial na quarta-feira em Lorton, Virgínia, subúrbio de Washington perto de onde Clark mora, mas se recusou a dar mais detalhes. Pessoas próximas ao caso que falaram com o The New York Times confirmaram que a operação tinha conexão com as investigações do Capitólio.

O papel de Clark na fraude

Trump considerou e depois abandonou um plano nos dias anteriores ao ataque de 6 de janeiro para colocar Clark no comando do Departamento de Justiça como procurador-geral interino. Na época, Clark estava propondo enviar uma carta às autoridades estaduais da Geórgia afirmando falsamente que o departamento tinha evidências que poderiam levar a Geórgia a rescindir sua certificação da vitória de Joe Biden naquele estado decisivo.

A busca na casa de Clark também aconteceu quando um grande júri federal continuou a emitir intimações a pelo menos oito pessoas em quatro estados diferentes que estavam envolvidas em um plano de Trump e seus aliados para subverter o funcionamento normal do processo eleitoral criando listas falsas de eleitores pró-Trump em estados que na verdade foram vencidos por Biden.

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Clark não respondeu a um pedido de comentário até esta quinta-feira.

Clark, que já atuou como chefe interino da divisão civil do Departamento de Justiça, ajudou no final de dezembro de 2020 a redigir uma carta ao governador Brian Kemp, da Geórgia, afirmando - sem evidências - que o Departamento de Justiça havia identificado “preocupações significativas” sobre o “resultado da eleição” na Geórgia e em vários outros estados.

A carta aconselhou Kemp, um republicano, a convocar uma sessão especial da legislatura de seu estado para criar “uma lista separada de eleitores que apoiam Donald Trump”.

Clark pressionou o procurador-geral interino na época, Jeffrey Rosen, a assinar e enviar a carta a Kemp, mas Rosen recusou. Rosen deveria testemunhar perante o comitê da Câmara junto com Richard Donoghue, ex-vice-procurador-geral interino e ex-procurador-geral assistente do Gabinete do Conselheiro Jurídico Steven Engel.

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Clark forneceu um depoimento. No Twitter no início deste ano, Clark se autodenominou “um dos principais alvos do comitê J6 politicamente motivado”.

Esforços em vários estados

Na quarta-feira, o Departamento de Justiça entregou intimações do grande júri a dois funcionários do Partido Republicano na Geórgia, bem como a assessores de campanha de Trump em Michigan, Arizona e Novo México, informaram o Times e o The Washington Post.

O Detroit News informou que um grupo de republicanos de Michigan que assinaram um certificado alegando falsamente ter dado os votos eleitorais do estado para Trump em dezembro de 2020 está recebendo intimações do grande júri de autoridades federais. O jornal citou várias fontes.

O Departamento de Justiça está investigando se houve uma conspiração para avançar listas alternativas de eleitores falsos em estados-chave com o objetivo de anular o resultado da eleição.

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De acordo com uma intimação vista pela agência Reuters focada na falsa lista de eleitores na Geórgia, os investigadores estão buscando cópias de documentos de outubro de 2020 relacionados a “qualquer esforço, plano ou tentativa de servir como eleitor em favor de Donald Trump e /ou (vice-presidente) Mike Pence.”

Eles também estão buscando cópias de comunicações entre possíveis eleitores e quaisquer funcionários do governo federal, bem como comunicações envolvendo aliados de Trump, incluindo os advogados Rudy Giuliani e John Eastman.

Trump culpa falsamente sua derrota por fraude generalizada, uma alegação rejeitada por tribunais, funcionários eleitorais estaduais e membros de seu próprio governo.

Em um discurso inflamado do lado de fora da Casa Branca em 6 de janeiro, Trump falou da necessidade de reverter sua derrota eleitoral. Seus partidários invadiram o Capitólio, fazendo com que legisladores e Pence fugissem para salvar suas vidas quando se reuniram para certificar os resultados das eleições. Quatro pessoas morreram em 6 de janeiro, uma baleada pela polícia e as outras de causas naturais. Cerca de 140 policiais ficaram feridos, e um que lutou contra os manifestantes morreu no dia seguinte./NYT e REUTERS

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