O Irã reforçou o compromisso de fornecer armas para os ataques da Rússia à Ucrânia, segundo informaram autoridades de segurança dos Estados Unidos e aliados. O país desta vez teria concordado secretamente em enviar não apenas drones kamikazes, mas também os primeiros mísseis terra-superfície.
O aumento do fluxo de armas, destinadas ao ataque contra cidades ucranianas e posições de tropas, pode ajudar a Rússia a compensar as perdas em larga escala de equipamentos sofridas desde o início da guerra, segundo os relatos pelo governo americano. Essas perdas causaram uma rápida diminuição nas munições guiadas e precisas da Rússia – o que também pode ser compensado agora.
Agências de notícias independentes publicaram fotos nos últimos dias do que parecem ser drones iranianos usados em ataques contra alvos ucranianos na semana passada, e funcionários do Pentágono também confirmam publicamente o uso dos drones em ataques aéreos russos – incluindo alguns derrubados pelos militares ucranianos. As informações e as imagens questionam as repetidas negações do Irã sobre o fornecimento das armas.
Segundo informações obtidas por um país aliado dos EUA, Teerã enviou funcionários para a Rússia em 18 de setembro para finalizar os termos dos envios adicionais de armas, incluindo os drones e os mísseis. A indústria de armamento do Irã planeja enviar um carregamento de mísseis Fateh-110 e Zolfaghar – dois mísseis balísticos iranianos de curto alcance, capazes de atingir alvos a distâncias de 300 e 700 quilômetros, respectivamente. Caso seja concretizada, será a primeira entrega desses tipos de mísseis para a Rússia desde o início do conflito.
As autoridades falaram com a condição de que seus nomes e nacionalidades não sejam revelados devido às extremas sensibilidades em torno dos esforços de coleta de informações.
Em agosto, as mesmas autoridades identificaram drones iranianos específicos – Shahed e o Mohajer-6 – que Teerã estava começando a fornecer à Rússia para uso na Ucrânia. Os destroços de ambos os mísseis foram recuperados, analisados e fotografados pelas forças ucranianas nas últimas semanas. A Rússia parece ter repintado as armas e as renomeado com nomes russos.
Autoridades informadas sobre o carregamento planejado de mísseis dizem que o Irã também prepara novas entregas de veículos aéreos não tripulados para a Rússia (drones), dos modelos Mohajer-6 e Shahed-136s. Estes últimos, chamados de drones “kamikazes” por serem projetados para colidir contra os alvos, são capazes de carregar cargas explosivas a uma distância de até 2,4 mil km.
Guerra na Ucrânia
Ainda de acordo com as autoridades, assessores técnicos do Irã visitaram áreas controladas pela Rússia nas últimas semanas para fornecer instruções sobre a operação dos drones.
Agências de inteligência dos EUA se recusaram a comentar os relatórios de envios iranianos pendentes para a Rússia. Autoridades da Rússia e do Irã não responderam aos pedidos de comentários sobre relatos de mísseis iranianos em mãos dos militares russos.
No último sábado, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Hossein Amirabdollahian, disse ao homólogo português em uma ligação diplomática que “a República Islâmica do Irã não tem e não fornecerá nenhuma arma para ser usada na guerra da Ucrânia”. “Acreditamos que o armamento de cada lado da crise prolongará a guerra”, acrescentou.
No dia 3 deste mês, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Nasser Kan’ani, também negou que o país tenha envolvimento com o fornecimento de drones à Rússia. “A República Islâmica do Irã considera os relatórios sobre a entrega de drones à Rússia para uso na guerra da Ucrânia ‘infundados’ e não os confirma”, disse ele. Kan’ani reafirmou a reivindicação de neutralidade do Irã no conflito e ressaltou a necessidade de os “dois lados resolverem seus problemas por meios políticos livres de violência”.
A Rússia também reagiu contra os relatórios ocidentais sobre o envio de armas iranianas para o país. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, chamou-os de “falsos”.
Governo da Ucrânia recolheu e avaliou drones
A Ucrânia recolheu e avaliou separadamente os restos de drones utilizados pela Rússia nos conflitos do sul do país e determinou que são fabricados pelo Irã. Em resposta, Kiev rebaixou os laços diplomáticos com Teerã.
Segundo as autoridades ucranianas, os drones iranianos foram responsáveis por destruir vários tanques militares e danificar a infraestrutura civil nos diversos ataques realizados nas últimas três semanas.
Especialistas em mísseis dizem que a chegada de mísseis terra-superfície poderia dar à Rússia novas armas poderosas no momento em que as forças de Kiev recuperam o território perdido no Sul e no Leste, em parte devido à artilharia fornecida pelo Ocidente. Bloqueada por sanções de obter eletrônicos ocidentais, a Rússia recorre “a países como Irã e Coreia do Norte para suprimentos e equipamentos”, incluindo drones, munições de artilharia e foguetes. /W. POST
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