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Análise|Irã lança ações militares cada vez mais ousadas para se fortalecer e amplia risco de guerra regional

Analistas acreditam que os ataques recentes iranianos a países vizinhos servem como demonstração de força de Teerã aos EUA e Israel

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Foto do author Luiz Raatz
Atualização:

Desde o começo do ano, a tensão no Oriente Médio aumentou exponencialmente. O temor de uma guerra se espalhar pelos países da região, já preocupante em razão do conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas, na Faixa de Gaza, saltou de patamar depois que uma série de ataques aéreos na região envolveram diversos atores.

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Fazem parte desta onda de violência grupos radicais islâmicos os Houthis, o Hezbollah, o Estado Islâmico e o Hamas; países ocidentais como Israel, os Estados Unidos e o Reino Unido; e outras nações da região, como Irã, Líbano, Iêmen, Síria, Iraque e o Paquistão.

Analistas acreditam que os ataques recentes iranianos a países vizinhos servem como demonstração de força de Teerã aos EUA e Israel depois de ataques contra aliados e até mesmo em solo iraniano. Hoje, o risco de uma guerra regional é maior do que antes dos atentados do Hamas contra Israel, mas ainda há interesse dos envolvidos de evitar uma escalada.

A crise atual envolve tantos atores e num espaço de tempo tão curto que fica mais simples visualizá-la no mapa abaixo.

A grosso modo, no entanto, os envolvidos na atual crise podem ser separada em três grupos: O Irã e seu chamado ‘eixo da resistência xiita’ no Iêmen, Gaza, Líbano, Síria e Iraque; Israel e seus aliados ocidentais; e grupos sunitas contrários ao Irã em ação no Paquistão.

O eixo da resistência

Pouco depois dos atentados terroristas do Hamas contra Israel, ainda em outubro, grupos ligados ao Irã atacaram alvos americanos no Iraque, na Síria e no Iêmen com drones. Na ocasião, o ataque foi descrito pelo Pentágono de pequena escala, mas preocupante. Em novembro, novos ataques ocorreram no Iraque, organizados, segundo Washington, pela milícia pró-Irã Kataib Hezbollah (um grupo diferente do Hezbollah libanês).

Novembro e dezembro foram marcados também pelo início dos ataques Houthis contra embarcações no Mar Vermelho. Segundo o grupo xiita, também apoiado pelo Irã, que luta em uma guerra civil contra o governo do Iêmen e a Arábia Saudita há dez anos, a ofensiva era uma retaliação à invasão de Gaza por Israel. Os ataques provocaram temores de desestabilização das rotas marítimas globais, já que o Canal de Suez é um importante ponto de passagem entre Europa e Ásia.

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Gaza, Líbano e Cisjordânia

Os primeiros meses da guerra contra o Hamas em Gaza foram marcados também pelo aumento da violência na Cisjordânia e pela troca de ataques de baixa intensidade entre Israel e o grupo radical xiita Hezbollah na fronteira com o Líbano.

Na Cisjordânia, agressões e colonos judeus contra palestinos e operações do Exército de Israel contra militantes em Jenin depois do início da guerra deixou por volta de 300 mortes.

Israel e Hezbollah trocaram uma série de ataques na fronteira até o fim de 2023, que deixou cerca de 90 militantes libaneses mortos. Outros 17 civis israelenses também morreram.

Operações ocidentais

Diante dos ataques de grupos ligados ao Irã no Iraque e na Síria, americanos optaram por retaliar com operações cirúrgicas. Washington mantém um pequeno efetivo militar de respectivamente 2,5 mil militares nos dois países, com a justificativa de evitar um ressurgimento do Estado Islâmico.

No Dia de Natal, o coordenador da Guarda Revolucionária do Irã na Síria, e mais três pessoas morreram em um ataque aéreo atribuído a Israel.

Com a chegada do ano novo, os EUA e o Reino Unido decidiram também retaliar os houthis em razão dos ataques no Mar Vermelho. Na última semana, foram quatro ataques com mísseis contra o grupo rebelde, além de uma missão da tropa de elite Seal da Marinha Americana, a mesma responsável por matar Osama Bin Laden, para encontrar armas iranianas a caminho do Iêmen no Índico.

Uma bomba no coração do Irã

Embora todos os episódios envolvendo israelenses americanos e os grupos pró-Irã tenham contribuído para o agravamento da tensão no Oriente Médio desde a invasão de Gaza, o episódio que alterou os cálculos dos aiatolás iranianos sobre como usar seu poderio militar foi o atentado de 3 de janeiro, quando mais de 100 pessoas morreram durante uma homenagem ao aniversário de morte do ex-comandante da Guarda Revolucionária Qassan Soleimani.

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O Estado Islâmico- K, uma filial do grupo radical sunita que atua na Ásia Central, especialmente no Afeganistão e no Paquistão, reivindicou o ataque, apesar de autoridades iranianas terem apontado o dedo inicialmente para americanos e israelenses.

O bombardeio trouxe dois novos elementos à crise: a entrada de radicais sunitas, inimigos mortais do Irã xiita e a percepção de fragilidade do Irã, atacado em um evento tão simbólico como a homenagem a Soleimani, morto em uma operação americana em 2020.

Os aiatolás contra-atacam

Desde o atentado do começo do ano, o Irã tem se mostrado cada vez mais agressivo. A primeira mostra de que Teerã está militarmente disposto a ir além das usuais operações de inteligência e financiamento de grupos amigos veio com um ataque em Erbil, no Iraque, no dia 15, onde supostamente funcionaria um posto de inteligência israelense. Houve também ataques iranianos contra posições do Estado Islâmico na Síria.

Mas a ação mais surpreendente do regime dos aiatolás foi o bombardeio contra separatistas baluches, no Paquistão. O ataque intrigou analistas. O Paquistão é uma potência nuclear e suas relações do Irã com Islamabad, apesar da maioria sunita paquistanesa, estão longe de estarem tão desgastadas quanto com a Arábia Saudita, por exemplo. Nesta quinta-feira, 18, os paquistaneses responderam com um ataque similar do lado iraniano da fronteira.

O sucesso do ataque do Hamas contra Israel e os ataques dos houthis e das milícias iraquianas têm encorajado o Irã a buscar um maior protagonismo militar no Oriente Médio. Ao mesmo tempo, o regime viu a necessidade de projetar mais força depois do atentado de janeiro e exibir a expertise de suas armas por meio, por exemplo dos ataques houthis.

Além de desenvolver drones de ponta, muitos deles utilizados pela Rússia na guerra contra a Ucrânia, o Irã tem apostado tambén na construção de mísseis balísticos e especialistas acreditam que alguns deles estejam sendo usados pelos houthis no Mar Vermelho.

“A posição do Irã como potência regional no Oriente Médio faz com que Teerã tenha a ganhar com a instabilidade regional e com o preenchimento de vácuos de poder”, diz Karim Sadjadpour, do Carnegie Endowment for International Peace. “O principal objetivo do regime é neutralizar a influência americana no Oriente Médio.’

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O general aposentado do Exército dos EUA Wesley Clark, ex-comandante supremo dos aliados da Otan, disse à CNN que as várias hostilidades refletem o esforço do Irã para consolidar seu papel como líder na região.

“O Irã está buscando a hegemonia regional”, disse ele à CNN. “E quando os Estados Unidos e Israel estão lá, e Israel está realizando essa campanha contra o Hamas, então o Irã sente a necessidade de revidar e se afirmar”, disse.

Além disso, o Irã tem como objetivo levar a disputa com americanos e israelenses para fora de suas fronteiras, e por isso aposta nesse tipo de ‘ataque por procuração’. Por um lado, evita um confronto direto e por outro pode pressionar indiretamente seus rivais.

“Os ataques por procuração permitiram que o Irã mantivesse algum nível de negação plausível, ao mesmo tempo em que forneciam a Teerã, de forma assimétrica, meios para atacar efetivamente Israel ou pressioná-lo”, escreveu o Centro de Combate ao Terrorismo em West Point em um relatório de dezembro.

O risco, no entanto, é uma retaliação escalar e sair do controle, o que faz dos planos de Teerã uma estratégia questionável. Grupos terroristas atacaram recentemente em solo iraniano. E, durante anos, Israel realizou ataques direcionados ao programa nuclear iraniano, matando algumas de suas principais figuras e destruindo instalações. O próprio Soleimani foi morto no Irã em um ataque iraniano. E tudo isso antes da crise detonada pelo 7 de outubro.

Análise por Luiz Raatz

É jornalista formado pela PUC-SP. Subeditor de internacional do Estadão, tem 20 anos de experiência em coberturas na América Latina e Oriente Médio.

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