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Irã culpa Salman Rushdie e apoiadores por atentado sofrido pelo escritor

Esta foi a primeira declaração oficial de Teerã a respeito do ataque contra o escritor; na década de 1980, o líder supremo iraniano emitiu uma fatwa, ou édito islâmico, condenando o autor à morte

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Por Redação
Atualização:

TEERÃ - O governo iraniano se pronunciou oficialmente pela primeira vez, nesta segunda-feira, 15, sobre o ataque a facadas sofrido pelo escritor anglo-indiano Salman Rushdie. De acordo com o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores do Irã, o autor de Versos Satânicos e seus apoiadores são os únicos responsáveis pelo atentado.

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“Nós não culpamos, ou reconhecemos digno de condenação, ninguém, exceto ele mesmo e seus apoiadores”, disse o porta-voz do Ministério, Naser Kanani, acrescentando que o escritor insultou a “santidade do islã” e cruzou os limites de mais de meio bilhão de mulçumanos.

O governo do Irã também negou qualquer ligação com o agressor que esfaqueou o escritor britânico Salman Rushdie. “Negamos categoricamente qualquer relação entre o agressor e o Irã”, e “ninguém tem o direito de acusar a República Islâmica”, disse Naser Kanani.

Ele acrescentou que o Irã “não tinha nenhuma outra informação além do que a imprensa americana informou.’’

Esfaqueado pelo americano Hadi Matar enquanto participava de uma palestra no Estado de Nova York, Rushide ficou gravemente ferido no episódio. No sábado, Salman Rushdie foi extubado, segundo Andrew Wylie, agente do escritor. Ele apresenta melhora significativa e deve restabelecer o movimento da mão, apesar de os nervos do braço terem sido afetados pelo ataque. Rushdie teve o fígado atingido e também pode perder um olho.

Salman Rushdie em foto tirada em Paris em 10 de setembro de 2018. Foto: Joel Saget/AFP Foto: Joel Saget/AFP

A obra de Rushdie fez com que ele se tornasse alvo de ameaças de morte no Irã desde a década de 80. O livro Os Versos Satânicos de Rushdie é proibido no país desde 1988. Muitos muçulmanos consideram a história uma blasfêmia.

O aiatolá Ruhollah Khomeini, morto em 3 de junho de 1989, emitiu uma fatwa, ou édito islâmico, pedindo a morte de Rushdie. Uma recompensa de mais de US$ 3 milhões também foi oferecida por uma fundação iraniana para quem tirasse a vida do escritor. Rushdie passou cerca de dez anos sob proteção policial e vivendo na clandestinidade. Ele mora nos EUA desde 2000.

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O ataque

Rushdie, de 75 anos, foi esfaqueado na sexta-feira enquanto participava de um evento no oeste de Nova York. Seu agressor, Hadi Matar, de 24 anos, se declarou inocente das acusações por intermédio de seu advogado. A polícia de Nova York não deu nenhum motivo para o ataque, embora o promotor Jason Schmidt tenha aludido à recompensa pela morte de Rushdie em sua argumentação contra a fiança durante uma audiência no fim de semana. “Mesmo que este tribunal estabeleça uma fiança de US$ 1 milhão, corremos o risco de que a fiança possa ser paga”, disse Schmidt.

Matar nasceu nos EUA de pais que emigraram de Yaroun, no sul do Líbano, perto da fronteira com Israel. Bandeiras do grupo militante xiita Hezbollah, apoiado pelo Irã, além de retratos de líderes iranianos, estão pendurados na vila. Segundo um funcionário local, registros mostram que Matar tem cidadania libanesa e é xiita. De acordo com o funcionário, que falou sob condição de anonimato, o pai de Matar mora lá, mas está recluso desde o ataque.

Após o ataque, a venda do romance Os Versos Satânicos disparou. Na livraria Strand de Nova York, diversas obras de Rushdie estavam entre as mais procuradas pelo público.

Os EUA condenaram o fato de o Irã ter responsabilizado Rushdie e seus comentários sobre o Islã pelo ataque que sofreu na semana passada. “Culpar a vítima por este ataque é desprezível. É repugnante. Nós condenamos isso”, afirmou o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, em entrevista coletiva. Price também criticou que o governo iraniano tenha desempenhado um “papel central” nas ameaças sofridas pelo escritor ao longo das últimas três décadas. /AFP, AP

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