O Irã começou a produzir urânio altamente enriquecido na usina de Fordo, a cerca de 180 quilômetros ao sul de Teerã, e levantou suspeitas entre os países do Ocidente de que a iniciativa desafia os acordos de não proliferação nuclear de 2015. A produção foi confirmada pelo chefe da Organização Iraniana de Energia Atômica, Mohammad Eslami, na agência de notícias estatal Isna nesta terça-feira, 22.
A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) também confirmou a produção em Fordo e lembrou que o Irã já tinha relançado essa produção em Natanz em abril de 2021.
As produções levantam suspeitas sobre o país cumprir o acordo sobre o seu programa nuclear, feito em Viena em 2015. O documento determina que Teerã não pode exceder 3,67% de enriquecimento, garantindo que o país não faça uma bomba nuclear – que requer um nível de enriquecimento de urânio de 90%. “A decisão iraniana não tem nenhuma justificativa civil e desafia o sistema de não proliferação nuclear”, afirmaram o Reino Unido, a França e a Alemanha em um comunicado conjunto.
Os Estados Unidos também expressaram “profunda preocupação” com o avanço do programa nuclear do Irã.
O acordo de 2015, assinado por essas quatro potências ocidentais juntamente com a China e a Rússia, previa o levantamento das sanções internacionais contra o Irã em troca de garantias de que o país não desenvolveria armas atômicas.
Entretanto, os Estados Unidos se retiraram do acordo em 2018, sob a presidência de Donald Trump, e voltaram a impor sanções a Teerã, tornando o documento vazio. Em resposta, o Irã passou a quebrar os compromissos estabelecidos, mas nega que as atividades visem o desenvolvimento de uma bomba e insiste que o programa tem finalidade civil.
Represálias
Em retaliação às sanções dos EUA, o Irã disse em janeiro de 2021 que estava trabalhando para enriquecer urânio a 20%. Vários meses depois, outra instalação iraniana em Natanz (centro) atingiu a marca de 60%.
No acordo de 2015, a República Islâmica havia concordado em congelar as atividades da usina de Fordo, construída no subsolo para protegê-la de possíveis bombardeios.
As medidas anunciadas na terça-feira foram consideradas por Reino Unido, França e Alemanha passos significativos para esvaziar o acordo. O porta-voz de Segurança Interna da Casa Branca, John Kirby, criticou o “progresso no programa nuclear do Irã” e “a melhoria constante de suas capacidades de mísseis balísticos”.
Após a derrota eleitoral de Trump, Joe Biden expressou o desejo de que Washington participe de uma reativação do acordo. Os contatos foram retomados em abril do ano passado, mas o secretário de Estado Antony Blinken afirmou no mês passado que vê poucas chances de restaurá-lo no momento atual, no qual o Irã vive uma onda de manifestações e as reprime violentamente.
Resolução crítica da AIEA
O acordo entre as grandes potências e o Irã foi supervisionado pela AIEA, mas as relações entre Teerã e a agência da ONU se deterioraram nas últimas semanas. O conselho de governadores da AIEA aprovou na quinta-feira, 17, uma resolução criticando a falta de cooperação do Irã, após um pronunciamento semelhante em junho.
As resoluções alegam a ausência de respostas “tecnicamente credíveis” do Irã sobre restos de urânio enriquecido encontrados em três instalações não declaradas.
Teerã anunciou que retaliaria por essas resoluções e a agência Isna afirmou que o aumento da capacidade da usina de Fordo é parte da resposta iraniana. Em agosto, o país pediu o encerramento da investigação da AIEA sobre os locais não declarados do país. /AFP
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