Todos os três irmãos Fayed, ex-proprietários da Harrods, agora são acusados de agressão sexual

Escândalo de abuso que antes parecia estar centrado no bilionário Mohamed al-Fayed se ampliou para incluir Salah e Ali

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Por Megan Specia (The New York Times)

Amy McIlquham tinha 21 anos quando foi convidada para passar um fim de semana prolongado em Gstaad, na Suíça, com seu chefe. McIlquham havia ingressado na Harrods, uma loja de departamentos de luxo em Londres, em 1993. Canadense em um programa de trabalho no exterior, ela foi promovida do atendimento ao público para assistente pessoal de Mohamed Al Fayed, que era proprietário da empresa com seus irmãos mais novos, Salah e Ali.

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No início de 1994, ela embarcou no jato particular da empresa e voou para Gstaad para trabalhar como assistente de Ali.

No entanto, ao chegar, percebeu que não havia trabalho a fazer. Ela estava sozinha no chalé com Ali e uma governanta. Então, Ali, que estava na casa dos 50 anos, a levou para uma piscina. Ela lembra do maiô preto e do colar de pérolas falsas que estava usando.

“Eu só lembro dele me puxando para dentro, me agarrando pela cintura e pelo quadril, apalpando e puxando”, disse McIlquham, hoje com 52 anos, em uma entrevista. Ela acredita que isso aconteceu no fim de semana de 30 de abril de 1994, porque lembra que o Eurovision Song Contest estava passando na TV. “Fui molestada, sexualmente molestada, sem dúvida. E ele apenas ria”, disse ela.

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Um porta-voz de Ali, agora com 81 anos e morando em Greenwich, Connecticut, negou as acusações de McIlquham e de outras mulheres. “Os supostos incidentes simplesmente nunca ocorreram”, disse o porta-voz em um comunicado. “O Sr. Fayed não é um agressor e não será bode expiatório. Ele se defenderá vigorosamente dessas alegações infundadas.”

Em setembro, um documentário da BBC revelou como Mohamed Al Fayed, um bilionário ex-presidente da Harrods, abusou de mulheres por décadas antes de morrer em 2023. Mais de 20 mulheres relataram ter sido estupradas ou sexualmente agredidas por ele, detalhando como ele usava suas empresas para aliciar e explorar mulheres. A Harrods pediu desculpas, descrevendo-o como “um indivíduo que estava determinado a abusar de seu poder onde quer que atuasse”.

Nos meses seguintes, várias ex-funcionárias vieram a público para alegar que seus irmãos — Salah, que morreu em 2010, e Ali — também as assediaram, aprofundando um escândalo que antes parecia girar em torno de um único homem.

Sendo o único irmão vivo, Ali ainda pode enfrentar consequências à medida que a história sombria da família Fayed e da icônica loja de departamentos que administravam vem à tona. Neste mês, a BBC publicou os relatos de três mulheres, incluindo McIlquham, que disseram que Ali as agrediu sexualmente enquanto trabalhavam para a Harrods nos anos 1990.

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McIlquham acredita que o que aconteceu com ela na Suíça fazia parte de um sistema maior nas empresas dos Fayed para explorar mulheres. Ela disse que Ali “operava esse sistema em seu benefício”.

Ao se manifestarem, McIlquham e outras mulheres não acusam apenas Ali, mas também médicos, recrutadores, profissionais de RH e outros que, segundo elas, permitiram os abusos nas empresas dos Fayed.

Escândalo de abuso que antes parecia estar centrado no bilionário Mohamed al-Fayed se expandiu para incluir seus irmãos, Salah e Ali, com quem ele era proprietário da loja de departamento de luxo Harrods.  Foto: Andrew Testa/The New York Times

Relatos feitos ao The New York Times por outras três mulheres que disseram ter sido alvo de Mohamed ou Salah, juntamente com registros judiciais, indicam um padrão de exploração na Harrods e no Ritz Paris, um hotel que os irmãos também possuíam. Documentos, e-mails e detalhes corroborados por outras mulheres fornecem mais evidências para suas alegações.

A Harrods, agora de propriedade do fundo soberano do Catar, disse que não comentaria casos individuais, mas “apoia a coragem de todas as sobreviventes que se manifestaram”. “As alegações apontam para a extensão dos abusos de Mohamed Fayed e levantam sérias acusações contra seus irmãos, Salah e Ali Fayed”, disse um porta-voz da Harrods.

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As mulheres eram recrutadas para cargos em que estariam vulneráveis.

Os irmãos Fayed, nascidos no Egito, fundaram juntos uma empresa de transporte marítimo e depois acumularam interesses no setor de petróleo, bancos e imóveis ao redor do mundo.

Eles compraram o Ritz Paris em 1979 e a Harrods em 1985. Quando Mohamed se mudou para Londres em 1974, acrescentou “al-” ao seu nome, embora seus irmãos ainda usassem apenas “Fayed”. Mohamed mais tarde ficou conhecido pelo relacionamento entre seu filho, Dodi, e Diana, a Princesa de Gales, que morreram juntos em um acidente de carro em 1997. Salah e Ali permaneceram figuras menos conhecidas, mas seus interesses comerciais estavam entrelaçados.

Quatro mulheres entrevistadas pelo Times descreveram ter sido recrutadas para programas de treinamento executivo que as aproximavam dos irmãos. Duas disseram que foram alvo de mais de um deles.

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Em outubro de 1993, enquanto trabalhava como assistente pessoal de Mohamed, McIlquham foi enviada para a Villa Windsor, a mansão em Paris onde Edward VIII e Wallis Simpson viveram, e que Mohamed havia alugado. Após dormir, ela disse que Mohamed entrou em seu quarto apenas com uma toalha na cintura e se deitou em sua cama.

“As apalpadelas, a respiração ofegante, o toque, ele simplesmente avançando para cima de você, foi horrível”, disse ela. Ele saiu quando ela mencionou a mãe dela.

Outra funcionária da Harrods, que pediu anonimato, estava na viagem com McIlquham e corroborou a estadia na Villa Windsor, bem como a data — 13 de outubro de 1993 — que havia registrado em seu diário.

McIlquham disse que não contou a ninguém sobre os ataques de Mohamed ou Ali porque assumiu que seria culpabilizada. Precisava do emprego para pagar o aluguel e continuou trabalhando na Harrods até 1996, quando deixou o Reino Unido. “Eu precisava me distanciar do que estava acontecendo e ir o mais longe possível”, disse ela.

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Outras mulheres compartilharam relatos semelhantes sobre Salah, incluindo um caso detalhado em um relatório da BBC de novembro. Em uma ação judicial movida em Londres em 29 de janeiro, uma mulher, que teve anonimato garantido pelo tribunal, alegou que Salah a drogou e estuprou enquanto ela trabalhava na Harrods e que ele a coagiu a “interromper uma gravidez forçada”, segundo os documentos judiciais. Ela está processando a empresa.

Os abusos também se estenderam a outras empresas dos Fayed.

Kristina Svensson, 56 anos, trabalhou no Ritz Paris de 1998 a 2000 como assistente pessoal de Mohamed. Ela disse que funcionários seniores do hotel sabiam que os empregados estavam sendo abusados, uma alegação corroborada por um e-mail visto pelo Times. “Não fomos contratadas para trabalhos reais. Fomos contratadas para ser abusadas sexualmente”, disse ela.

A Polícia Metropolitana de Londres recebeu mais de 100 denúncias contra Mohamed Al Fayed desde que o documentário da BBC foi ao ar. Em novembro, a polícia anunciou que estava investigando pelo menos cinco pessoas que podem ter facilitado os abusos.

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c.2025 The New York Times Company

Este conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado por nossa equipe editorial. Saiba mais em nossa Política de IA.