Pela terceira vez desde dezembro, um vulcão no sudoeste da Islândia está em erupção. A lava da erupção engoliu um cano e cortou o fornecimento de água quente para cerca de 30 mil pessoas em toda a Península de Reykjanes. As áreas próximas também foram esvaziadas ou fechadas, embora a atividade vulcânica esteja diminuindo.
O repetido barulho de atividade nos últimos meses indica que o magma subterrâneo está ativo. Isso também significa que mais atividade vulcânica não está fora de questão.
“Não há indícios de que tenha uma erupção maior a caminho; mas o que nós sabemos é que o magma ainda flui para a crosta e é armazenado por um tempo e depois ocasionalmente explode em erupção”, disse David Pyle, vulcanologista da Universidade de Oxford. “Vimos esse mesmo padrão desde o final de outubro e parece que isso irá continuar no futuro.”
Imagens de um voo de vigilância da Guarda Costeira Islandesa indicam que esta erupção está acontecendo na mesma área que as erupções anteriores, mais recentemente em dezembro e janeiro. O Gabinete Meteorológico da Islândia tem observado um aumento da atividade sísmica na área desde outubro, o que pode ter sido um precursor da atividade vulcânica.
Embora as erupções vulcânicas sejam comuns em toda a Islândia, a atividade recente ocorreu em uma região que esteve calma durante séculos.
A Islândia consiste em três zonas de atividade vulcânica — no norte, leste e oeste — disse o geólogo Thomas Algeo. As erupções tendem a frequentemente ocorrer em uma zona durante séculos e depois a atividade muda para uma nova zona.
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A recente atividade na Península de Reykjanes faz parte da Zona Vulcânica Ocidental, que até recentemente não estava ativa desde 1200. As erupções nesta zona representam um risco para as populações mais próximas, diferentemente das comunidades nas zonas vulcânicas oriental e norte, que ficam em áreas relativamente remotas.
Não é incomum haver sucessões rápidas de erupções quando os sistemas de fissuras vulcânicas ficam ativos, afirmou Algeo. “É possível (mas ainda incerto) que a atividade magmática tenha se deslocado para a [Zona Vulcânica Ocidental] e que sofrerá muitas erupções nas próximas décadas ou séculos”, escreveu Algeo, professor da Universidade de Cincinnat.
Na manhã de quinta-feira, 7, a atividade sísmica começou a nordeste do Monte Sýlingarfell, de acordo com o Gabinete Meteorológico da Islândia. Meia hora depois, uma erupção vulcânica começou na área. Uma rachadura na rocha, ou uma fissura eruptiva, estendeu-se por cerca de três quilômetros, expandindo-se para o norte e para o sul.
Fontes de lava atingiram alturas de aproximadamente 49 a 79 metros, e colunas de cinzas vulcânicas subiram cerca de 3,2 quilômetros acima da fissura eruptiva, de acordo com o gabinete.
Fragmentos de rocha vulcânica que foram lançados no ar, conhecidos como piroclasto, foram arremessados a cerca de três quilômetros de distância, até a cidade de Grindavík. O piroclasto pode ser tão afiado quanto o vidro e pode impactar atividades humanas a centenas de quilômetros na direção do vento, reduzindo a visibilidade nas estradas e no céu, e até mesmo causando curto-circuito em transformadores elétricos e linhas de energia. Até agora, porém, gabinete informou que o sedimento parece estar relativamente próximo da fissura eruptiva.
O fornecimento de água quente cortado pela erupção poderá levar cerca de um dia para ser restabelecido, de acordo com jornais locais. A erupção também fez com que a Lagoa Azul, um dos pontos turísticos mais populares do país, fechasse pelo menos até esta sexta-feira, 9. A polícia disse que Grindavík e as estradas vizinhas também estão fechadas.
“Estes danos à infraestrutura serão corrigidos em breve, mas dão uma ideia de como mesmo pequenas erupções podem ser bastante perturbadoras”, disse Pyle, vulcanologista de Oxford.
Erupções foram semelhantes
A erupção desta semana, disse Pyle, é muito semelhante aos eventos de dezembro e janeiro, que começaram em uma longa fissura e diminuíram rapidamente de intensidade após a erupção de muito magma.
“Esta erupção, e as de dezembro e janeiro, comportaram-se de forma muito semelhante à prevista pelos cientistas do Instituto Metológico da Islândia”, disse Pyle. “Esta é uma boa notícia para a nossa compreensão do que está acontecendo e significa que podemos nos preparar melhor cientificamente para quaisquer eventos futuros.”
Dias antes da erupção de quinta-feira, cientistas do Gabinete Meteorológico da Islândia e da Universidade da Islândia determinaram que aproximadamente 6,5 milhões de metros cúbicos de magma se acumularam abaixo da região. Esse era o mesmo volume de antes da erupção de janeiro, então os cientistas previram que o vulcão estava prestes a explodir novamente.
Os mecanismos impulsionadores das recentes erupções provavelmente podem ser rastreados até a atividade de novembro passado. Em novembro, os cientistas relataram a formação de uma dique com cerca de 14,5 quilômetros, que serve como o canal principal para o magma viajar e atingir a superfície durante uma erupção vulcânica.
Durante a formação do dique, o magma fluiu a uma taxa sem precedentes — 7.400 metros cúbicos por segundo, de acordo com uma nova pesquisa divulgada quinta-feira. Isso está próximo da vazão média do rio Yukon, um rio que corre entre os Estados Unidos e o Canadá. O evento causou danos e estimulou evacuações na cidade de Grindavík, que ficava acima do rio de magma.
No novo estudo, os pesquisadores buscaram entender melhor a formação da dique. A equipe analisou medições de deformação do solo e observações sísmicas para modelar como a dique evoluiu e como o magma foi transportado. Eles descobriram que a fratura e as tensões tectônicas desempenharam um papel importante na condução desses fluxos massivos de magma, mesmo quando há apenas uma quantidade modesta de pressão excessiva de baixo para cima.
As descobertas poderão ajudar os cientistas a compreender como é que grandes fluxos de magma e diques podem se formar em outras regiões geologicamente semelhantes.
A Islândia fica na Dorsal Meso-Atlântica, uma cordilheira predominantemente subaquática onde as placas tectônicas da América do Norte e da Eurásia estão lentamente se espalhando e alargando o Oceano Atlântico. Essa força tem se acumulado ao longo de centenas de anos e é a principal razão para a atividade contínua na Islândia, disse Magnús Tumi Guðmundsson, um geofísico da Universidade da Islândia que não esteve envolvido na pesquisa.
A nova pesquisa pode ajudar a entender melhor a atividade “ao longo das dorsais meso-oceânicas do mundo e em Afar (África Oriental), onde ocorre o início da expansão do fundo do mar”, escreveram os autores no estudo.
“As erupções estão fornecendo novas informações sobre como os sistemas de expansão das dorsais meso-oceânicas se comportam”, disse Algeo, que não esteve envolvido na pesquisa. “A Islândia é praticamente o único lugar do mundo onde um centro de expansão oceânica se eleva acima do nível do mar, tornando possíveis observações diretas. Os cientistas estão ganhando novas perspectivas sobre como o magma se move e é redistribuído em tais sistemas vulcânicos.”
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