Da ficção à realidade: Israel constrói arma a laser capaz de destruir foguetes e drones

Arma está em desenvolvimento há anos, mas somente agora apresentou resultados satisfatórios para Israel

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Por Isabel Kershner
Atualização:

JERUSALÉM (THE NEW YORK TIMES) - Após duas décadas de pesquisa e experimentação, as autoridades de defesa de Israel agora afirmam que desenvolveram um protótipo de arma a laser capaz de atingir foguetes, morteiros, drones e mísseis que estiverem em voo. Segundo as autoridades, o sistema foi bem-sucedido em uma série de testes recentes de tiro ao alvo.

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Durante os testes, feitos no sul de Israel, o armamento se provou capaz de destruir um foguete, um morteiro e um drone, provocando uma ovação de pé das autoridades que assistiam à realização. O primeiro-ministro israelense Naftali Bennett descreveu a arma como uma “virada estratégica” e prometeu “cercar Israel com uma parede de laser”. Centenas de milhões de dólares foram gastos no seu desenvolvimento.

Profissionais envolvidos na construção da arma afirmam que deve demorar anos até que ela esteja pronta para operar em conflitos armados. E, segundo especialistas, o uso da arma, quando estiver pronta, pode se limitar inicialmente a proteger Israel de foguetes. Autoridades israelenses não informaram se ela seria eficaz contra os mísseis guiados de precisão que Israel acusa o Hezbollah de desenvolver no Líbano.

Kibutz israelense é alvo de foguete disparado pelo Hezbollah  Foto: Laetitia Vancon/The New York Times

Da ficção à realidade

Ainda assim, as armas a laser passaram dos filmes de ficção científica e da fantasia dos jogos para a realidade. Pelo menos uma arma desse tipo, a Helios, da empresa Lockheed Martin, já começou a ser implantada em navios da Marinha dos Estados Unidos.

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“Há muito trabalho promissor com laser em andamento”, disse Thomas Karako, membro sênior do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington. “Isso não é mais ficção científica de ‘Star Wars’.”

De acordo com Karako, o Exército dos EUA também trabalha no desenvolvimento de armas a laser, incluindo armas mais poderosas, capazes de derrubar mísseis de cruzeiro, e se prepara para começar a implantá-las.

No entanto, os feixes de laser conhecidos ainda possuem sérias limitações, como não poder atravessar nuvens. Nenhum desses equipamentos foi testado em batalha até o momento.

Um salto tecnológico

No caso do sistema de defesa aérea a laser de Israel, chamado Iron Beam, as autoridades pretendem utilizá-lo como complemento, e não substituto, de outros equipamentos do arsenal militar do país - incluindo o Iron Dome, conhecido sistema de interceptação de mísseis de curto alcance, e os sistemas de interceptação de mísseis de médio e longo alcance.

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O premiê de Israel, Naftali Bennet, fala em proteger o país com uma parede de laser Foto: Gil Cohen-Magen/Pool via REUTERS

O funcionamento dos sistemas existentes é diferente das armas a laser. Enquanto os antigos funcionam disparando pequenos mísseis em direção aos projéteis inimigos, o novo concentra feixes de laser em um ponto específico do projétil - um míssil, por exemplo - para aquecê-lo a ponto dele explodir no ar. O ministro da Defesa de Israel, Benny Gantz, disse que Israel foi “um dos primeiros países do mundo” a desenvolver tal arma.

O general de brigada Yaniv Rotem, chefe da equipe de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Defesa, disse que durante os testes de março a nova arma foi capaz de interceptar as ameaças em segundos após a detecção e a uma distância de até 10 quilômetros. Nos testes anteriores, o tempo de resposta era de minutos.

Busca por armas a laser coleciona fracassos

Em 1983, o então presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, criou a Iniciativa de Defesa Estratégica, amplamente ridicularizada como “Guerra nas Estrelas”, para encontrar uma forma de derrubar mísseis balísticos nucleares. Os militares buscaram o uso da tecnologia a laser, mas abandonaram os esforços em 1993 depois de gastar mais de US$ 200 bilhões em dez anos.

A pesquisa em torno da tecnologia continuou em outros programas. No final da década de 1990, Israel e os EUA tentaram produzir um sistema experimental de laser de alta energia com alcance menos ambicioso, com o objetivo de destruir foguetes em voo. O programa ficou conhecido como Nautilus e foi abandonado em 2005, em parte devido às dificuldades de transportar o sistema e ao baixo desempenho apresentado.

A tecnologia usada antes era do laser químico, que exige produtos químicos corrosivos e tóxicos para induzir um feixe e um maquinário quase do tamanho de um laboratório local. Agora, os sistemas utilizam o laser de estado sólido, que precisa apenas de grandes quantidades de eletricidade para funcionar.

Jovem israelense passa por destroços de foguete lançado de Gaza contra Israel Foto: Dan Balilty/The New York Times

Em um avanço tecnológico recente, os desenvolvedores israelenses dizem que foram capazes de combinar e concentrar muitos feixes de laser, em uma intensidade muito alta, em um único ponto específico de um alvo aéreo.

O Ministério da Defesa de Israel recentemente concedeu um contrato no valor de mais de US$ 100 milhões à estatal Rafael Advanced Defense Systems Ltd., a principal fabricante do sistema a laser. A estatal trabalha com a tecnologia há cerca de 20 anos. Somente nos últimos dois anos, entretanto, conseguiram resolver algumas complicações - como o tamanho e a baixa eficácia.

“Tivemos problema com energia, rastreamento e capacidade de furar a atmosfera”, declarou Michael Lurie, vice-presidente e chefe da Diretoria de Sistemas de Manobra Terrestre da Rafael. “Neste momento, o que enfrentamos são desafios de engenharia. Mas sabemos que o sistema funciona”.

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Nova tecnologia tem baixo custo, diz Israel

Autoridades israelenses dizem que a principal vantagem do Iron Beam será o custo. Segundo Bennett, a cada interceptação do Iron Beam serão gastados cerca de US$ 3,50 por tiro. Em comparação, os sistemas atuais de defesa custam dezenas de milhares de dólares para cada míssil disparado.

Além disso, o Iron Dome é fortemente subsidiado pelos Estados Unidos, que alocaram um bilhão de dólares adicionais para a arma no orçamento de 2022, no momento em que a ajuda militar dos EUA a Israel se torna cada vez mais controversa. Israel também compartilha o conhecimento do sistema a laser com os americanos, disseram autoridades israelenses.

Segundo general Yaniv Rotem, o preço gasto com o Iron Beam é equivalente à quantia gasta por inimigos - com munições, artilharias e outros armamentos - ao longo de duas semanas de conflito. A tecnologia seria primeiro alocada ao redor da Faixa de Gaza, afirmou o general, e depois ao longo de todas as fronteiras hostis de Israel.

O professor Gabi Siboni, especialista em estratégia militar do Instituto de Estratégia e Segurança de Jerusalém, um centro de pesquisa israelense, avaliou que Israel nunca abandonou a ideia da tecnologia a laser. “Será mais barato, mais seguro e dependente menor do rearmamento”, declarou.

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Para o futuro, Israel trabalha em uma nova tecnologia capaz de interceptar ameaças acima das nuvens. O sistema atual, por enquanto, é ineficaz em condições nebulosas e nubladas - e por isso vai servir como um complemento aos outros sistemas de defesa.

Entretanto, o custo real para implantar e operar o Iron Beam ainda é uma dúvida para os especialistas. Ao contrário de um lançador tradicional, que pode enviar vários mísseis contra diversos alvos simultaneamente, as armas a laser precisam se concentrar em um alvo antes de passar para outro, de acordo com a avaliação de Tal Inbar, especialista independente em espaço e mísseis e pesquisador sênior na Missile Defense Advocacy Alliance, uma organização americana.

Isso leva a uma necessidade de vários equipamentos a laser - o que eleva o custo. “Mesmo que sejam descritos como muito baratos porque precisam apenas de eletricidade”, disse Inbar.

Entretanto, o barato é relativo. No ano passado, por exemplo, Israel utilizou caças F-35, os aviões de guerra mais sofisticados do país. para interceptar dois drones do Irã no espaço aéreo de um país vizinho, disse um alto oficial militar sob anonimato. Ele destacou que os custos dos israelenses em casos como esses, em que os alvos são foguetes e drones relativamente baratos, são discrepantes com os gastos inimigos. Com o Iron Beam, as autoridades israelenses esperam corrigir esse desequilíbrio.

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