As Forças de Defesa de Israel têm procurado assegurar ao público que podem atingir simultaneamente os dois objetivos da sua guerra contra o grupo terrorista Hamas: destruir o grupo terrorista e resgatar cerca de 230 reféns que foram sequestrados no dia 7 de outubro e estão no enclave palestino.
Mas à medida que o exército intensifica os ataques aéreos e as incursões terrestres na Faixa de Gaza, em preparação para uma invasão mais ampla, as famílias dos reféns estão cada vez mais preocupadas com a possibilidade de esses objetivos colidirem – com consequências devastadoras.
Aniquilar o grupo terrorista Hamas deve exigir uma operação terrestre de intensidade sem precedentes, com risco de ferir os reféns israelenses em Gaza. O governo de Israel não descreveu como seria uma missão de resgate. Em um discurso televisionado no final do sábado, 28, o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu reconheceu a agonia das famílias dos reféns e prometeu que a sua libertação era uma parte “integrante” do esforço de guerra de Israel, junto com o seu objetivo de destruir o grupo terrorista Hamas.
Os líderes políticos do grupo terrorista Hamas estão em negociações com Egito e Catar para garantir a liberdade de pelo menos alguns civis israelenses. Quatro reféns foram libertados até agora.
A ansiedade em relação aos reféns do Hamas atingiu um pico no sábado, quando Israel intensificou a sua campanha aérea e enviou tropas para Gaza com grande poder de fogo. Multidões protestaram em frente ao Ministério da Defesa de Israel, em Tel Aviv, exigindo que Netanyahu e outras autoridades abordassem o destino dos seus entes queridos.
Funcionou. Netanyahu se reuniu com as famílias no sábado e prometeu “exercitar e esgotar todas as possibilidades para trazê-las para casa”. O ministro da Defesa, Yoav Gallant, prometeu encontrá-los neste domingo, 29, para o que seu gabinete descreveu como a primeira reunião oficial com eles.
Em um comunicado, Gallant afirmou que o curso da guerra pode ajudar na libertação de reféns. “Há uma chance maior de que o inimigo concorde com soluções para devolver os entes queridos quando conseguirmos avançar em Gaza”, disse ele.
Protestos
“Não esperamos mais”, disse o manifestante Malki Shem-Tov, cujo filho de 21 anos, Omer, está em cativeiro em Gaza. “Queremos todos eles de volta conosco hoje. Queremos que vocês, o Gabinete, o governo, imaginem que estes são seus filhos.”
A situação dos reféns chamou a atenção do país nas últimas três semanas. A mídia israelense está repleta de histórias sobre os reféns e de entrevistas com suas famílias.
Mas todas as opções militares acarretam riscos enormes. Uma operação terrestre mais intensa pode levar a uma guerra longa no enclave palestino. Com os reféns supostamente escondidos na extensa rede de túneis do Hamas, os combates intensos levantam a perspectiva de um caos absoluto tanto para os soldados como para os reféns.
Equilibrar os interesses das famílias com o objetivo militar de destruir o Hamas apresentou um dilema para Netanyahu, que já está sob ataque pelo fracasso do seu governo em evitar o pior ataque terrorista da história de Israel.
Amos Yadlin, general reformado e antigo chefe da inteligência militar de Israel, aponta que o desafio do governo era satisfazer a imensa pressão pública tanto para devolver os reféns em segurança como para exterminar o grupo terrorista Hamas. Ele insistiu que os dois objetivos poderiam ser reconciliados se o governo encontrasse a “estratégia certa”.
“Ambos devem ser tratados simultaneamente”, disse Yadlin, sem dar mais detalhes.
Diplomacia
Muitos especialistas acreditam que a melhor estratégia para salvar reféns continua a ser a diplomacia. O grupo terrorista Hamas ofereceu no sábado a Israel uma troca: a libertação de todos os reféns em Gaza por todos os prisioneiros palestinos detidos por Israel.
Israel tem uma longa história de acordo com trocas desiguais de prisioneiros. Em 2011, libertou mais de 1.000 prisioneiros em troca de Gilad Schalit, um soldado que foi sequestrado e arrastado através da fronteira para Gaza. Muitos desses prisioneiros, incluindo o principal líder do Hamas em Gaza, Yehia Sinwar, foram condenados pelos assassinatos de israelenses.
“Se o inimigo quiser acabar com este caso imediatamente, estamos prontos para isso”, disse Abu Obeida, porta-voz do braço armado do Hamas.
Saiba mais
O porta-voz militar israelense, Daniel Hagari, foi evasivo e acusou o grupo terrorista de explorar as emoções dos familiares dos reféns.
Mas as famílias que viram quatro mulheres serem libertadas na semana passada, após uma complexa diplomacia de reféns, afirmaram que não estão convencidas de que o governo de Israel está concentrado em libertar os reféns.
“Eles sentem que foram deixados para trás e ninguém está realmente se importando com eles”, disse Miki Haimovitz, um ex-deputado que falou em nome das famílias dos reféns no protesto de sábado. “Ninguém está explicando o que está acontecendo.”/AP
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.