JERUSALÉM — Autoridades de Israel e dos Estados Unidos expressaram um otimismo nesta quinta-feira, 4, sobre uma proposta de cessar-fogo na Faixa de Gaza, depois que o grupo terrorista Hamas revisou seu posicionamento e o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu disse a Joe Biden que ele estava enviando uma nova delegação de negociadores para as negociações por uma trégua, paralisadas há algumas semanas.
Fontes da Casa Branca disseram que acreditavam que o novo progresso nas conversas equivalia ao que alguém repetidamente chamou de “um avanço” nas negociações de meses de duração, embora eles disseram que levaria algum tempo para trabalhar com muitos passos que envolvem a implementação de uma trégua. Autoridades israelenses e outras envolvidas nas negociações concordaram que houve progresso, mas o descreveram em termos mais cautelosos.
As discussões se baseiam em um acordo de três fases divulgado por Biden no fim de maio e endossado pela ONU. Se executado, o acordo estipularia, em última análise, o fim da guerra, uma retirada israelense completa de Gaza e que o Hamas e seus aliados libertassem os 120 reféns vivos e mortos restantes em Gaza para os palestinos mantidos em prisões israelenses.
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Avanços específicos
Um assessor de Biden diretamente envolvido nas conversações disse que agora há um amplo acordo sobre os passos necessários para uma transição da fase 1, de um cessar-fogo temporário, para a fase 2, um fim permanente aos combates e a libertação de reféns vivos.
O funcionário, que pediu para não ser identificado devido à sensibilidade das negociações, comparou a situação atual ao acordo que foi finalmente alcançado em novembro, que permitiu um cessar-fogo por várias semanas e a libertação de 105 reféns. Ele disse que uma “estrutura está agora em vigor” para uma nova trégua, mas que ainda havia mais para fazer para chegar a um acordo final.
A mudança seguiu o anúncio do Hamas na quarta-feira, 3, de que havia “trocado algumas ideias” com os mediadores sobre o acordo de cessar-fogo após semanas de impasse. Um oficial israelense, que falou sob condição de anonimato, disse na quarta-feira à noite que grandes lacunas entre os lados permaneciam, mas que a posição revisada do Hamas dava abertura para avançar nas conversas.
David Barnea, chefe da agência israelense Mossad, irá liderar o time de negociações israeleneses no Catar na sexta-feira, 5, disse um oficial israelense e outro oficial familiarizado com as conversas.
Muitos obstáculos permanecem, incluindo a questão se Netanyahu irá arriscar sua coalizão de direita ao concordar com um cessar-fogo com o Hamas. Dois de seus parceiros da coalização de extrema direita insistiram que a guerra contra o Hamas continue, potencialmente forçando Netanyahu a escolher entre um acordo que termine com a guerra e liberte os reféns, e a sobrevivência de seu governo.
O gabinete de Netanyahu disse que o primeiro-ministro reiterou em seu telefonema com Biden na tarde de quinta-feira que Israel iria acabar com a guerra apenas depois de “alcançar seus objetivos”. Os objetivos declarados de Israel incluem destruir as capacidades militares e governamentais do Hamas em Gaza e garantir que o enclave palestino não represente mais uma ameaça. Os dois objetivos podem levar um tempo para serem alcançados, caso de fato sejam.
As negociações de cessar-fogo foram interrompidas em junho. Depois de Biden ter anunciado a proposta, o Hamas pediu emendas, e Israel rapidamente declarou que o grupo terrorista tinha rejeitado o acordo, enquanto o governo Biden concordou que algumas das demandas do Hamas eram inviáveis.
Em comunicado, a Casa Branca disse que Biden “saudou a decisão do primeiro-ministro de autorizar seus negociadores a se envolverem com os mediadores dos Estados Unidos, do Catar e do Egito, em um esforço para fechar o acordo”, mas não fez menção de ressalvas israelenses.
Por meses, Egito, Catar e os Estados Unidos realizaram conversações sobre um potencial cessar-fogo e a libertação de reféns ainda presos em Gaza. Os mediadores contataram Israel e Hamas, que não se comunicam um com o outro diretamente, no esforço de parar a guerra depois de quase nove meses.
Hamas quer garantia de fim da guerra
Os principais obstáculos nas negociações de Gaza estão relacionados a uma disputa fundamental: o Hamas quer garantias de que o acordo levaria ao fim da guerra e à retirada total das forças israelenses, enquanto os líderes israelenses prometeram continuar lutando até que o Hamas seja destruído e manter o controle da segurança de Gaza no pós-guerra nas mãos israelenses.
Segundo duas autoridades envolvidas nas conversações, recentes desacordos se concentraram principalmente em dois parágrafos do acordo proposto, ambos relacionados a negociações de uma trégua permanente. Essas negociações aconteceriam durante a primeira fase do acordo, na qual alguns reféns seriam trocados por palestinos presos em Israel.
O Hamas quer limitar essas conversas ao número e a identidade dos palestinos presos a serem libertados para cada refém restante, enquanto Israel quer deixar isso em aberto, para que então mais tópicos pudessem ser acrescentados na discussão, disseram as autoridades.
O Hamas teme que Israel poderia torpedar as negociações ao expandi-las a um acordo para lidar com outras questões efetivamente insolúveis, o que iria permitir a Israel continuar com a guerra, disseram os oficiais. Mediadores do Catar ofereceram ao Hamas três possíveis alternativas na última semana, de acordo com dois oficiais sêniors, embora não deram mais detalhes sobre quais seriam essas alternativas.
A proposta também estipula que se Israel e o Hamas não conseguirem chegar a um acordo sobre um cessar-fogo permanente antes que a trégua de seis semanas expire, as negociações continuarão até que consigam. Os dois altos funcionários disseram que o Hamas queria uma palavra que garantisse que Israel não poderia declarar unilateralmente que as conversas haviam colapsado e retornar à batalha.
O governo de Biden espera que uma trégua em Gaza irá permitir que Israel e Hezbollah também alcancem um acordo diplomático.
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