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Israel e Hamas se aproximam de um acordo para libertar dezenas de reféns, diz jornal

Israel quer a libertação de todas as 100 mulheres e crianças levadas de Israel, mas é provável que o número inicial seja menor porque o Hamas indicou que está pronto para libertar 70 mulheres e crianças

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Por David Ignatius

TEL AVIV - Israel e o grupo terrorista Hamas estão próximos de um acordo de reféns que libertaria a maioria das mulheres e crianças israelenses que foram sequestradas em 7 de outubro, segundo uma autoridade israelense de alto escalão. O acordo poderá ser anunciado dentro de alguns dias se os detalhes finais forem resolvidos, disse ele.

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“O esboço geral do acordo foi feito e todos estão de acordo”, explicou a autoridade israelense em uma entrevista na segunda-feira, solicitando anonimato para discutir o assunto. O acordo provisório prevê que mulheres e crianças israelenses sejam libertadas em grupos, simultaneamente com mulheres e jovens palestinos mantidos em prisões israelenses.

Israel quer a libertação de todas as 100 mulheres e crianças levadas de Israel, mas é provável que o número inicial seja menor. O Hamas indicou que está pronto para libertar 70 mulheres e crianças, segundo uma declaração de um de seus funcionários no canal Telegram do grupo, citada pela Reuters na segunda-feira.

Famílias de sequestrados israelenses pelo grupo terrorista Hamas protestam contra a demora pela volta dos reféns em Jerusalém, Israel  Foto: Atef Safadi/EFE

Não se sabe ao certo o número de mulheres e jovens palestinos que podem ser libertados, mas uma autoridade árabe me disse na semana passada que havia pelo menos 120 na prisão.

Um cessar-fogo temporário, de cinco dias, acompanharia a troca de reféns e prisioneiros, disse a autoridade israelense. Essa trégua permitiria uma viagem segura para os prisioneiros israelenses. Também poderia permitir mais assistência internacional aos civis palestinos em Gaza e aliviar a crise humanitária no local, explicou a autoridade israelense.

O presidente americano Joe Biden expressou forte apoio dos EUA a um acordo sobre os reféns em uma ligação no domingo, 12, expressando “apreço” pessoal ao emir do Catar, Tamim bin Hamad al-Thani, cujo país atuou como mediador com o Hamas. “Os dois líderes concordaram que todos os reféns devem ser libertados sem demora”, disse um comunicado da Casa Branca.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, cumprimenta o Emir do Catar, Tamim bin Hamad Al Thani antes de uma reunião bilateral  Foto: Jacquelyn Martin/AP

Crise humanitária

As autoridades americanas esperam que um acordo de libertação de reféns e uma trégua temporária possam reduzir o clamor internacional em torno da guerra. Israel não concordará em encerrar sua campanha para destruir o poderio militar do Hamas. Mas as autoridades do país reconhecem a necessidade de ajudar os civis palestinos, cuja situação se tornou desesperadora.

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Israel quer a confirmação de que os reféns mantidos em cativeiro, cada um identificado por seu nome, está sendo libertado ao trocar os prisioneiros palestinos. Esse processo de verificação é um dos detalhes que as autoridades ainda estavam negociando na segunda-feira, 13.

A negociação de Israel com o grupo terrorista Hamas tem sido conduzida indiretamente por meio do Catar, onde a liderança política do Hamas vive. O primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman bin Jassim al-Thani, delineou o esforço de mediação em uma entrevista comigo na última quarta-feira em Doha. No dia seguinte, ele se reuniu com o diretor da CIA, William Burns, e David Barnea, diretor do serviço de inteligência israelense Mossad, para discutir a estrutura que agora parece estar próxima de um pacote final.

O Mossad trabalhou em estreita colaboração com o Catar e a CIA na elaboração do acordo. As autoridades israelenses apreciam a ajuda do Catar, mas querem que os catarianos exerçam sua influência sobre o Hamas para que liberte seus prisioneiros, em vez de apenas mediar. O Egito também desempenhou um papel importante ao incentivar as negociações e pressionar o Hamas, acreditam as autoridades israelenses.

Yocheved Lifschitz, de 85 anos, fala com a imprensa após ser libertada pelo grupo terrorista Hamas  Foto: Abir Sultan/EFE

A libertação das mulheres e crianças israelenses seria o primeiro passo para o que Israel insiste que deve ser a liberdade de todos os reféns em Gaza. O alto funcionário israelense disse que um total de 240 a 250 reféns estão sendo mantidos. A maioria deles é de cidadãos israelenses, incluindo alguns de dupla nacionalidade que também são cidadãos dos Estados Unidos, da Alemanha e de outros países. Cerca de 35 são estrangeiros não israelenses, a maioria tailandeses que estavam trabalhando em Israel, disse a autoridade.

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A autoridade israelense disse que seu governo está empenhado em libertar todos os reféns, incluindo cerca de 90 civis do sexo masculino e um grupo menor de soldados, que o Hamas provavelmente vê como os mais valiosos. “Queremos o maior número possível, o mais rápido possível, e ninguém fica para trás”, enfatizou a autoridade.

O Hamas disse aos cataris que seus agentes capturaram apenas soldados israelenses, mas a autoridade israelense disse que essa afirmação é falsa. O Hamas está com a “grande maioria” dos reféns, incluindo um pequeno número de cadáveres que foram levados para Gaza pelos terroristas, disse o israelense.

Alguns reféns são mantidos por outros grupos, em locais diferentes, mas o Hamas tem o poder de negociar por quase todos eles, argumentou. Um grupo menor, a Jihad Islâmica Palestina, mantém cerca de 35 reféns, e uma milícia conhecida como “shabiha” e outros grupos menores mantêm mais algumas dezenas, disse a autoridade israelense de alto escalão.

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Os reféns são uma lembrança amarga e diária para os israelenses da agonia do ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro. As Forças de Defesa de Israel formaram uma força-tarefa especial, chefiada pelo major-general aposentado Nitzan Alon, para coordenar as atividades para libertá-los, de acordo com reportagens israelenses.

“Traga-os para casa” se tornou um lema nacional para Israel. Fotos dos prisioneiros estão alinhadas no saguão de entrada principal do Aeroporto Ben Gurion, para lembrar os passageiros que chegam da situação dos reféns. Nas cidades fronteiriças e nos kibutzim onde muitos deles viviam, seus nomes e rostos são exibidos em faixas.

Os próximos dias serão delicados, pois os israelenses estão apreensivos esperando que o primeiro grupo seja libertado e se reúna com suas famílias - e se preocupam com aqueles que permanecerão em cativeiro. Após a pausa humanitária, a realidade brutal da guerra será retomada, e o governo Biden permanecerá dividido entre seu apoio a Israel e sua crescente preocupação com a situação dos civis palestinos.

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