Pode ser que Binyamin Netanyahu tenha selado, nestas eleições, o retorno ao cargo de primeiro-ministro. Foram 12 anos consecutivos no posto, interrompidos após um acordo feito por um bloco que tinha como única bandeira comum a vontade de tirá-lo do poder.
Depois de um ano e meio, segundo as pesquisas de boca de urna, o retorno é iminente. Os levantamentos feitos pela imprensa israelense mostram que o ex – talvez futuro – chefe de Estado deve chegar a 61 cadeiras no Parlamento, somando o partido dele, o Likud, e legendas aliadas. Esse é o número mágico para formar o governo em Israel.
Mas o que significará a provável volta de Bibi, como é popularmente chamado pelos israelenses, ao poder?
Muita coisa. Em primeiro lugar, Netanyahu pretende garantir o fim de seus processos na Justiça. Investigado por corrupção, essa seria a garantia de que não será preso e terá, então, um fim de carreira política tranquilo e heroico.
Mas não é apenas isso. Bibi pretende também, para que isso tudo aconteça, arquitetar um outro Estado. Uma outra Israel. A ideia de Netanyahu é mudar a correlação de forças entre poder Judiciário e Executivo. Alterar as formas de escolha de juízes e garantir que no pêndulo entre o Estado judaico e democrático, haja mais peso no primeiro.
Essas são promessas que precisam ser cumpridas com aliados que têm sido fundamentais para que ele se mantenha e se propague no poder: os ultraortodoxos e a extrema direita.
Aliás, é importante notar que a extrema direita neofascista foi a grande vencedora do pleito. Itamar Ben Gvir, parlamentar israelense acusado de incitação contra árabes e esquerdistas e vinculado ao kahanismo (movimento proibido em Israel por ser racista) foi quem mais cresceu.
Tido como fanático e perigoso, ele foi domesticado por Bibi e, sabendo usar a mídia, passou por um rebranding. Disse que mudou e que não era mais o jovem que, em 1994, quando ameaçou o primeiro-ministro Yitzhak Rabin de morte – vale lembrar que o primeiro-ministro, quem chegou mais perto da paz com os palestinos ao selar os Acordos de Oslo com Yasser Arafat, foi assassinado não por um palestino, mas por um israelense de extrema direita.
Pois bem, Bibi fortaleceu Ben Gvir e, agora, podem chegar juntos ao governo. Ou, político profissional como é, Netanyahu pode ajudar Israel a se livrar do suposto aliado.
O partido do extremista, o Poder Judaico, deve somar 14 ou 15 cadeiras no Parlamento e, em troca de uma aliança com Netanyahu, Ben Gvir pode ganhar cargos importantes em um eventual governo.
Em caso de conseguir mais de 61 cadeiras com a ajuda de Itamar Ben Gvir, Netanyahu poderá apresentar a seus oponentes a seguinte opção: aliem-se a mim e eu jogo a extrema direita aos cachorros. Ou, se eles não aceitarem, ele dirá: vocês serão responsáveis por termos um fanático no governo.
Israel é refém de Benjamin Netanyahu mais uma vez. Ou se livram do fascismo e formam o governo com Bibi, ou ficam na oposição e veem um extremista de direita virar ministro.
*É assessor acadêmico do Instituto Brasil-Israel (IBI), professor do departamento de sociologia da UFRJ e coordenador do Núcleo de Estudos Judaicos da mesma universidade
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