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Israel está vacinando tão rápido que está ficando sem vacina

País de 9 milhões de habitantes já imunizou 12% de sua população e negocia chegada antecipada de vacinas da Pfizer e da Moderna

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Por Steve Hendrix e Shira Rubin

JERUSALÉM - Israel, que vacinou uma proporção maior de sua população contra o coronavírus do que qualquer outro país, está realizando o processo de maneira tão rápida que está esvaziando seu estoque de vacina. Diante disso, autoridades de saúde lutam para comprar mais doses e podem pausar a aplicação da primeira rodada de injeções nos mais jovens para aplicar a segunda e última dose nos idosos.

A situação é oposta à de muitos países, como os Estados Unidos, onde milhões de vacinas permanecem sem uso enquanto os programas de inoculação em massa lutam para ganhar impulso. A taxa de vacinação dos EUA é de cerca de 1%. Israel, com uma população muito menor e sistema de saúde socializado, atingiu 12% de seus residentes com a dose inicial. 

Pessoas usando máscaras esperam para receber a vacina em centro de vacinação em Jerusalém Foto: AP Photo/Oded Balilty

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O sucesso da vacina em Israel é possível devido ao seu tamanho pequeno e à eficiência de seu sistema de saúde nacionalizado, no qual todos os 9 milhões de cidadãos possuem carteiras de identidade e registram seus arquivos médicos eletrônicos em bancos de dados nacionais. 

O país também mantém um registro nacional de vacinação, inicialmente projetado para imunizações infantis, que será usado nas próximas semanas para monitorar o progresso imediato e de longo prazo do programa contra o coronavírus. 

Desde o lançamento da campanha em 20 de dezembro, Israel ultrapassou a meta de 150 mil vacinações por dia. No dia de ano-novo, o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu e o ministro da Saúde Yuli Edelstein comemoraram a milionésima pessoa a ser vacinada em Umm al-Fahm, uma cidade árabe no norte de Israel que, junto com outras comunidades árabes, está entre as mais atingidas pelo vírus. 

"Estamos liderando em grande estilo e seremos os primeiros a escapar do corona!", escreveu Netanyahu no sábado em um tuíte. O programa de vacinas, que foi lançado com Netanyahu recebendo a primeira injeção na televisão, se envolveu com política, já que está se desenrolando enquanto Israel se prepara para sua eleição geral em março. Netanyahu está contando com a vacina para aumentar sua popularidade, que despencou durante a pandemia.

Além de tuitar sobre seu progresso, o primeiro-ministro repetidamente elogiou seus contatos pessoais com os chefes da Pfizer e da Moderna. Até o momento, a participação no programa não se polarizou pelos cismas políticos do país. Em vez disso, validou a popularidade nacional do sistema de saúde de 70 anos de Israel. “A campanha de vacinação tem sido um sucesso independente da política”, disse Nir-Paz, professor associado de doenças infecciosas do Hospital Hadassah em Jerusalém. "Temos sorte, com 1 milhão de vacinados, de estar do outro lado disso."

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Sucesso com consequências

Mas o sucesso trouxe complicações que ameaçam desacelerar a iniciativa do governo de vacinar a maioria da população até março. Em competição com os ministérios da saúde de todo o mundo, Israel negocia para adquirir mais vacinas e acelerar a entrega dos pedidos existentes. Pelo menos um carregamento de um milhão de doses da vacina Moderna chegará a Israel no início de janeiro, ao invés de março, como planejado originalmente. 

E milhares de vacinações já marcadas terão de ser adiadas, disseram autoridades. O diretor-geral do Ministério da Saúde, Chezy Levy, afirmou no fim de semana que, embora o país continue a caminho de vacinar cerca de 2 milhões de pessoas até o final de janeiro, ele espera uma pausa de duas semanas nas vacinações de primeira dose para reservar suprimentos para as doses de acompanhamento para a população idosa.

Israel pretende vacinar 2 milhões de habitantes até o fim de janeiro Foto: JACK GUEZ / AFP

Quem recebe?

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O lançamento acelerado do programa de vacinas de Israel resultou em dúvidas sobre quem está autorizado a receber as vacinas. Indivíduos com 60 anos ou mais são elegíveis, mas notícias e mídias sociais relataram destinatários mais jovens e VIPs sendo vacinados.

"Alguns dos ministros foram vacinados e temos histórias de pessoas com menos de 60 que foram vacinadas. E você se pergunta: como isso aconteceu?", questionou Ronit Calderon-Margalit, professor de epidemiologia da Escola de Saúde Pública Braun, da Universidade Hebraica Hadassah ."Não sei exatamente como as prioridades estão sendo definidas, então, nesse sentido, não há transparência", disse.

Com a covid-19 chegando a 6 mil casos por dia e alguns hospitais perto de sua capacidade, o país acaba de entrar em um terceiro bloqueio nacional. Especialistas alertam que qualquer desaceleração na taxa de vacinação pode causar hospitalizações e mortes adicionais.

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O Ministério da Saúde alertou no domingo que a atenção dada ao sucesso inicial de Israel está atrapalhando seus esforços para comprar doses adicionais. "O que aconteceu é que empresas como Pfizer e Moderna estão sob pressão de outros países que fizeram a pergunta: por que Israel consegue vacinar mais de 11% de sua população nas primeiras duas semanas enquanto ainda estamos em algo como 0,8 por cento? " disse Yonatan Halevy, diretor do Hospital Shaare Zedek em Jerusalém, referindo-se à taxa de vacinação americana.

Senhora abraça enfermeira em Tel Aviv após receber a vacina Foto: EFE/EPA/ABIR SULTAN

Um porta-voz da Pfizer disse que a empresa pode ter que mudar os prazos de entrega com base na capacidade de produção e outras variáveis, mas não por causa da pressão externa. "Disponibilizamos as doses da vacina o mais rápido possível com base nos termos dos acordos atuais com países", disse Andrew Widger, chefe de relações com a mídia global da Pfizer no Rein Unido, por e-mail.

A Pfizer, que tem uma forte presença no país e uma compreensão clara do sistema universal de saúde local, vê Israel como um "caso de teste", disse Ran Nir-Paz, professor associado de doenças infecciosas do Hospital Hadassah em Jerusalém. "Uma espécie de prova de conceito para mostrar que as vacinas funcionam."

Disputa política

Organizações de direitos humanos pediram ao país que amplie suas capacidades para ajudar no fornecimento de doses aos quase 5 milhões de palestinos que vivem na Cisjordânia ocupada por Israel ou na Faixa de Gaza, onde os casos também estão aumentando.

As autoridades israelenses rejeitaram as alegações de que são obrigados a fornecer vacinação aos territórios, dizendo apenas que doarão as vacinas depois que seus próprios cidadãos estiverem cobertos.

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