JERUSALÉM – A disputa do presidente americano, Donald Trump, com duas congressistas democratas foi para o cenário internacional nesta quinta-feira, 15, quando Israel negou a entrada no país a elas poucas horas depois de o republicano pedir publicamente pelo bloqueio. A vice-ministra das Relações Exteriores de Israel, Tzipi Hotovely, a firmou a uma rádio que elas pretendiam visitar a Cisjordânia, mas o acesso foi negado.

A intervenção de Trump foi um atípico passo para influenciar uma nação aliada a punir seus adversários políticos internamente. A imprensa americana já havia noticiado na semana passada que Trump estava pressionando o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, a negar a entrada a Ilhan Omar e Rashida Tlaib.
No mês passado, em comentários condenados como racistas, Trump disse que quatro congressistas – Além de Omar (somali) e Tlaib (palestina), as deputadas Alexandria Ocasio-Cortez (de origem latina) e Ayanna Pressley (negra) – deveriam "voltar para seus países.
Na manhã desta quinta-feira, em um post no Twitter, Trump disse que enquanto as autoridades israelenses ainda estavam deliberando sobre o tema, “seria uma demonstração de grande fraqueza se Israel permitisse que as deputadas Omar e Tlaib visitassem o país”.
“A decisão foi tomada, a decisão é não permitir que elas entrem”, disse Hotovely à Reshet Bet Radio, de Israel. Inicialmente, Israel tinha permitido a visita. Uma fonte que participou de uma reunião de gabinete para consulta com Netanyahu na quarta-feira afirmou à agência Reuters que Netanyahu recuou devido à pressão de Trump.
Tanto Omar quanto Tlaib têm manifestado seu apoio aos palestinos e ao movimento de boicote a Israel.
A decisão de Trump de recomendar que outro país bloqueie a entrada de dois cidadãos dos EUA e membros do Congresso foi uma das violações mais pronunciadas das normas democráticas em que ele se envolveu desde que assumiu o cargo, em janeiro de 2017, de acordo com o New York Times. Ao mesmo tempo, se colocou em desacordo com a liderança republicana no Congresso, qua apoiava a visita.
Muitos israelenses e líderes judeus também expressaram desconforto com a ideia de que autoridades dos EUA poderiam ser impedidas de entrar no país por causa de suas crenças ou críticas a Israel. No mês passado, o embaixador de Israel em Washington, Ron Dermer, disse que o país não negaria a entrada de nenhum representante dos EUA.
Omare Tlaib estavam programando chegar no domingo para uma visita àCisjordânia, em parte a convite de uma organização liderada por uma legisladora palestina, Hanan Ashrawi, que ressaltaria as queixas palestinas sobre a ocupação israelense.
As mulheres planejavam visitar as cidades de Hebron, Ramallah e Belém na Cisjordânia, bem como Jerusalém Oriental anexada por Israel, incluindo uma visita à Mesquita Al-Aqsa, um local sagrado altamente disputado. Tlaib planejava visitarparentes na Cisjordânia. Nenhuma reunião foi planejada com autoridades israelenses ou palestinas.
Muçulmanas
Tlaib e Omar, ambas novatas, são as duas primeiras mulheres muçulmanas eleitas para o Congresso dos EUA. Tlaib, que tem ascendência palestina, fala frequentemente de sua avó, que mora na Cisjordânia, enquanto Omar, refugiada somali, é a primeira mulher a usar um hijab na Câmara.
Mas, embora tenham sido aclamadas como símbolos de diversidade quando chegaram a Washington, rapidamente se envolveram em controvérsias quanto às suas declarações sobre Israel e sobre os apoiadores do Estado judeu.
Essas observações foram profundamente problemáticas para os líderes democratas, que estão tentando demonstrar solidariedade a Israel. E deram a Trump e seus companheiros republicanos uma abertura para atiçar asdivisões raciais, em um esforço para romper a aliança de longa data entre os judeus americanos e o Partido Democrata.
O apoio público de Omar e Tlaib ao movimento de boicote já havia atraído críticas da Casa Branca.
Desde então, o canto de “mande-a de volta” tornou-se um elemento permanente nos comícios políticos de Trump.
Axios informou recentemente que Trump havia dito aos conselheiros que achava que Netanyahu deveria proibir Tlaib e Omar, de acordo com uma lei que nega a entrada de cidadãos estrangeiros que publicamente demonstrem apoio a um boicote.
Segundo a lei, aprovada em 2017, Israel pode impedir a entrada de pessoas consideradas defensoras proeminentes do movimento de boicote, desinvestimento e sanções, uma rede informal que, entre outras metas, visa pressionar Israel a acabar com a ocupação da Cisjordânia. Os defensores pró-Israel acusam os defensores do movimento de antissemitismo./ NYT e REUTERS
Tradução de Claudia Bozzo