A explosão do hospital Ahli Arab, na cidade de Gaza, causada por um foguete nesta terça-feira, 17, matou centenas de civis e inflamou o conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas com acusações mútuas e protestos em diversas capitais do Oriente Médio. Mais de 24 horas depois da explosão, as informações a respeito de quem disparou o foguete e o número de vítimas ainda são preliminares.
Além das mortes, o incidente também dificultou tratativas dos Estados Unidos com países árabes para redução da tensão. A Jordânia cancelou a reunião entre os líderes árabes e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, após a explosão.
Biden, em viagem a Israel, endossou nesta quarta-feira, 18, as declarações israelenses e disse que o “outro lado” seria responsável pelo foguete. O Brasil também se pronunciou, repudiando o incidente e expressando solidariedade com as famílias atingidas. Veja o que se tem conhecimento sobre a explosão até o momento:
Quem disparou o foguete que destruiu o hospital em Gaza?
Israelenses e palestinos se acusam mutuamente da explosão do hospital. As autoridades de Israel afirmam que a causa foi um foguete lançado pelo grupo terrorista Jihad Islâmica, que atuou com o Hamas no passado, que teria falhado e caído sobre o local. O Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, comandado pela ala política do Hamas, responsabilizou Israel de atacar o local.
As autoridades israelenses divulgaram nesta quarta-feira uma gravação de uma suposta ligação interceptada entre dois agentes do grupo terrorista Hamas, na qual discutem como o hospital Ahli Arab teria sido atingido por um foguete fracassado disparado de dentro da Faixa de Gaza. Israel também mostrou imagens aéreas que teriam sido registradas por um drone militar israelense durante a noite. Nas imagens não haveria evidência de cratera causada por um míssil israelense, segundo as autoridades. A Jihad Islâmica rejeita as alegações.
Os Estados Unidos também disseram nesta quarta-feira terem informações de que o foguete não foi disparado por Israel. Segundo as autoridades, diversas informações coletadas pela espionagem americana, incluindo sinais de um satélite infravermelho, indicam que quem o lançou foi um grupo palestino.
As autoridades disseram que os dados coletados mostram que o lançamento aconteceu em posições ocupadas por combatentes palestinos em Gaza. Vídeos reforçam essa informação preliminar e mais dados estão sendo coletados, acrescentaram. A avaliação americana pode mudar no futuro.
“Embora continuemos a coletar informações, nossa avaliação atual, baseada na análise de imagens aéreas, interceptações e informações de código aberto, é que Israel não é responsável pela explosão no hospital em Gaza ontem”, disse Adrienne Watson, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, nesta quarta-feira.
Quantas pessoas estavam no hospital?
Embora tivesse um número limitado de 80 leitos, o hospital, assim como outros em Gaza, estava operando acima da capacidade por causa do número de vítimas do conflito atual, iniciado após o ataque do Hamas a Israel no dia 7.
Além de feridos, o hospital também estava lotado de pessoas que buscavam refúgio dos bombardeios na Faixa de Gaza. Os hospitais são vistos como lugares mais seguros que residências.
A agência de notícias Reuters informou, com declarações do chefe da ala cirúrgica, Fadel Naim, que mais de mil pessoas estavam no hospital Ahli durante a manhã da terça-feira e milhares chegaram no final do dia por causa de um alerta de bombardeio no bairro de Zeitoun. Cerca de 3 mil pessoas estavam no hospital na hora da explosão, disse Naim.
Quantas pessoas morreram no hospital?
O Ministério da Saúde da Faixa de Gaza inicialmente informou que a explosão havia deixado mais de 500 mortos. Nesta quarta-feira, o órgão informou que 471 pessoas morreram e mais de 300 ficaram feridas, com 28 em estado grave.
Israel disse que não tem informações precisas do número de vítimas.
Os números fornecidos pelo Ministério da Saúde indicam que o caso do hospital vitimou mais civis em Gaza do que qualquer outra explosão do atual conflito.
Como os países árabes vizinhos de Israel reagiram aos ataques?
A explosão no hospital Ahli provocou protestos de governos e populações árabes do Oriente Médio e causou o cancelamento de uma reunião entre os líderes árabes e o presidente Joe Biden, que aconteceria em Amã, capital da Jordânia, nesta quarta. Havia a expectativa da reunião resultar em um cessar-fogo nos próximos dias. Biden voou para Israel um pouco antes da explosão acontecer.
O Presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, acusou Israel de ser o responsável e classificou a explosão como um “massacre” no qual Israel teria “cruzado a linha vermelha”. O rei da Jordânia e o governo do Egito também culparam Israel. O grupo terrorista Hezbollah, que comanda o Líbano, emitiu o mesmo posicionamento.
O chanceler do Irã, Hossein Amirabdollahian, também acusou Israel de ter atacado o hospital e pediu aos membros da Organização de Cooperação Islâmica (OCI) que imponham embargos ao petróleo e outras sanções como resposta.
Manifestantes palestinos saíram às ruas na Cisjordânia nas cidades de Hebron, Ramallah, Nablus, Tulkarem, Belém, Tubas e Jenin.
O mesmo se repetiu em cidades do Líbano, Irã, Iraque, Líbia, Jordânia e Turquia, Marrocos, Tunísia e Iêmen, com as populações árabes protestando diante dos prédios das embaixadas americanas e israelenses. Em algumas cidades, especialmente da Cisjordânia, os protestos terminaram em conflito com a polícia.
O Brasil se pronunciou sobre a explosão do hospital?
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil emitiu nesta quarta-feira um comunicado sobre o incidente sem fazer acusações sobre quem seria o responsável pelo foguete que atingiu o local. Leia na íntegra:
O governo brasileiro condena, de forma veemente, o bombardeio que atingiu o hospital Ahli-Arab, na Faixa de Gaza, na noite de ontem, 17/10, provocando centenas de mortes. Expressa condolências aos familiares das vítimas e manifesta sua solidariedade ao povo da Palestina.
O Brasil repudia nos mais fortes termos ataques a alvos civis, sobretudo a estruturas de saúde, e exorta as partes no conflito a cumprir suas obrigações perante o direito internacional humanitário.
O Brasil reitera o apelo para o imediato estabelecimento de corredores e pausas humanitárias que permitam a condução em segurança do trabalho humanitário e o fornecimento de água, comida, suprimentos médicos, combustível e eletricidade a Gaza.
Insta também a que seja dado acesso do Comitê Internacional da Cruz Vermelha aos reféns para que possa desempenhar suas funções de agente humanitário neutro e reitera seu apelo a que os reféns sejam liberados. /COM NYT
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