Israel mira sul da Faixa de Gaza após fim do cessar-fogo; milhares de civis se abrigam na região

Inteligência israelense acredita que principais lideranças do grupo terrorista Hamas estão escondidos no sul; milhares de palestinos se refugiaram na região após fugir do norte bombardeado

PUBLICIDADE

Por Yara Bayoumy e Ronen Bergman
Atualização:

JERUSALÉM E TEL-AVIV (THE NEW YORK TIMES) – Antes mesmo de uma trégua temporária entre Israel e o Hamas expirar na manhã desta sexta-feira, 1º, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu havia prometido lutar “até o fim”. Se cumprir a promessa, Israel deve iniciar a próxima fase da sua ofensiva no sul da Faixa de Gaza, em uma iniciativa delicada e complexa.

PUBLICIDADE

O sul de Gaza é onde Israel acredita que a principal liderança do Hamas está escondida, mas também é onde milhares de palestinos se refugiaram e onde a maioria dos reféns que continuam sob a custódia do grupo terrorista estão sendo mantidos, de acordo com um alto funcionário da defesa israelense.

Durante a semana de relativa trégua, o governo dos Estados Unidos pressionou Israel a realizar uma campanha mais precisa caso os combates fossem retomados no sul - o que irá se concretizar agora que o cessar-fogo chegou ao fim. Agora, enquanto Israel reinicia sua campanha, que já destruiu grandes partes do norte de Gaza e matou milhares de civis, autoridades americanas dizem que os militares israelenses podem ser mais precisos desta vez.

Imagem da quinta-feira, 30, mostram civis caminhando em Khezaa, arredores da cidade de Khan Yunis, sul da Faixa de Gaza. Área pode ser foco da próxima ofensiva de Israel sobre Gaza Foto: Mahmud Hams / AFP

Um funcionário do alto escalão do Departamento de Estado americano disse nesta sexta que Israel tem se tornado cada vez mais receptivo aos apelos americanos para mudar os planos de guerra. Como parte da mudança, Israel considerava restringir operações de combate em áreas específicas de Gaza para proteger civis, em vez de tentar mover um grande número de pessoas para outro lugar, como na primeira etapa.

Publicidade

Entretanto, as intenções israelenses foram colocadas à prova pouco tempo depois do fim do cessar-fogo, com bombas de aviões de guerra sobre Khan Younis, a maior cidade do sul de Gaza, onde milhares de habitantes de Gaza buscaram abrigo nas últimas semanas.

No centro das discussões entre autoridades americanas e israelenses sobre como uma campanha no sul pode se desenrolar está a questão dos deslocados de Gaza. Autoridades dos EUA dizem que querem evitar outro deslocamento significativo de civis, muitos dos quais estão sem abrigo e têm acesso limitado a comida e água, desde o início da guerra, em 7 de outubro.

Autoridades israelenses disseram que sua intenção era retirar os habitantes de áreas no sul que o exército pretende atacar, embora haja sinais de que repensam a abordagem.

Durante a operação terrestre no mês passado, Israel destruiu parte da presença militar do Hamas no norte, mas também atingiu infraestrutura e casas e matou milhares de palestinos. Segundo Israel, o combate resultou na morte de cerca de 5 mil terroristas do Hamas.

Publicidade

Novo deslocamento

Uma campanha no sul significa que centenas de milhares de pessoas podem ser deslocadas mais uma vez, algumas pela segunda vez. Na sexta-feira, panfletos com as insígnias do exército israelense foram jogadas em Gaza para avisar que Khan Younis era uma “zona de combate perigosa”.

Na quinta-feira, 30, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, reuniu-se com Netanyahu e procurou moldar a próxima fase dos ataques ao Hamas, na esperança de limitar as vítimas civis, proteger instalações como hospitais e centrais eléctricas e garantir o fluxo de ajuda humanitária para Gaza.

A ONU diz que até 1,8 milhão de pessoas na Faixa de Gaza, ou cerca de 80% da população, foram deslocadas. Mais de 60 mil edifícios foram danificados ou destruídos, segundo análise de satélite. Um alto funcionário da ONU disse que as últimas estimativas indicam que até 60% dos edifícios no norte foram destruídos.

Imagem mostra encontro entre secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken (esq.), e primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, em outubro. Blinken voltou a Israel esta semana para discutir detalhes de próxima fase militar em Gaza Foto: Jacquelyn Martin/AP

Outro alto funcionário dos EUA, que falou sob a condição de anonimato, afirmou que o diálogo com Israel está focado na criação das chamadas áreas seguras, onde os habitantes de Gaza já estão em grande parte abrigados no sul.

Publicidade

Esses locais, segundo o funcionário, estariam em áreas onde a ONU têm abrigos ou espaços adjacentes onde Israel concordaria em não realizar operações aéreas ou terrestres e onde a entrega de ajuda humanitária seria possível.

Israel planejava estabelecer uma “zona humanitária” em Al-Mawasi, uma estreita faixa de terras agrícolas perto da costa do Mediterrâneo, no sul de Gaza, mas, segundo um funcionário americano, o país recuou desse plano.

Nesta sexta-feira, os militares israelenses distribuíram um mapa detalhado do território de Gaza dividido em dezenas de pequenos distritos que visa permitir que os moradores palestinos permaneçam até que sejam instruídos pelos militares israelenses a “sair de lugares específicos por segurança”. Nenhum local estaria totalmente fora dos limites da atividade militar israelense, por exemplo, se um comandante do alto escalão do Hamas fosse localizado lá.

A ideia de “zonas seguras”, como foi previsto para Al-Mawasi, em Gaza é contestada pela ONU. No mês passado, a UNRWA, a agência da ONU que ajuda refugiados palestinos, escreveu uma carta a funcionários do governo israelense rejeitando a proposta de Israel de uma zona segura no local com base no argumento de que qualquer zona desse tipo só pode proteger civis “se todas as partes do conflito concordarem com o estabelecimento de tal zona e concordarem em preservar e respeitar seu caráter civil”.

“Acreditamos que a zona proposta sob as condições predominantes criará danos inaceitáveis para os civis, incluindo perda de vidas em grande escala”, diz a carta.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.