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Israel tem um longo histórico de assassinatos promovidos além de suas fronteiras; relembre alguns

O país com frequência se recusa a confirmar responsabilidade sobre assassinatos fora de suas fronteiras, preferindo uma ambiguidade estratégica que produz uma cortina de negação plausível

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Por Maham Javaid (Washington Post) e Jennifer Hassan (Washington Post)

Israel persegue à distância seus inimigos há décadas, mirando líderes do Hamas não apenas nos territórios palestinos, mas em pontos muito mais longínquos.

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O assassinato do líder do Hamas Ismail Haniyeh, em Teerã, na madrugada da quarta-feira, aumentou essa lista. O Hamas descreveu a morte de Haniyeh, chefe de seu ramo político, como um assassinato. Juntamente com o Irã, o grupo culpou Israel e prometeu retaliar — aumentando os temores sobre o Oriente Médio poder ser mergulhado ainda mais no caos.

As Forças Armadas de Israel e o gabinete do primeiro-ministro israelense recusaram-se a comentar a morte de Haniyeh em Teerã, e Israel não assumiu a autoria.

O governo israelense confirma em certas ocasiões sua responsabilidade sobre operações de assassinato. Nesta semana, as Forças Armadas de Israel afirmaram que mataram Fuad Shukr, qualificado pelos militares israelenses como o “comandante militar mais graduado” do Hezbollah, em um ataque em Beirute, na terça-feira. As forças israelenses afirmaram que a operação contra Shukr foi uma retaliação a um ataque de foguete mortífero nas Colinas do Golan, ocupadas por Israel, no sábado.

Mas o país se recusa com frequência a confirmar seu papel em operações de assassinato no exterior, preferindo uma ambiguidade estratégica que produz uma cortina de negação plausível.

Conheça alguns outros complôs significativos ligados a Israel para assassinar líderes do Hamas.

Yahya Ayyash, 1996

Yahya Ayyash, então o principal fabricante de bombas do Hamas, foi morto ao atender um celular recheado de explosivos, em Gaza, em 1996. Apelidado de “O Engenheiro”, Ayyash provavelmente foi alvo de agentes israelenses, segundo noticiou o Washington Post na época.

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Acreditava-se que Ayyash fosse responsável por introduzir o atentado suicida como arma de terrorismo contra Israel, de acordo com reportagens de 1996 do New York Times, segundo as quais Israel o considerava o arquiteto por trás de ataques terroristas ocorridos desde 1992, que deixaram pelo menos 60 mortos e feriram centenas.

Ainda que ninguém tenha reivindicado a autoria do assassinato de Ayyash, a rádio estatal de Israel noticiou em primeira mão sua morte, citando “fontes israelenses informadas”.

O assassinato de Ayyash desencadeou uma série de atentados fatais em ônibus dentro de Israel.

Manifestantes iranianos em protesto condenando o assassinato do líder de Hamas Ismail Haniyeh na Plaza Felestin de Teerã, Irã. Foto: AP Foto/Vahid Salemi

Khaled Meshal, 1997

Khaled Meshal, um líder do Hamas que cresceu na Cisjordânia, sobreviveu a uma tentativa de assassinato operada por Israel na Jordânia, em 1997.

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Meshal deixou a Cisjordânia após a invasão israelense, em 1967, mudando-se para o Kuwait e posteriormente para a Jordânia, onde atuou como membro ativo do Hamas. Ele se tornou chefe político do Hamas em 1996, conforme noticiou o Post.

Um ano depois, em uma rua de Amã, a capital da Jordânia, o Mossad, a agência de espionagem externa de Israel, injetou um veneno letal no ouvido de Meshal, em uma operação aprovada pelo primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu.

Meshal sobreviveu. Posteriormente, o rei jordaniano, Hussein, prendeu os agentes responsáveis e ameaçou romper um acordo de paz concluído recentemente com Israel se o país não fornecesse o antídoto do veneno. Os agentes foram então libertados em troca de um pedido de desculpas pela operação frustrada de assassinato e da soltura de 20 presos palestinos.

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O líder do Hamas continuou vivendo na Jordânia até 1999, quando o grupo foi banido pelo rei; e então se mudou para o Catar, para a Síria e de volta para o Catar. Meshal se tornou o principal líder político do Hamas em 2004, depois que Israel assassinou o xeque Ahmed Yassin e o então líder político do grupo em Gaza, Abdel Aziz Rantisi.

Meshal segue sendo uma das principais figuras do Hamas.

Xeque Ahmed Yassin, 2004

O xeque Ahmed Yassin, fundador e líder espiritual do Hamas, foi assassinado em um ataque de helicóptero israelense na Cidade de Gaza, em marco de 2004.

Yassin, um clérigo cadeirante, foi um dos palestinos que fundou o Hamas, em 1987.

Yassin passou anos em prisões israelenses. Em 1983, ele foi preso pelas forças de Israel por supostamente formar uma organização clandestina e possuir armas. Ele foi solto dois anos depois como parte de uma troca de prisioneiros, de acordo com a Al Jazeera.

Em 1989, Yassin foi preso novamente e sentenciado a 40 anos na cadeia, acusado de incitar violência e pela morte de um soldado israelense. Ele foi solto em 1997, após o rei da Jordânia, Hussein, firmar um acordo com Israel.

Após a morte de Yassin, Rantisi foi nomeado seu sucessor, mas foi morto em um ataque israelense menos de um mês depois.

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Abdel Aziz Rantisi, 2004

Abdel Aziz Rantisi atuava como principal líder do Hamas dentro da Faixa de Gaza havia quase um mês quando um helicóptero israelense disparou dois mísseis contra seu sedan Subaru branco nas ruas de Gaza e o assassinou juntamente com dois guarda-costas, em abril de 2004.

Rantisi tinha assumido a função após o assassinato de Yassin, em março daquele ano. Pediatra de formação, Rantisi era conhecido por sua intransigência em relação a Israel e capacidade de mobilizar dezenas de milhares de palestinos às ruas em poucas horas.

O ataque de mísseis ocorreu três dias depois do ex-presidente americano George W. Bush ter se reunido com o então primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, e prometido aniquilar o terrorismo palestino, segundo uma reportagem do Post de 2004.

Israel justificou o assassinato. “Nós estamos evitando ataques terroristas, e parte dessa prevenção é perseguir terroristas como Rantisi”, afirmou Gideon Meir, então vice-diretor-geral do Ministério de Relações Exteriores de Israel. “Qualquer um que o substitua e continue com essa atividade de terrorismo contra Israel é alvo legítimo.”

Rantisi foi levado para o Hospital Al-Shifa, onde morreu.

Iranianos seguem um caminhão, no centro, carregando os caixões de Ismail Haniyeh e seu guarda-costas. Foto: Vahid Salemi/AP

“Israel se arrependerá disso — a vingança está a caminho”, disse Haniyeh a repórteres no hospital. “Este sangue não terá sido derramado à toa. (…) A batalha não enfraquecerá nossa determinação nem nossa vontade.”

Mahmoud al-Mabhouh, 2010

Mahmoud al-Mabhouh, um operador graduado do Hamas, foi assassinado em um quarto de hotel em Dubai, em janeiro de 2010. Autoridades do Hamas acusaram Israel pelo assassinato e prometeram vingança.

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Aa autoridades israelenses, mantendo um padrão na política em relação a alegações desse tipo, não comentou, noticiou o Post na ocasião.

Mabhouh foi um dos fundadores do braço militar do Hamas, as Brigadas Izzedine al-Qassam, e era conhecido por seu envolvimento no sequestro e assassinato de dois soldados israelenses em 1989, noticiou o Post.

Citando relatórios médicos fornecidos para sua família, o irmão de Mabhouh afirmou que os documentos indicavam que ele tinha sido submetido a tortura com choques elétricos e sofrido estrangulamento.

O setor de comunicação oficial de Dubai não mencionou a causa da morte, mas citou policiais e autoridades de segurança afirmando que Mabhouh havia entrado no país em 19 de janeiro e fora encontrado morto no dia seguinte, sugerindo que seus movimentos eram vigiados./TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO.

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