Itamaraty diz que situação em Gaza é ‘intolerável’ e declarações do governo Netanyahu são ‘cínicas’

Ministério diz que morte de uma centena de civis durante entrega de ajuda humanitária reflete desespero e dificuldade para obter comida em Gaza e que Israel não tem ‘limite ético e legal’

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Por Redação

O Ministério das Relações Exteriores chamou de intolerável a situação que resultou em mais de uma centena de mortes durante distribuição de comida na Faixa de Gaza, após uma multidão se reunir em torno de caminhões e soldados israelenses atirarem contra eles. Em nota, o Itamaraty também criticou a atitude do governo israelense, acusando autoridades de fazerem “declarações cínicas e ofensivas” contra às vítimas.

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Na avaliação do Itamaraty, as aglomerações de civis em torno dos caminhões que transportavam a ajuda humanitária nesta quinta-feira, 29, refletem o desespero e a dificuldade para obter alimentos em Gaza. “Trata-se de uma situação intolerável, que vai muito além da necessária apuração de responsabilidades pelos mortos e feridos de ontem”, diz a nota.

A situação estaria ligada, diz o Itamaraty, há uma sistemática retenção de caminhões nas fronteiras de Israel com Gaza, que aumentou a situação de fome, sede e desespero dos civis. “Autoridades da ONU e especialistas em ajuda humanitária e assistência de saúde de diferentes organismos e entidades vêm denunciando há meses a sistemática retenção”, afirma a diplomacia.

Imagem mostra o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, o embaixador Mauro Vieira, discursa durante a Cúpula do G-20 na quarta-feira, 21. Itamaraty repudiou morte de civis em Gaza Foto: Pedro Kirilos/Estadão

As mortes ocorreram quando centenas de civis palestinos correram em direção dos caminhões de ajuda humanitária que haviam entrado na Faixa de Gaza e foram atingidos por disparos de soldados israelenses. Segundo o Ministério de Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, mais de 100 pessoas morreram e 750 foram feridas por tiros, pisoteio ou atropelamento. As Forças de Defesa de Israel (IDF) reconheceram que atiraram contra os palestinos, mas atribuiu as mortes a uma “confusão” generalizada.

Para o Itamaraty, a ação dos soldados e as declarações do governo israelense mostram que “a ação militar em Gaza não tem qualquer limite ético ou legal”. “Cabe à comunidade internacional dar um basta para, somente assim, evitar novas atrocidades. A cada dia de hesitação, mais inocentes morrerão”, diz a nota.

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As declarações dão continuidade as hostilidades entre os governos de Brasil e Israel, que aumentaram desde que o presidente Lula citou o Holocausto como semelhante ao que ocorre na Faixa de Gaza, há duas semanas. Desde então, autoridades israelenses têm criticado em público a posição do governo brasileiro e cobrado um pedido de desculpas. O governo brasileiro não recua da declaração e reitera que considera as ações israelenses no enclave um genocídio.

Na nota desta sexta, a centena de mortes em torno dos caminhões foi chamada de massacre e o governo israelense, acusado de praticar atos “considerados como genocídio”. “A humanidade está falhando com os civis de Gaza. E é hora de evitar novos massacres”, diz o Itamaraty.

Segundo o Ministério de Saúde de Gaza, após as mortes dos civis o número de vítimas no enclave chegou a 30 mil, das quais mais de 12 mil são crianças. Nesta quinta-feira, os Estados Unidos, maior aliado de Israel, estimaram 25 mil mortes de mulheres e crianças durante a operação militar israelense.

Além do Brasil, outras nações também fizeram declarações relacionadas ao incidente na entrega de caminhões. Os chefes da diplomacia da Alemanha e da França pediram investigação independente e explicações de Israel sobre o ocorrido. Os EUA afirmaram que o incidente deve prejudicar as negociações de um cessar-fogo, que era esperado para o início da próxima semana, e que apura o ocorrido.

Pelo menos uma autoridade da gestão Biden, a administradora da Agência americana para o Desenvolvimento internacional, Samantha Power, afirmou que a situação era inaceitável independente de como morreram. “Isso não pode acontecer. Civis desesperados tentando alimentar famílias famintas não devem ser fuzilados”, declarou.

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As nações árabes foram mais duras contra Israel. Arábia Saudita, Egito e a Jordânia acusaram o governo israelense de ter como objetivo a morte dos civis e fizeram um apelo para um aumento das passagens seguras para o fluxo de ajuda humanitária.

Na declaração desta sexta-feira, o Brasil também reiterou a urgência de um cessar-fogo para a libertação dos reféns da Faixa de Gaza e entrega da ajuda humanitária.

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