GENEBRA - Em meio à crise de refugiados na Europa, a guerra na Síria e tantos outros dramas humanos, tenho recebido muitas mensagens com a seguinte pergunta : e a ONU ? Onde está ?
Bom, a ONU está falida financeiramente e, nas últimas semanas, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados indicou que apenas tem recursos para 30% dos refugiados no Oriente Médio. Pior : o Programa Mundial de Alimentação da ONU cortou suas contribuições para os refugiados diante da falta de doações de governos e, hoje, cada um vive com menos de US$ 0,50 por dia.
Estudo também mostram que os refugiados no Líbano e Turquia vivem abaixo da linha da pobreza.
A culpa ? Dos governos que não cumprem suas promessas de contribuir para as ações humanitárias da ONU e aliviar o sofrimento de milhões de pessoas.
Mas, para minha surpresa, nesta semana recebi um comunicado de imprensa tão chocante quanto as atualizações nos números de mortos.
O texto anuncia : o prédio da ONU em Genebra vai passar por uma reforma completa que começará em 2017 e vai ser concluída apenas em 2023. O preço: 837 milhões de francos suíços, mais de R$ 3,3 bilhões.
Construir um prédio novo sairia mais barato. Mas as autoridades optaram por renovar o prédio histórico. Terão de trocar nada menos que 17 mil janelas. Parcelas inteiras dos 4 mil funcionários serão alojados em locais provisórios. Em seu comunicado, o diretor da ONU em Genebra, Michael Møller, insiste que o edifício erguido anos 30 « jamais foi completamente restaurado e é uma responsabilidade tomar essa tarefa à sério ».
O governo da cidade de Genebra anunciou um empréstimo de 400 milhões de francos e, na Assembleia Geral da ONU em Nova Iorque, o projeto deve ser aprovado.
O histórico « Palais des Nations » de fato impressiona e é um marco. Tenho o privilégio de ter meu escritório dentro desse local. Mas a decisão de reformar a sede de uma burocracia por tal preço me parece uma ofensa à humanidade.
Quem são os responsáveis ? Os governos, que vão dar seu voto agora em setembro pela reforma. E, claro, aprovar dinheiro para que seus próprios diplomatas e funcionários tenham garantido seu « bem-estar » ao realizar reuniões inócuas e discursos para plateias vazias.
Agora, quem é que vai até um campo de refugiados na Turquia contar isso ao pessoal por la ?
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