Japão aprova reforma radical em sua política de defesa em resposta à China

A reforma é uma guinada de grande dimensão para um país cuja Constituição pacifista proíbe a criação de um exército convencional; documentos citam riscos de China, Coreia do Norte e Rússia

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Por Redação

TÓQUIO - O governo do Japão aprovou, nesta sexta-feira, 16, uma reforma radical de sua doutrina de defesa com o objetivo de contra-atacar o poderio militar da China, considerado um desafio estratégico sem precedentes para a segurança do país. O Executivo aprovou um plano para dobrar os gastos com defesa a 2% do PIB até 2027, uma mudança que representa o maior reforço de sua política militar em décadas. Além disso, o Japão planeja unificar o comando militar e aumentar o alcance de seus mísseis.

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O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, afirmou estar determinado a cumprir com sua missão de proteger a nação e seus habitantes neste momento crucial da história. Embora as mudanças tenham o apoio da opinião pública, a reforma é uma guinada de grande dimensão para um país cuja Constituição pacifista, adotada após a derrota na Segunda Guerra Mundial, proíbe a criação de um exército convencional.

Kishida garantiu que a estratégia de defesa do Japão vai continuar aderindo à Constituição, ao direito internacional e ao direito japonês.

O Japão anunciou sua maior reforma de defesa em décadas, aumentando os gastos, reformulando seu comando militar e adquirindo novos mísseis para enfrentar a ameaça da China Foto: Kazuhiro Nogi/AFP

A nova doutrina de defesa é baseada em três documentos que mencionam a China, a Coreia do Norte e a Rússia, aos quais a AFP teve acesso. Os relatórios utilizam uma linguagem mais assertiva em comparação à nomenclatura usada no documento anterior sobre a estratégia de segurança nacional elaborado pelo Japão em 2013.

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O desafio estratégico da China

A postura militar cada vez mais contundente da China é descrita como uma grave preocupação para o Japão e para a comunidade internacional e como um desafio estratégico sem precedentes para a paz e a estabilidade do Japão.

O principal eixo da estratégia é o forte aumento dos gastos de defesa, o que tem provocado críticas sobre as formas de financiamento. A mudança permitirá o alinhamento do país com o compromisso assumido pelos Estados-membros da Otan, embora o Japão não integre a aliança militar.

Tóquio deseja obter capacidade de contra-ataque, um conceito que até agora era considerado incompatível com sua Constituição e que permitiria agir contra ameaças dos países vizinhos. A imprensa nipônica informou recentemente que o governo deseja adquirir 500 mísseis de cruzeiro Tomahawk americanos para aumentar a capacidade de seu arsenal.

A presença das Forças de Autodefesa nas ilhas mais meridionais do Japão, as mais próximas de Taiwan e da China, também aumentará e o governo pretende triplicar as unidades com capacidade de interceptação de mísseis balísticos, segundo a imprensa.

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A preocupação com a China aumentou depois das grandes manobras militares de Pequim ao redor de Taiwan em agosto, quando alguns mísseis caíram na zona econômica exclusiva do Japão. A estratégia de segurança nacional também menciona os vários lançamentos de mísseis da Coreia do Norte e afirma que as ações militares de Pyongyang representam uma ameaça iminente para o Japão.

A respeito da Rússia, o Japão destaca que o desejo de Moscou de recorrer à força para alcançar os próprios objetivos de segurança, como na Ucrânia, é evidente. Também indica que as atividades militares na região Ásia-Pacífico e a cooperação estratégica com a China constituem uma grande preocupação na área de segurança.

O porta-voz do ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, criticou o plano japonês de defesa Foto: Liu Zheng/AP

Resposta chinesa

Mesmo antes da publicação, a nova política de Tóquio irritou Pequim, que critica com frequência o militarismo japonês da primeira metade do século 20, que teve a China como uma de suas principais vítimas.

“A China se opõe com veemência a esta política que se afasta do compromisso do Japão em favor das relações bilaterais e de um consenso com Pequim e que contém calúnias sem fundamento contra a China”, criticou na quarta-feira o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Wang Wenbin.

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Enquanto criticava a mudança japonesa, um esquadrão de navios da Marinha chinesa navegou pelo estreito perto do Japão para o Pacífico Ocidental nesta semana.

Os contratorpedeiros Lhasa e Kaifeng e um navio de reabastecimento navegaram pelo Estreito de Osumi, no sul do Japão, enquanto um navio de vigilância da classe Dongdiao com o casco número 796 navegou pelo Estreito de Miyako, ao sul de Okinawa, todos chegando ao Pacífico Ocidental na quinta-feira. O Ministério da Defesa do Japão disse que a frota foi seguida de perto por navios e aviões japoneses.

O jornal do Partido Comunista Chinês Global Times citou na sexta-feira especialistas não identificados dizendo que a missão enviou um sinal em meio aos recentes movimentos militaristas do Japão que mostrará as capacidades do Exército de Libertação do Povo em salvaguardar a soberania nacional da China, integridade territorial e interesses de desenvolvimento.

O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que Washington recebe com satisfação as contribuições do Japão para a paz e a prosperidade. “Os Estados Unidos estão com o Japão neste momento crítico”, escreveu ele no Twitter, chamando a aliança de pedra angular para uma região Indo-Pacífica aberta e livre./AFP e AP

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