Quatro ministros japoneses renunciaram nesta quinta-feira, 14, aos seus cargos devido a um escândalo de corrupção no partido do governo, no qual estão sendo investigados por receber subornos. A acusação de corrupção, juntamente com a saída coletiva dos ministros, abalou o governo do impopular primeiro-ministro Fumio Kishida, que remodelou seu gabinete após as renúncias.
Os ministros que deixam o gabinete são o porta-voz e número dois do governo, Hirokazu Matsuno; o ministro da Economia, Comércio e Indústria, Yasutoshi Nishimura; o titular do Interior, Junji Suzuki, e o ministro da Agricultura, Ichiro Miyashita. “Apresentei a minha demissão a Kishida para evitar problemas no desenvolvimento da política nacional”, disse Matsuno em uma coletiva de imprensa após a formalização das renúncias.
Poucas horas depois, o governante japonês nomeou os quatro novos ministros. A movimentação nas pastas acontece um dia depois de o próprio Kishida ter antecipado uma reforma do seu Executivo para “recuperar a confiança” dos cidadãos.
O premiê enfrenta seu momento mais difícil desde que assumiu o cargo, há mais de dois anos, devido à investigação aberta pelo Ministério Público sobre supostas receitas não declaradas de figuras importantes do governo e do partido no poder, um caso cujas consequências também podem complicar sua continuidade como primeiro-ministro.
O substituto de Matsuno como porta-voz é o ex-ministro das Relações Exteriores, Yoshimasa Hayashi, enquanto o ex-ministro da Justiça, Ken Saito, será o novo titular da pasta de Economia, Comércio e Indústria. Já o ex-ministro do Interior, Takeaki Matsumoto, regressa ao cargo depois de ter sido substituído na remodelação do gabinete do último mês de setembro, enquanto a pasta da Agricultura será ocupada por Tetsushi Sakamoto, que já foi o ministro encarregado pelo declínio demográfico e outros desafios sociais.
Os agora ex-ministros estão sendo investigados por uma série de rendimentos não declarados provenientes de eventos de arrecadação de fundos organizados por alas do governista Partido Liberal Democrata (PLD). Os supostos subornos chegariam a pelo menos 500 milhões de ienes (cerca de R$ 17 milhões) e foram distribuídos entre dezenas de membros de uma das principais alas do PLD, segundo detalhes do caso publicados pela imprensa local. Os quatro ministros que estão deixando o Executivo faziam parte dessa mesma ala, chamada Seiwaken, que já foi liderada pelo ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, morto em um atentado em 2022.
A “limpeza” de Kishida deixa o governo sem qualquer membro que pertença à ala considerada a mais poderosa dentro do PLD, um movimento que segundo analistas pode gerar tensões internas no partido e quebrar o delicado equilíbrio de poder entre os vários subgrupos. Além dos quatro ministros substituídos, há outros “barões” do PLD contaminados por irregularidades como o secretário-geral do partido na Câmara, Hiroshige Seko, o chefe de estratégia política, Koichi Hagiuda, e o ex-ministro olímpico Seiko Hashimoto.
As suspeitas estendem-se também a outras quatro alas do PLD, incluindo a liderada pelo próprio Kishida, que até o momento não está sendo investigado no âmbito do caso, e que decidiu renunciar ao cargo de presidente desse subgrupo político para tentar distanciar-se do escândalo.
O atual premiê japonês tem mandato até outubro de 2025, mas um ano antes terá de enfrentar as primárias no seu partido. A taxa de aprovação popular de Kishida é de 23%, a mais baixa desde que assumiu o cargo em outubro de 2021, de acordo com a última pesquisa da emissora estatal “NHK”./EFE.
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