LA PAZ - A senadora de oposição Jeanine Áñez, uma política pouco conhecida nacionalmente, se declarou na terça-feira, 12, presidente interina da Bolívia, prometendo organizar eleições no menor tempo possível.
A advogada de 52 anos era a segunda vice-presidente do Senado até se tornar o 66.º presidente da Bolívia, dois dias após a renúncia de Evo Morales, pressionado por protestos diante das questionadas eleições de 20 de outubro.
"Queremos convocar eleições o mais cedo possível", disse Jeanine, que recebeu o apoio dos principais líderes opositores.
Segunda mulher na presidência
Jeanine é a segunda mulher a governar a Bolívia, depois de Lidia Gueiler (1978-1980), derrubada por um golpe militar.
Nascida em Trinidad, no departamento de Beni, região de fronteira com o Brasil, no dia 13 de junho de 1967, ela tem experiência como política e legisladora. É divorciada e mãe de dois filhos: Carolina, uma dentista de 29 anos, e José, um administrador de empresas de 24 anos.
Formada em direito, entre 2006 e 2008 integrou a Assembleia Constituinte que redigiu a atual Constituição. Apesar de pertencer a um partido minoritário, foi eleita segunda vice-presidente do Senado e acabou na presidência diante da ausência dos demais políticos na linha de sucessão.
Com a faixa presidencial no peito e uma pequena Bíblia na mão, discursou do balcão do Palácio Quemado, diante da Praça Murillo, a poucos metros do Congresso.
Assumindo as rédeas do país
Integrante do partido Unidade Democrática e senadora desde 2010, ficou nacionalmente conhecida no domingo, quando após a renúncia de Evo e diante da ausência do presidente do Senado e de seu primeiro vice-presidente - que renunciaram -, declarou que lhe correspondia assumir as rédeas do país.
"Ocupo a segunda vice-presidência e pela ordem constitucional me corresponde assumir este desafio, com o único objetivo de convocar novas eleições", afirmou ela na ocasião.
Sua proclamação como chefe de Estado, avalizada pelo Tribunal Constitucional, provocou um carnaval em Trinidad, e também foi celebrada em La Paz e em outras cidades que se mobilizaram contra a reeleição de Evo.
Roubo de voto
A presidente interina defendeu na terça a manutenção do uso da bandeira multicolorida whipala, adotada pelos seguidores indígenas de Evo, como símbolo nacional junto ao pavilhão tricolor boliviano. Em seguida exibiu triunfante um enorme exemplar de Os Quatro Evangelhos.
Jeanine prometeu que "nunca mais" se roubará o voto dos bolivianos, e pediu um minuto de silêncio pelos sete mortos durante os protestos pela renúncia de Evo.
Os adversários do ex-presidente afirmam que ele ignorou duas vezes o voto popular: no referendo que negou sua reeleição indefinida, em 2016, e nas eleições de outubro. / AFP
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