Guerra na Ucrânia: Biden visita Kiev pela primeira vez desde o início do confronto com a Rússia

A visita foi planejada em sigilo e ocorre dias antes do aniversário de um ano da invasão russa; agenda oficial apontava apenas uma viagem à Polônia na noite desta segunda

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Por Redação
Atualização:

KIEV - O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez uma visita surpresa à Ucrânia nesta segunda-feira, 20, para se encontrar com o presidente ucraniano Volodmir Zelenski, em um gesto de solidariedade que ocorre dias antes do aniversário de um ano da invasão russa ao país. A viagem foi feita em sigilo por questões de segurança e a agenda oficial do americano indicava apenas uma visita à Polônia, vizinha da Ucrânia, nesta segunda.

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Falando ao lado de Zelenski no Palácio Mariinski, Biden relembrou os temores de um ano atrás de que as forças de invasão da Rússia pudessem tomar rapidamente a capital ucraniana. “Um ano depois, Kiev está de pé”, disse Biden. “E a Ucrânia está de pé. A democracia está de pé. Os americanos estão com você e o mundo está com você”.

A visita oficial foi envolta em sigilo. A agenda oficial de Biden apontava que ele partiria de Washington à Polônia na noite de segunda. No início da manhã, em Kiev, houve especulações de que um convidado importante estava chegando à capital ucraniana. A informação foi confirmada pela política ucraniana Lesia Vasylenko via Twitter.

O presidente dos EUA, Joe Biden, caminha com o presidente ucraniano Volodmir Zelenski na Catedral da Cúpula Dourada de São Miguel durante uma visita não anunciada do americano a Kiev, Ucrânia Foto: Evan Vucci/AP

A visita de alto risco sinaliza o compromisso contínuo dos EUA, o maior apoiador financeiro e militar do esforço da Ucrânia para repelir os invasores russos de seu território. Em discurso, Biden insistiu que os EUA continuarão a apoiar a Ucrânia “pelo tempo que for necessário”, embora não haja perspectiva de curto prazo de negociações de paz para encerrar o conflito.

Momento crucial

Biden chegou à capital da Ucrânia em um momento crucial da guerra, tanto no país quanto no exterior. Alguns dos aliados mais leais dos Estados Unidos pressionaram a Ucrânia a começar a negociar um acordo de paz que pode envolver a cessão de territórios para a Rússia. E nos Estados Unidos, o recém-empossado presidente da Câmara, o republicano Kevin McCarthy, e alguns de seus colegas legisladores exigiram o fim do que chamam de “cheque em branco” para o esforço de guerra.

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Uma nova pesquisa da Associated Press-NORC Center for Public Affairs Research na semana passada mostrou que o apoio público à ajuda à Ucrânia está diminuindo, com 48% dos americanos a favor do envio de armas, abaixo dos 60% em maio passado. Biden procurou tranquilizar os ucranianos: “Apesar de todas as divergências que temos em nosso Congresso sobre algumas questões, há um acordo significativo sobre o apoio à Ucrânia”.

A visita surpresa de Biden ocorreu apenas um dia antes de um discurso agendado do presidente russo, Vladimir Putin, na terça-feira, no qual deve falar sobre o esforço de guerra de seu país em meio a indícios de que uma ofensiva de primavera na Ucrânia já está em andamento.

Por outro lado, Zelenski está pressionando os aliados para acelerar a entrega dos sistemas de armas prometidos e está pedindo ao Ocidente que entregue caças à Ucrânia - algo que Biden até agora se recusou a fazer.

Para ele, o simbolismo de ter o presidente dos EUA ao seu lado em terras ucranianas à medida que o aniversário se aproxima é enorme, pois estimula os aliados americanos e europeus a fornecer armamento mais avançado e acelerar o ritmo de entrega.

Durante uma reunião dentro do palácio, Zelenski agradeceu novamente a Biden. “Eu realmente agradeço que o presidente Biden, a sociedade americana, tenha estado desde o início junto conosco”. Biden respondeu: “É presunçoso da minha parte dizer isso, mas achei importante que o presidente dos Estados Unidos estivesse aqui no dia em que o ataque começou”. (O aniversário da invasão é sexta-feira).“Achei fundamental que não houvesse nenhuma dúvida, nenhuma, sobre o apoio dos EUA à Ucrânia na guerra”.

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O presidente dos EUA, Joe Biden, e o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, se abraçam após sua visita ao Muro da Memória para prestar homenagem aos soldados ucranianos mortos, em meio ao ataque da Rússia à Ucrânia, em Kiev, em 20 de fevereiro de 2023 Foto: Gleb Garanich/Reuters

Mais ajuda militar

Em Kiev, Biden anunciou um adicional de meio bilhão de dólares (R$ 2,6 bilhões) em assistência dos EUA, incluindo projéteis para obuses, mísseis antitanque, radares de vigilância aérea e outras ajudas, mas nenhum novo armamento avançado.

Zelenski disse que ele e Biden conversaram sobre “armas de longo alcance e as armas que ainda podem ser fornecidas à Ucrânia, embora não tenham sido fornecidas antes”. Mas ele não detalhou novos compromissos.

O presidente dos EUA, Joe Biden, ao centro, se encontra com o presidente ucraniano Volodmir Zelenski, à direita, e Olena Zelenska, à esquerda, esposa do presidente ucraniano, no Palácio Mariinski durante uma visita não anunciada a Kiev Foto: Evan Vucci/AP

Em comunicado divulgado pela Casa Branca, Biden disse que sua visita visava reafirmar o apoio americano à soberania e integridade territorial da Ucrânia, que a Rússia violou desde 2014, quando Putin anexou a Península da Crimeia ucraniana e lançou apoio a uma campanha separatista na região leste de Donbas.

A visita de Biden marcou um ato de desafio contra o presidente russo que esperava que seus militares invadissem Kiev rapidamente em poucos dias. Um ano depois, a capital ucraniana está de pé e uma aparência de normalidade voltou à cidade, já que os combates se concentraram no leste do país, pontuados por ataques de mísseis de cruzeiro e drones contra infraestrutura militar e civil.

O presidente dos EUA, Joe Biden, e o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, participam de uma coletiva de imprensa conjunta em Kiev, em 20 de fevereiro de 2023 Foto: Gleb Garanich/Reuters

Biden alertou que a “guerra brutal e injusta” está longe de ser vencida. “O custo que a Ucrânia teve de suportar foi extraordinariamente alto. E os sacrifícios foram grandes demais”, disse Biden. “Sabemos que haverá dias, semanas e anos muito difíceis pela frente. Mas o objetivo da Rússia era varrer a Ucrânia do mapa. A guerra de conquista de Putin está falhando.”

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“Ele está contando que não fiquemos juntos”, disse Biden sobre o líder russo. “Ele pensou que poderia sobreviver a nós. Acho que ele não está pensando nisso agora. Deus sabe o que ele está pensando, mas não acho que ele esteja pensando nisso. Mas ele está completamente errado. Simplesmente errado.”

A viagem deu a Biden a oportunidade de ver em primeira mão a devastação que a invasão russa causou na Ucrânia. Enquanto visitavam a Catedral de São Miguel, Biden pode ouvir as sirenes de ataques aéreos que reverberam pela capital há quase um ano.

Visita sigilosa

Embora os sistemas de mísseis terra-ar ocidentais tenham reforçado as defesas da Ucrânia, a visita marcou a rara ocasião em que um presidente dos EUA viajou para uma zona de conflito onde os EUA ou seus aliados não tem controle sobre o espaço aéreo. Segundo o assessor de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, o governo americano notificou Moscou sobre a viagem horas antes de ocorrer para evitar erros de cálculo que poderiam desencadear um conflito direto.

Os militares dos EUA não têm presença na Ucrânia além de um pequeno destacamento de fuzileiros navais que guarda a embaixada em Kiev, tornando a visita de Biden mais complicada do que outras visitas recentes de líderes americanos anteriores a zonas de guerra.

O presidente dos EUA, Joe Biden, caminha com o presidente ucraniano Volodmir Zelenski na Catedral de Cúpula Dourada de São Miguel durante uma visita não anunciada a Kiev Foto: Evan Vucci/AP

A especulação vinha crescendo há semanas de que Biden faria uma visita à Ucrânia por volta do aniversário de 24 de fevereiro da invasão russa. Mas a Casa Branca repetidamente disse que nenhuma viagem presidencial à Ucrânia era planejada, mesmo depois que a visita à Polônia tenha sido anunciada no início deste mês.

Desde o início da manhã de segunda-feira, muitas ruas principais e quarteirões centrais de Kiev foram isolados sem qualquer explicação oficial. Mais tarde, as pessoas começaram a compartilhar vídeos de longas carreatas de carros passando pelas ruas onde o acesso era restrito.

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Na Casa Branca, o planejamento da visita de Biden a Kiev foi feito com rigor - com um grupo relativamente pequeno de assessores informados sobre os planos - devido a questões de segurança.

Biden partiu discretamente da Base Conjunta Andrews, perto de Washington, às 4h15 de domingo (horário local, 2h15 de Brasília), fazendo uma parada na Base Aérea de Ramstein, na Alemanha, antes de seguir para a Ucrânia. Ele chegou a Kiev às 8h (3h de Brasília) da segunda-feira.

Outros líderes ocidentais fizeram a viagem a Kiev desde o início da guerra. Em junho, o presidente francês Emmanuel Macron, o chanceler alemão Olaf Scholz e o então primeiro-ministro italiano Mario Draghi viajaram juntos de trem noturno para Kiev para se encontrar com Zelenski. O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, visitou Kiev em novembro, pouco depois de assumir o cargo.

Esta é a primeira visita de Biden a uma zona de guerra como presidente. Seus antecessores recentes, Donald Trump, Barack Obama e George W. Bush, fizeram visitas surpresa ao Afeganistão e ao Iraque durante suas presidências para se reunir com tropas americanas e líderes desses países.

Biden deixou Kiev no início da tarde (horário local) com destino à Polônia, onde deve se encontrar com o presidente Andrzej Duda na manhã de terça-feira e fazer um discurso no Castelo de Varsóvia no final da tarde./AP, NYT e W.POST

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