THE WASHINGTON POST - O ex-assessor de segurança nacional da Casa Branca John Bolton afirmou nessa terça-feira, 12, que foi um “erro” acreditar que o ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio foi parte de um “golpe de Estado cuidadosamente planejado” pelo presidente Donald Trump. Bolton afirmou ter experiência em orquestrar golpes de Estado, e disse haver uma diferença entre o que se passou em solo americano.
Bolton foi questionado pelo jornalista Jake Tapper no programa “The Lead” da CNN americana, se Trump era incapaz de ouvir “não” de seus conselheiros - já que o então presidente foi avisado de que era ilegal tentar reverter a eleição - o que Bolton respondeu que ele “não ouve ninguém”. Depois de afirmar que as alegações de Trump de fraude eleitoral eram indefensáveis, Bolton disse que era errado achar que o episódio havia sido planejado.
“Não é assim que Donald Trump faz as coisas”, disse ele. “É uma divagação de um lado, uma ideia vaga do outro, um plano que cai e outro surge – era isso que ele estava fazendo.” Segundo ele, o episódio do Capitólio foi apenas mais um exemplo de “Donald Trump cuidando dos interesses de Donald Trump”, disse. “É algo que ocorre uma vez na vida.”
Tapper voltou a questão, argumentando que “não é preciso ser brilhante para tentar um golpe”, o que motivou a resposta de Bolton sobre experiência com o tema. “Como alguém que ajudou a planejar golpes de Estado – não aqui, mas, você sabe, em outros lugares – é preciso muito trabalho, e não foi isso que (Trump) fez”, disse.
Os comentários de Bolton são incomuns, já que as autoridades dos Estados Unidos geralmente evitam usar o termo “golpe” ao falar sobre assuntos de política externa. As observações se tornaram virais, com um corte no Twitter que tinha mais de 2 milhões de visualizações no início desta quarta-feira, 13.
O escritório de Bolton não respondeu imediatamente a um pedido de comentário do The Washington Post.
Durante a entrevista, Tapper retomou o assunto e pressionou Bolton a elaborar sobre sua “experiência em golpes planejados”, perguntando se eles eram “golpes bem-sucedidos”.
Bolton disse, em meio a risos, que não entraria em detalhes, mas respondeu que em seu livro de memórias de 2020 ele escreveu sobre o apoio dos Estados Unidos a uma tentativa malsucedida de derrubar o presidente venezuelano Nicolás Maduro em 2019.
“Não que tivéssemos muito a ver com isso”, disse Bolton, “mas eu vi o que era preciso para uma oposição tentar derrubar um presidente eleito ilegalmente, e eles falharam”.
As declarações de terça-feira foram um desvio das declarações anteriores de Bolton sobre a Venezuela. “Isso claramente não é um golpe”, disse ele a repórteres em 2019.
Um falcão republicano de longa data, Bolton atuou como conselheiro de segurança nacional de Trump por 17 meses antes de um rompimento turbulento em 2019. Antes disso, ele ocupou um papel importante no controle de armas durante o governo de George W. Bush e atuou como embaixador nas Nações Unidas em 2005 e 2006.
Bolton muitas vezes abraçou a intervenção estrangeira dos Estados Unidos, tendo apoiado a invasão do Iraque em 2003 e defendido a mudança de regime no Irã meses antes de ingressar no governo Trump.
Seus comentários sobre o planejamento de golpes ocorrem quando o comitê seleto da Câmara que investiga o ataque de 6 de janeiro apresentou evidências na terça-feira de que Trump estimulou extremistas de direita a marchar para o Capitólio e tinha planos secretos de direcionar seus apoiadores para lá.
“A noção de que Donald Trump era tão competente quanto a oposição venezuelana é risível”, acrescentou Bolton mais tarde ao jornalista da CNN.
Referindo-se ao currículo declarado de Bolton de planejamento de golpes, Tapper disse que sentiu como se houvesse “outras coisas que você não está me contando”.
Bolton respondeu: “Acho... tenho certeza que sim”.
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