O jornal britânico The Times afirmou que a França adotou uma estratégia agressiva para vender seus caças de combate Mirage, além da transferência de tecnologia, para o Brasil, num negócio "que está gerando temores de uma corrida armamentista na América do Sul". Segundo o jornal, o governo brasileiro poderá ser pressionado pelo governo norte-americano, caso o equilíbrio bélico da região seja ameaçado pelo negócio. A empresa francesa Dassault Aviation espera superar os Estados Unidos e outros competidores no fornecimento de 24 de seus caças supersônicos para modernizar a Força Aérea Brasileira num negócio de cerca de US$ 680 milhões. "O esforço francês está causando preocupação em Washington, pois a aquisição por parte do Brasil dos sofisticados Mirage 2000-5 poderia afetar o delicado equilíbrio de armas na América do Sul", disse o jornal. Vizinhos nervosos "Isso vai criar problemas, eu acho que isso vai fazer vários vizinhos do Brasil ficarem nervosos" disse Michael Shifter, vice-presidente do Instituto de Diálogo Interamericano. "Isso vai deixar os chilenos nervosos, poderia até tornar a Argentina um pouco insatisfeita. Essa aquisição aumenta a possibilidade de a questão geopolítica tornar-se novamente proeminente na região." O jornal ressaltou que há três anos o governo dos Estados Unidos suspendeu um embargo de exportação de armamentos norte-americanos sofisticados para a América Latina, mas desde então não foram vendidas aeronaves avançadas, com exceção da recente encomenda feita pelo Chile de caças F-16, que são menos sofisticados do que os Mirage. Sem escrúpulos O Brasil incluiu a transferência de tecnologia como uma das condições de contrato, que também é disputado pelas empresas norte-americanas Boeing e Lockheed-Martin. "Por razões políticas, Washington insistiria que nem os F16 da Lockheed nem os F18 da Boeing viessem com o sistema eletrônico avançadíssimo da Mirage, dizem os especialistas americanos", afirmou o jornal. Segundo o The Times, as empresas francesas não são limitadas "por escrúpulos governamentais desse tipo". Os franceses, segue o jornal, têm uma grande vantagem, pois a Dassault se associou à Embraer para importar a tecnologia francesa para construir o Mirage 2000 modernizado, um tipo de aeronave que já serviu na Guerra do Golfo, na Bósnia e em Kosovo. Drogas A Embraer tem dito que necessita a tecnologia francesa para competir pelo contrato das aeronaves, que são consideradas pelo governo brasileiro como um fator vital, para entre outras coisas, combater a crescente ameaça das rotas aéreas do tráfico de drogas. A Dassault integra um consórcio com três outras empresas francesas que controla 20% da Embraer. O jornal disse que os norte-americanos estão particularmente preocupados com os planos da Embraer de exportar Mirage fabricados no Brasil para outros países. Muitos países do Terceiro Mundo estão buscando susbstituições para a sua velhas frotas de Mirage, os russos MiG-21 e os F5. O ministério das Relações Exteriores da França disse ao diário britânico que apóia completamente a Dassault na sua operação de vendas. "O governo brasileiro deve enfrentar pressão diplomática de Washington para detê-lo de um passo que poderia desestabilizar a equação estratégica da região", disse o jornal. "Entretanto, a ação brasileira é vista como fundamental para as suas ambições de aumentar sua influência regional."
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