PUBLICIDADE

Jornalista da TV russa que protestou contra a guerra em transmissão ao vivo é multada e liberada

Produtora da emissora estatal Canal 1, Marina Ovsiannikova protestou durante jornal noturno, denunciando a ‘propaganda’ de Moscou sobre o conflito

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:


MOSCOU - Uma editora da televisão estatal russa que interrompeu um programa de notícias ao vivo protestando contra a guerra na Ucrânia foi condenada nesta terça-feira, 15, a pagar uma multa por um tribunal russo.

PUBLICIDADE

Marina Ovsyannikova, funcionária do Canal 1, entrou no estúdio durante o noticiário da noite de segunda-feira com um cartaz dizendo “sem guerra” e “eles estão mentindo para vocês”. Em um vídeo gravado antes de sua ação, Ovsyannikova disse que seu pai é ucraniano e sua mãe russa. Ela exortou os russos a se juntarem aos protestos contra a guerra e disse que “a Rússia é o país agressor e uma pessoa, Vladimir Putin, é a única responsável por essa agressão”.

Ovsyannikova passou a noite sob custódia policial, e o Tribunal Distrital de Ostankino de Moscou ordenou que ela pague uma multa de 30.000 rublos (cerca de R$ 1.390) pela acusação de organizar ações não sancionadas e por sua convocação para participar de manifestações contra a guerra.

Marina Ovsyannikova fala com a imprensa após deixar tribunal em Moscou  Foto: AFP


Ela disse à imprensa que foi interrogada pelas autoridades por mais de 14 horas e não teve direito a aconselhamento jurídico.

“Foram realmente dias muito difíceis da minha vida. Eu literalmente passei dois dias sem dormir. O interrogatório durou mais de 14 horas, não tive permissão para entrar em contato com meus parentes ou amigos, não tive assistência jurídica. Então, estou em uma posição bastante difícil”, afirmou Ovsyannikova à imprensa após a audiência no tribunal.

Prisão

O Comitê Investigador, a principal agência estatal de investigações, também está estudando se a acusará de divulgar informação falsa sobre as Forças Armadas russas, como base em uma lei aprovada em 25 de fevereiro, no dia seguinte à invasão da Ucrânia. Se for condenada, Ovsyannikova pode pegar até 15 anos de prisão.

Questionado sobre a ação da funcionária de TV estatal, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que era um ato de “perturbação da paz” e interferir com uma transmissão ao vivo era um delito grave.

Publicidade

O governo russo fez um grande esforço para impedir que as fontes de informação independentes sobre a guerra cheguem aos russos. Ele bloqueou o serviço russo da BBC, a Voz da América financiada pelo governo americano, a Radio Free Europe/Radio Liberty e a alemã Deutsche Welle. Também bloqueou Twitter e Facebook e proibiu o Instagram, que qualificou de “extremista”.


O protesto da jornalista foi saudado em todo o mundo como um ato de resistência. O presidente ucraniano Volodmir Zelenski agradeceu pessoalmente “a mulher que entrou no estúdio do Channel One” em uma de suas atualizações regulares de vídeo para a nação, postadas no Telegram.

O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que a França está oferecendo proteção da embaixada francesa e asilo à ativista antiguerra. Macron condenou qualquer detenção de jornalistas e espera que a situação de Ovsiannikova seja esclarecida “o mais rápido possível”.

James Cleverly, um ministro júnior do Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido, disse à BBC nesta terça-feira que o país estava “preocupado” com sua segurança. “Esses atos de desafio dentro da Rússia... são incrivelmente importantes”, disse ele. “Isso mostra um enorme grau de bravura para esses indivíduos protestarem no que é, sabemos, um estado autoritário opressivo.”

“É muito importante que o povo russo entenda o que está sendo feito em seu nome”, disse Cleverly.

Kira Yarmish, porta-voz do líder da oposição russa preso Alexei Navalny, elogiou Ovsiannikova, compartilhando o vídeo em sua conta no Twitter.

Milhares de pessoas que se manifestaram contra o conflito foram presas na Rússia, de acordo com a OVD-Info, que diz que a invasão e suas consequências “mudou irrevogavelmente” a sociedade russa./ W. POST, EFE e AP

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.