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Jovem de 26 anos desarma atirador e impede nova chacina após morte de 11 perto de Los Angeles

Após massacre, Huu Can Tran foi encontrado morto com um tiro autoinfligido em uma van a cerca de 50 quilômetros de distância da cidade de Monterey Park, na Califórnia

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Por Victoria Kim
Atualização:

A noite de sábado estava terminando no Lai Lai Ballroom & Studio, faltando menos de meia hora para o fechamento. Restavam três pessoas na espaçosa pista de dança. Brandon Tsay, o operador de terceira geração do salão de dança familiar em Alhambra, estava no escritório ao lado do saguão, observando a pista, quando ouviu as portas da frente se fecharem e um estranho barulho que soava como objetos metálicos batendo uns nos outros. Ele se virou e viu uma pistola de assalto semiautomática apontada para ele.

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“Ele estava olhando para mim e olhando em volta, sem esconder que estava tentando fazer mal. Seus olhos eram ameaçadores”, lembrou Tsay, 26 anos, na casa de sua família em San Marino no domingo, menos de 24 horas depois de encarar um atirador que, sem que ele soubesse, abriu fogo em outro estúdio de dança próximo, matando 10 pessoas e ferindo vários outros em um dos piores ataques a tiros em massa da Califórnia. Nesta segunda-feira, a polícia divulgou que o número de mortos subiu para 11 após a morte, no hospital, de uma pessoa que não resistiu aos ferimentos.

Cerca de 20 minutos depois do massacre, o atirador, que as autoridades identificaram como Huu Can Tran, 72 anos, chegou a Lai Lai, cerca de três quilômetros ao norte, disseram as autoridades.

Tsay lutou com o atirador e acabou o desarmando, salvando inúmeras vidas e evitando outra tragédia. Foi um ato que as autoridades elogiaram como heroico.

Brandon Tsay conta, em sua casa em San Marino, como foi enfrentar o atirador Huu Can Tran Foto: Mark Abramson/The New York Times

Tran foi encontrado morto na tarde de domingo com um tiro autoinfligido em uma van a cerca de 50 quilômetros de distância, de acordo com policiais. Tsay disse que a arma que o atirador carregava indicava que ele pretendia infligir dano máximo.

“Como ela foi construída e customizada, eu sabia que não era para roubar dinheiro”, disse Tsay sobre a arma. “Pela sua linguagem corporal, sua expressão facial, seus olhos, ele estava procurando por pessoas.”

O xerife Robert Luna, do condado de Los Angeles, disse em uma entrevista coletiva na tarde de domingo que “dois membros da comunidade” desarmaram o atirador no estúdio em Alhambra. “Poderia ter sido muito pior”, disse ele.

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Porém, Tsay e sua família, que revisaram as imagens da câmera de segurança do saguão do salão de dança, disseram que foi ele sozinho quem lutou contra o atirador pelo controle da arma e a arrancou dele. As portas do local estavam fechadas e ninguém mais estava envolvido, disseram eles. Na noite desta segunda-feira, a rede de TV NBC News divulgou as imagens das câmeras de segurança.

“Era só meu filho. Ele poderia ter morrido”, disse seu pai, Tom Tsay, que disse estar orgulhoso de seu filho pela bravura que ele demonstrou. “Ele tem sorte, alguém estava cuidando dele.”

Sua irmã mais velha, Brenda, que atualmente administra o negócio, disse que o vídeo mostrava uma luta feroz e prolongada entre os dois homens por todo o saguão. “Ele continuou vindo até ele, ele realmente queria a arma de volta”, disse ela sobre o atirador.

Atirador de 72 anos deixou 10 mortos em um dos piores massacres da Califórnia Foto: EFE/EPA/CAROLINE BREHMAN

Jovem nunca havia visto uma arma de verdade

O jovem Tsay, um programador que cuida da bilheteria alguns dias por semana no salão de dança fundado por seus avós, disse que foi por volta das 22h35 (no horário local) de sábado que se viu em frente ao atirador, a quem não reconheceu. Ele nunca tinha visto uma arma de verdade antes, mas sabia que era uma arma mortal, disse ele. “Meu coração afundou, eu sabia que ia morrer”, disse ele.

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No momento seguinte, ele se lançou e agarrou a arma pelo cano e começou a lutar com o atirador para controlá-la. “Naquele momento, foi um instinto primitivo”, disse ele. “Algo aconteceu lá. Não sei o que deu em mim.”

Eles lutaram pelo controle da arma por cerca de um minuto e meio, e parecia que eram equivalentes em força, disse Tsay. A certa altura, o atirador olhou para a arma e tirou uma das mãos dela, como se fosse manipulá-la para começar a atirar. Tsay disse que aproveitou o momento e tirou a pistola do homem. Ele apontou a arma de volta para ele e gritou: “vai, sai daqui”, lembrou.

Tsay, que ficou acordado a noite toda auxiliando a polícia na investigação, disse que se sentiu traumatizado e não conseguiu processar o que havia passado. Ele se sentiu particularmente desolado pela comunidade de Monterey Park e arredores, onde sua família e seu salão de dança se estabeleceram como um refúgio amado por três décadas, disse ele.

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“Lai Lai”, um nome escolhido por sua avó, significa “vem, vem”, em chinês, disse sua irmã. O agressor, vestido de preto, parecia que poderia facilmente ser um de seus frequentadores, disse ele. “Temos uma comunidade tão unida de dançarinos”, disse ele. “É tão terrível que algo assim tenha acontecido, que um de nossos indivíduos tente prejudicar os outros.”

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