Enquanto celebra o mais longo reinado de sua história, o Reino Unido se prepara para a sucessão no trono. O Jubileu de Platina da rainha Elizabeth II, cujas festividades para marcar os 70 anos de regência começam nesta quinta-feira, 2, tem exposto o protagonismo não de um, mas de dois herdeiros que têm sido preparados para assumir o trono.
O príncipe Charles, de 73 anos, e o príncipe William, de 39, primeiro e segundo na linha de sucessão, têm assumido a dianteira de alguns dos principais eventos, assim como já vinham desempenhando funções públicas importantes da coroa nos anos mais recentes.
“Pai e filho precisarão estar intimamente alinhados nos próximos meses e anos, pois Charles será, um dia, um rei de curto prazo, mantendo o trono aquecido para William”, escreveu o ex-correspondente e comentarista sobre o tema da BBC Peter Hunt em seu Twitter.
O Jubileu de Platina da rainha Elizabeth II
Para Hunt, essa é a nova realidade para a monarquia britânica, agora que a rainha, com 96 anos, têm enfrentado sérios “problemas de mobilidade”, como definiu o Palácio de Buckingham.
“Enquanto um futuro rei Charles acelera seu treinamento, como ao proferir o discurso da rainha, outro futuro rei, William, observa o que o espera”, escreveu. O especialista se referia ao discurso proferido por Charles na abertura do Parlamento, no dia 10 de maio, uma das tarefas mais importantes da rainha.
No sábado, o príncipe William foi o centro das atenções no treino de inspeção da Guarda Irlandesa, um regimento de infantaria irlandês que faz parte do Exército britânico. O treino foi uma preparação para a cerimônia Trooping the Colour, que abre as festividades do jubileu nesta quinta-feira. Não está confirmado se a rainha assistirá à parada militar.
A rainha Elizabeth alcançou a marca de sete décadas no trono em fevereiro e dois feriados foram reservados para criar um fim de semana de quatro dias para eventos nacionais de comemoração, entre esta quinta-feira e domingo. Não está claro em quantos deles a monarca comparecerá em razão de seu problema de saúde. Autoridades reais dizem que sua participação será decidida no dia.
A transição sutil ilustra os desafios enfrentados pela família real enquanto a rainha permanece no trono, mas Charles se torna cada vez mais a face pública da monarquia. Enquanto prepara o jubileu, a realeza trabalha para consolidar a posição de um herdeiro às vezes incompreendido e demonstrar que a Casa de Windsor continuará viva.
“Charles e Camilla (sua mulher) são um ponto de interrogação para o futuro quando se trata da monarquia”, disse Robert Lacey, historiador da realeza e conselheiro da série da Netflix The Crown. Charles passou as últimas três décadas tentando superar as consequências do fim de seu casamento com a altamente popular princesa Diana.
Levou anos para que muitos britânicos perdoassem Charles, cuja infidelidade admitida e ligações de longa data com Camilla Parker Bowles torpedearam seu relacionamento com Diana, conhecida como “Princesa do Povo” por sua capacidade de se conectar com o público de uma maneira que seu marido nunca conseguiu.
Grande desafio
A glamorosa jovem mãe do príncipe William e do príncipe Harry morreu em um acidente de carro em Paris em 1997, cinco anos depois de se separar de Charles. Mas o clima do público melhorou desde que Charles se casou com Camilla em 2005.
“Não estamos no estado que pensávamos estar há 20 anos, quando a perspectiva de Charles subir ao trono parecia um grande desafio. E acho que pode-se dizer que a monarquia pode contar hoje mais fortemente com o afeto dos britânicos, diferente do que ocorreu por muitas décadas”, disse Lacey à agência Associated Press.
Muito disso se deve a Elizabeth, que em seu aniversário de 21 anos prometeu servir ao Reino Unido e à Commonwealth por toda a vida. A rainha mostra toda a intenção de cumprir essa promessa.
Em um artigo publicado pelo jornal britânico The Guardian, o historiador da monarquia moderna Ed Owens afirma que a monarquia britânica tem de enfrentar algumas questões difíceis sobre o que vem a seguir. Segundo ele, a palavra “abdicação” tem sido um tabu na Casa de Windsor desde que o rei Eduardo VIII desistiu do trono em 1936 para se casar com a mulher que amava.
O historiador explica que, ao longo de mais de 70 anos, a rainha construiu cuidadosamente uma imagem como principal servidor público do país em um contraste direto ao abandono de seu tio.
“Outras famílias reais europeias adotaram a abdicação como uma maneira positiva de passar as responsabilidades da monarquia para a próxima geração. Na Holanda, Bélgica e Espanha, a abdicação significou reinvenção”, escreveu Owens em seu artigo.
No Reino Unido, a situação tem sido diferente. Em vez de abdicar, a rainha procurou retirar-se sutilmente de seus deveres públicos. Ao longo da última década, investiduras honrosas, viagens reais e outras tarefas da rotina da monarca foram delegadas a membros de sua família, principalmente a Charles e a William. Agora, a retirada da vida pública foi acelerada por problemas médicos.
“Podemos esperar ver cada vez mais o príncipe Charles e cada vez menos a rainha Elizabeth, à medida que um reinado chega ao fim e um novo reinado começa”, escreveu Owens.
Eventos
Sexta-feira haverá um serviço de ação de graças na Catedral St Paul, em Londres, enquanto no sábado a rainha deve participar da corrida de cavalos Derby com outros membros da família. Mais tarde, haverá um show do lado de fora do Palácio de Buckingham, com o grupo de rock Queen, a banda pop Duran Duran e a cantora americana Diana Ross. As comemorações terminarão no domingo, com festas de rua e um desfile pela capital britânica. /AP, REUTERS, W.POST e NYT
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